Rodolfo Borges
postado em 04/12/2009 10:06
Já dura três dias a ocupação da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) por manifestantes, inciada na última quarta-feira. Cerca de 50 pessoas dormiram no local. Os participantes do protesto devem ficar na CLDF até pelo menos a próxima terça-feira, quando ; se os distritais aparecerem ; nova sessão deve ocorrer. Uma vigília com centenas de velas marcaram o tom na segunda noite de protestos. Os ocupantes pedem a saída do governador José Roberto Arruda (DEM) e de todos os parlamentares citados no escândalo do suposto esquema de propina no GDF. A vigília teve início por volta das 20h30, na área externa à CLDF. Acenderam velas ; formando a inscrição Fora, Arruda e PO ;, fizeram um cortejo fúnebre com o caixão e se revezaram ao microfone, tratando não apenas do suposto esquema de corrupção. Houve falas sobre Setor Noroeste, Plano Diretor de Ordenamento Territorial (Pdot), passe livre e até mudanças climáticas.
[SAIBAMAIS]À tarde, os manifestantes haviam ensaiado um acordo com os distritais e chegaram a sair do plenário para a abertura da sessão legislativa. A maioria dos deputados, porém, não compareceu e não houve atividades. Vazio, o espaço de votações foi novamente invadido por dezenas de participantes do movimento.
Meio-termo
Houve tensão durante a manhã com o boato de que a Mesa-Diretora da Câmara estaria se movimentando para pedir na Justiça a reintegração de posse do plenário. Em reunião com o presidente interino da Casa, Cabo Patrício (PT), no meio do dia, uma comissão do movimento ouviu que o pedido já estava pronto, mas ainda não havia sido entregue ao Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT).
Patrício pediu aos manifestantes que desocupassem definitivamente o espaço de votações, mas, diante da negativa, propôs um meio-termo. ;Ele pediu que saíssemos para que ocorresse a sessão e garantiu que não nos seria negada a volta logo após o fim. E, como a próxima sessão está prevista só para a terça-feira, teríamos quatro dias para consolidar e fortalecer o movimento;, explicou Luisa Oliveira, 20 anos, estudante de ciências sociais da UnB, que participou do encontro.
Limpeza da área
Em nova assembleia, a proposta foi aprovada rapidamente. Ao sair, os manifestantes limparam o plenário e tiraram do recinto pertences, lanches, cartazes e um caixão. Por sinal, a urna ; que pertencente do Diretório Central dos Estudantes da UnB ; é a mesma usada para forçar as portas da reitoria da UnB, na ocupação do ano passado que resultou na saída do então reitor, Timothy Mulholand.
A ausência dos deputados em plenário deixou a manifestação ainda mais coesa e decidida. ;Tínhamos um acordo para instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) com 22 assinaturas. Hoje, infelizmente, todo mundo sumiu;, observou o deputado Paulo Tadeu (PT). Só compareceram ao plenário os quatro representantes do PT e Antônio Reguffe (PDT). Milton Barbosa (PSDB), irmão do pivô da crise política, Durval Barbosa, também esteve na Câmara, mas não foi ao plenário. ;Ontem (quarta-feira), houve um almoço na residência do governador com boa parte da base aliada. É claro que isso teve a ver com o que aconteceu hoje;, complementou Tadeu. Segundo Cabo Patrício, os distritais da situação afirmaram não haver segurança para a realização de sessões.
Na terça-feira, haverá nova tentativa de aprovar a criação da CPI. Até lá, porém, os manifestantes prometem continuar o movimento na Câmara e atrair mais público para o protesto. O presidente em exercício afirmou que não tem sentido pedir a reintegração de posse antes dessa provável sessão. A ocupação é formada por estudantes, a maioria da Universidade de Brasília, membros de movimentos sociais e partidos de esquerda.