Naira Trindade
postado em 07/12/2009 08:17
Angústia, tristeza, estresse. A depressão causada pela morte de um ente querido ou o cansaço de um dia inteiro de trabalho. A solidão ao chegar em um apartamento vazio, onde a única companhia, é a voz que ressoa da televisão. A perda do emprego, uma inevitável discussão com o chefe ou a conta bancária no vermelho. Qualquer sinal de desespero pode ser minimizado com um simples telefonema ao Centro de Valorização da Vida (CVV). Em comemoração às três décadas de apoio no Distrito Federal, a instituição que se mantém apenas com a ajuda de voluntários plantou nesta semana 30 mudas de ipês brancos e amarelos no Instituto de Saúde Mental do Riacho Fundo.
Sentado num pequeno sofá azul em uma salinha modesta na sede do Centro, no edifício Brasília Rádio Center, na Asa Norte, o voluntário Rúbio*, 42 anos, doa quatro horas por semana, à noite, para ajudar pessoas com um diálogo amigável e receptivo. Em conversas na qual não dá conselhos, mas busca fazer com que a pessoa encontre sozinha a solução para o problema que a aflige, ele ouve atentamente cada caso. "Ao falarem das dificuldades, as pessoas pensam melhor sobre o que está acontecendo e, sozinhas, se deparam com a solução", analisa o voluntário , que está no CVV há 20 anos.
O sigilo profissional o impede de descrever os casos ouvidos, mas ele conta que já ajudou nas mais complicadas situações, como impedir pessoas de cometerem suicídio. Das cerca de 1,8 mil ligações que o centro recebeu por mês no período de março a outubro, 500 foram atendimentos de apoio. O restante se divide entre enganos, recados e chamadas não completadas. Nesse período do ano, próximo aos festejos natalinos, o número de casos aumenta. "As ligações tendem a crescer nas datas comemorativas como Dia das Mães, dos Pais, Natal. Acho que as pessoas se sentem mais carentes nesses períodos", esclarece Rúbio.
O perfil das ligações brasilienses ao Centro de Valorização da Vida também chama a atenção do voluntário que trabalhou 12 anos no CVV de Goiânia antes de se mudar para capital federal, há oito anos. "Os moradores do DF reclamam muito de solidão. Essas pessoas se sentem muito carentes e sozinhas na sociedade em que vivem", explica Rúbio, que é professor de letras do Governo do Distrito Federal.
A capacitação teórica humanista que os 57 voluntários de Brasília recebem antes de trabalharem no serviço voluntário é obtida por meio de cursos oferecidos gratuitamente todos os anos. "Quando o interessado decide ser voluntário, o CVV dá um curso de dois meses para que ele aprenda como se deve lidar com as pessoas que nos ligam. Durante o curso, é verificado se o interessado tem o perfil para ajudar. Já teve casos em que o interessado não tinha esse perfil", explica Rúbio.
Além de doar tempo e atenção, os voluntários precisam auxiliar também nas despesas do CVV, que atualmente não conta com nenhuma ajuda governamental nem empresarial. Cada um tira do bolso a quantia que pode para pagar as taxas de condomínio e gastos de manutenção. "O valor mínimo é R$ 20, mas quem pode dá mais". Os voluntários também cedem 8 horas a cada 15 dias para o plantão noturno, pois o atendimento é feito 24 horas por dia. Mas, segundo Rúbio, a satisfação não tem preço. Nem as horas doadas à espera de ligação nem o dinheiro investido no Centro têm tanto valor quanto a satisfação obtida ao ajudar uma pessoa a valorizar a vida.
*Nome fictício para preservar o anonimato do trabalho voluntário
Alô amigo
O CVV foi criado no Brasil em 1962 e hoje funciona em 41 postos distribuídos no país. Eles funcionam 24 horas por dia, por telefone. O atendimento também é feito por carta, e-mail ou pessoalmente. O trabalho dos voluntários não pode ser considerado uma terapia. Ele funciona como apoio emocional, baseado na oferta de atenção e calor humano.
O número
141
Número nacional do telefone do Centro de Valorização da Vida