postado em 01/12/2009 07:10
O Cruzeiro, uma das cidades mais antigas e tradicionais do Distrito Federal, comemorou o histórico aniversário de 50 anos com uma festa tímida. ;Fica o sentimento de que merecíamos algo melhor; mas temos que entender a situação;, resigna-se o comerciante Anderson Araújo Paiva, 54 anos, que foi ao Ginásio de Esportes da cidade para presenciar o corte do bolo de 50 metros. ;Não tem ninguém aqui. Era a nossa oportunidade de pedir melhorias para o Cruzeiro, mas ninguém vai nos ouvir agora;, completa ele. A ausência de autoridades foi sentida pela população, que compareceu em número reduzido à cerimônia, realizada em um feriado. Quem foi, se dividiu entre a esperança e o protesto. A festa começou com apresentações de dança do ventre e ginástica artística com atletas locais. Nas arquibancadas, o público mal chegava a 50 pessoas. Quase todos eram parentes de quem se apresentava. ;Eu vim ver minha sobrinha, que é meu orgulho. Fico triste que não tenha mais gente para vê-la, nem para saudar o Cruzeiro;, lamentou o mecânico Andres Teixeira, 39. ;Espero que esta festa não seja o prenúncio de um futuro ruim para nós, para a cidade;, completou.
As apresentações começaram pouco depois das 10h da manhã e incluíram ainda um número de Bumba meu Boi ensaiado na Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro (Aruc). A escola de samba enviou ainda membros de sua bateria para ajudarem na hora de cantar os parabéns. A demora no corte do bolo, porém, provocou alguns protestos nas arquibancadas.
A organização do evento atrasou o parabéns para participar ao vivo de um programa de televisão. Quase 13h, diante da impaciência, o bolo foi cortado. Dona Ivone Eduardo, 78, a primeira moradora do Cruzeiro, que esperava em pé pelo momento de cortar o primeiro pedaço, já mostrava sinais de cansaço. ;Nem parece uma festa;, reclamou ela. Muitos moradores levaram bacias para encher com a massa, coberta de coco ralado e confeitos. ;Tem muito bolo para pouca gente. Vou aproveitar e garantir a festa lá em casa também;, comentou a costureira Aneliza Fernandes, 33.
Constrangimento
O administrador do Cruzeiro, Zenóbio Rocha, esperava, até a semana passada, uma grande festa, com a presença do governador José Roberto Arruda e da população em peso. Ele ficou visivelmente constrangido com a situação, mas participou de toda a festa e atendeu vários moradores. ;Falei com ele e reclamei que a cidade está feia, suja, com muito mato. Ele disse que vai fazer o possível, que já está cuidando disso;, contou o aposentado Reinaldo Amorim, 68. ;Quero que ele abra este ginásio para a população. São muito poucas atividades e falta lazer no Cruzeiro;, pediu ainda a enfermeira Andrea Zibuti, 39, que tem dois filhos entrando na adolescência.
Outro evento previsto para ontem, o projeto Cultura nas Cidades, que organiza shows gratuitos fora do Plano Piloto, foi adiado para o próximo sábado, dia 5. Para a mesma data, está marcado o II Festival de Ginástica Rítmica 50 anos do Cruzeiro no ginásio da cidade. No dia seguinte, uma corrida com percursos de 5 km e 10 km fecha as comemorações. ;Espero que a corrida não seja adiada nem cancelada, porque já ouvi dizer isso. Fiz minha inscrição e estou treinando. Comecei há pouco tempo a participar de competições e estou confiante. Penso até em chegar na frente e conseguir algum prêmio;, prevê o bancário Renan Carvalho da Silveira, 28. As inscrições podem ser feitas até o dia 3 e há prêmios para os três primeiros colocados em cada categoria: masculino e feminino e percurso de cinco ou dez quilômetros. A principal categoria vai pagar R$ 800 aos vencedores.
"Fica o sentimento de que merecíamos algo melhor mas temos que entender a situação"
Anderson Araújo Paiva 54 anos, comerciante