postado em 05/12/2009 07:49
Depois de mais de três meses à frente das investigações do triplo assassinato na 113 Sul (1), a delegada Martha Vargas tomou uma decisão que surpreendeu a cúpula da Polícia Civil. A chefe da 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) pediu para sair daquele que muitos de seus colegas de corporação consideram o maior caso já investigado por ela em mais de duas décadas de trabalho. Os motivos até agora não são de conhecimento público. Nem ela nem a direção da polícia quis falar sobre o que determinou a saída "espontânea" da policial.
[SAIBAMAIS]Apesar de a Direção da Polícia Civil não comentar o assunto - embora não tenha negado a saída dela -, fontes ouvidas pelo Correio disseram que a decisão de Martha surgiu em meio a um conflito com os outros representantes da chamada força-tarefa, que é composta pela Divisão de Repressão a Roubos (DRR), pela Coordenação de Investigação dos Crimes Contra a Vida (Cordvida) e pela Corregedoria-Geral da Polícia Civil.
O relacionamento de Martha com os outros policiais estava desgastado. Ela queria dar continuidade às apurações das mortes de José Guilherme Villela, Maria Carvalho Mendes Villela e Francisca Nascimento da Silva. Mas os outros delegados das duas unidades policiais e o corregedor Luiz Andriano Guerra Pouso preferiram começar o trabalho da estaca zero. Muitos depoimentos e diligências tiveram de ser repetidos.
No entanto, o que de fato pôs o fim à colaboração de Martha no caso Villela foi justamente a liberdade concedida a três dos principais acusados de participar do crime. A delegada tentou mantê-los na prisão, apresentando depoimentos de testemunhas que afirmam reconhecê-los como frequentadores da quadra onde as vítimas moravam. Além disso, mencionou o fato de a chave que abre portas no apartamento onde o casal e a empregada moravam estar com eles. Mas nem assim o corregedor Andriano quis defendê-la perante o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios e o Tribunal do Júri de Brasília, que acompanham o desdobramento do caso.
Martha teria tomado a decisão de sair das investigações do triplo homicídio na quinta-feira, após uma reunião da força-tarefa no Departamento de Polícia Especializada (DPE). Ela teria chegado ao ponto de alterar a voz e perder a compostura com os colegas policiais. Em seguida, teria ligado para o diretor da Polícia Civil, Cléber Monteiro. O teor da conversa não foi divulgado. Mas parece não ter surtido resultado satisfatório para dissuadi-la da decisão. "Tudo ela tinha de submeter à comissão. Martha perdeu a liberdade", comentou uma fonte da polícia, que pediu para não se identificar.
A saída da delegada ainda não foi aceita pela cúpula da Polícia Civil. Segundo informações de bastidores, o corregedor Luiz Andriano pediu para o diretor de Polícia Circunscricional (DPC), André Victor do Espírito Santo, interromper as férias para ajudar a convencer Martha a continuar no caso. Procurado pelo Correio, André Victor não atendeu às ligações da reportagem.
Mais dois livres
Um dia após Cláudio José de Azevedo Brandão, 38 anos, sair da prisão, a Justiça concedeu liberdade também para outros dois suspeitos de envolvimento no caso Villela. Alex Peterson Soares, 23, e seu colega de quarto Rami Jalau Kaloult, 28, deixaram a carceragem do DPE ontem à tarde. Eles passaram mais de 30 dias na cadeia e foram liberados porque a Justiça não concedeu a prorrogação da prisão temporária. Os parentes de Alex o receberam com um churrasco no Núcleo Bandeirante. O irmão mais velho dele, que pediu para não ser identificado, disse que pretende processar a polícia caso não seja comprovada a participação dele no crime.
Embora tenham sido liberados, Cláudio, Alex e Rami continuaram alvos da investigação policial que apura o triplo homicídio na 113 Sul. A polícia quer saber como a chave do apartamento onde moravam as vítimas foi parar na casa onde reside Alex e Rami. Cláudio também mora no mesmo lote, situado na Vila São José, em Vicente Pires.
1- 73 facadas
O casal José Guilherme Villela, 73 anos, e Maria Carvalho Mendes Villela, 69, e a empregada da família Francisca Nascimento da Silva, 58, foram assassinados em 28 de agosto último, no apartamento unificado 601/602 do Bloco C da 113 Sul. Os três levaram 73 facadas.