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Empresários constatam que modelo de lojas outlet é rentável em Brasília

Em espaço destinado a pontas de estoque, produtos de marca são vendidos a preços bem menores. O consumidor descobre que é possível usufruir das grifes sem maltratar o bolso

postado em 09/12/2009 08:23
O varejo de Brasília descobriu o poder do modelo de lojas outlet (1), uma febre em países da Europa e nos Estados Unidos. Aos poucos, grandes marcas percebem esse nicho de mercado e inauguram espaços destinados à ponta de estoque. Ao contrário do que muita gente pensa, as lojas com promoções o ano inteiro não vendem produtos falsificados ou com defeito, mas, sim, peças de coleções antigas que não saíram das prateleiras. Para acabar com o estoque, os descontos chegam a 80%.

A empresária Gisele Castelo Branco já se tornou uma cliente cativa das lojas de ponta de estoqueAs outlets atraem quem prioriza preço, sem deixar de lado a qualidade do produto. O consumidor não encontra lançamentos nessas lojas e não é fácil achar todas as opções de tamanhos e cores de determinado modelo. Mas há a certeza de pagar menos. É a oportunidade de comprar produtos de marca, mesmo que não sejam os da moda, por valores mais acessíveis. O cliente das pontas de estoque gasta mais tempo na loja e quase sempre leva mais de uma peça.

Pelo menos quatro marcas de roupas e calçados possuem outlets no Distrito Federal. As primeiras experiências começaram no início dos anos 2000. O presidente do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindvarejista-DF), Antônio Augusto de Morais, diz que o varejo está de olho no desempenho dessas lojas. ;É uma tendência de mercado. Com o tempo, todos os segmentos vão acabar criando um setor específico para peças promocionais;, prevê ele, dono da Free Corner, que há dois anos abriu uma loja outlet na 308 Sul.

Faturamento
A rede de calçados possui oito lojas no DF. A ideia de transformar uma delas em ponta de estoque surgiu após prejuízos com produtos que não saiam das prateleiras. Antes, para tentar acabar com esse estoque, eram lançadas duas grandes promoções por ano. Mas liquidação alguma se mostrou tão eficiente quanto o modelo outlet. ;Estamos faturando mais do que as lojas tradicionais da rede, que vendem lançamentos;, conta o gerente da Free Corner da 308 Sul, Ismael Cardoso.

Semanas após a inauguração da loja, ainda não havia muita segurança de que o negócio pudesse dar certo. De um ano para cá, no entanto, garante o gerente, o movimento não para de crescer. Nos últimos 12 meses, sem citar números absolutos, ele calcula um aumento de 30% no faturamento. ;Há um ano, ninguém conhecia a loja. Hoje, é um entra e sai constante de clientes;, diz Cardoso. Um tênis da Nike, vendido anteriormente por R$ 559, custa R$ 229 na outlet, sem defeitos. ;Não é porque saiu de linha que perdeu validade;, completa.

A TNG, loja de moda masculina e feminina, tem cinco unidades no DF. A do Alameda Shopping virou outlet em julho deste ano. De acordo com o subgerente Vanralen Teixeira de Carvalho, o cliente que antes levava uma peça, hoje leva três. Nessa primeira semana de dezembro, o faturamento teve um salto de 59% em relação ao mesmo período do ano anterior. ;Já estamos encostando na rentabilidade das outras lojas. Aqui, a pessoa chega querendo levar uma calça de R$ 100, olha o preço mais baixo e acaba comprando duas;, diz.

Não importa que a coleção não seja a do verão 2010. A empresária Gisele Castelo Branco, 31, vasculhou a loja e levou quatro peças por R$ 200. ;Agora, todo mundo pode ter roupa de marca. É muito bom poder pagar menos pelo mesmo produto;, comenta a cliente cativa da loja onde, neste fim de ano, 70% das peças estão custando R$ 39,90 ; a maioria camisetas e bermudas. Há também sapatos, que antes custavam R$ 139,90 e camisas polo, com preço antigo de R$ 119,90. Em um dia, 100 peças saem fácil da TNG outlet.

A Ellus, que também vende roupas para homens e mulheres, inaugurou a loja outlet no Taguatinga Shopping quatro anos atrás, cujo estoque é abastecido pelas outras duas lojas da marca no DF. ;Venceu a coleção, os produtos seguem para Taguatinga;, explica o gerente Elder Carneiro. O preço chega a cair pela metade. Uma calça jeans de R$ 439, por exemplo, passa a custar R$ 229. ;Muita gente pensa que vendemos peças com defeito, isso não existe;, reforça.

1 - Saída
Hoje usada para descrever lojas ponta de estoque que têm como estratégia vender volumes elevados de mercadoria com uma margem de lucro relativamente pequena, a palavra inglesa outlet tem um sentido original mais geral e simples. Significa, a rigor, apenas saída e é usada frequentemente para descrever válvulas de escape ou saídas para substâncias mantidas sob pressão. Um filtro, um cano ou um sistema de drenagem podem, por exemplo, ser descritos como water outlets (saídas de água). Tomadas domésticas, por sua vez, são power outlets (saídas de energia).


NO EXTERIOR, UM HÁBITO ANTIGO
Os brasileiros caíram no gosto dos outlets a partir dos anos 1990. Muitos dos que viajam a Europa e aos Estados Unidos o fazem com o intuito de comprar nas pontas de estoque. Na rede europeia Chic Outlet Shopping, que tem centros de compras perto de Paris, Londres, Barcelona e Milão, por exemplo, os brasileiros figuram no ranking das 10 nacionalidades que mais compram, além de serem os campeões de gastos em transações individuais. A rede Victor;s, presente em Orlando e Miami, oferece atendimento em português e vende Guaraná Antarctica. Fora do Brasil, os outlets são enormes shopping centers a céu aberto, com várias lojas de grandes marcas do varejo. Geralmente, ficam um pouco distante do centro das grandes metrópoles. Em Buenos Aires, na Argentina, a maioria das grifes conta com outlets concentrados na zona de Palermo. No Brasil, São Paulo é a cidade onde esse modelo mais avançou.

PALAVRA DE ESPECIALISTA
O poder das marcas é o atrativo

;O conceito formal de outlet está chegando a Brasília agora, mas a cidade já possui filosofia e público para esse modelo. Os outlets atraem clientes que não se incomodam em esperar a fase de lançamento passar para comprar mais barato. E isso não tem necessariamente a ver com o poder aquisitivo. É uma questão de perfil. Há pessoas que fazem questão da novidade, mesmo pagando mais caro. Outras aceitam levar um produto de qualidade mais barato, mesmo não sendo o da moda. O modelo funciona pelo poder das marcas. Não importa que não é mais lançamento, se a peça continua sendo da marca tal. É igual a uma Mercedes. Com 20 anos de uso, ela continuará tendo mercado. Talvez uma marca desconhecida não consiga esse êxito. O cliente que vai a um outlet não leva algo que ele não quer só por conta do preço baixo. Ele sabe que a marca é conhecida, não há esse risco.;

Bento Alves da Costa Filho, doutor em administração e mestre em finanças e marketing pela Universidade de São Paulo, professor do Ibmec de Brasília

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