>>Luiz Calcagno
>>Luísa Medeiros
>>Renato Alves
Bombas de efeito moral, cavalos, cachorros, cassetetes. A tropa de choque da Polícia Militar usou quase todo o seu arsenal para impedir os manifestantes contrários ao governador José Roberto Arruda (DEM) de chegarem à Rodoviária do Plano Piloto, na tarde desta quarta-feira (9/11). Quem ficou na frente da cavalaria apanhou muito. Os animais chegaram a pisar em estudantes deitados no asfalto.
Três manifestantes foram levados para a 5; Delegacia de Polícia (Zona Central), sob acusação de desacato. A equipe do Correio Braziliense encontrou ao menos oito pessoas feridas, com hematomas pelo corpo. Um teve o pé quebrado após ser pisoteado pela pata de um cavalo. Mas, até o momento, os hospitais públicos não registraram atendimento em função do confronto entre PMs, estudantes e sindicalistas.
Um dos detidos foi o estudante José Ricardo. Cinegrafistas, fotógrafos e repórteres presenciaram ele sendo agredido pelo coronel Silva Filho, comandante da operação. O militar o agarrou pelo pescoço e o imobilizou com uma "gravata". Manifestantes tentaram resgatá-lo, mas logo acabaram cercados pela cavalaria. Segundo familiares do rapaz, que estavam na 5; DP até as 23h desta quarta (9/12), ele passou três horas "incomunicável".
Apesar das agressões, o manifestante acabou preso por desacatar os militares, segundo os mesmos. Os parentes do garoto decidiram registrar uma ocorrência contra o coronel Silva Filho e o cabo Cássio. Em meio à confusão, o coronel disparou palavrões contra os jornalistas que o questionaram sobre as agressões. "Eu não tenho partido, lado. Meu partido aqui é a Polícia Militar", alegou, aos berros.
Às 23h30, dois dos manifestantes levados para a 5; DP foram liberados e a acusação contra eles foi retirada. O estudante José Ricardo permaneceu no Juizado Especial Criminal em audiência com o coronel do qual teria sofrido a agressão.
Pista interditada
A pancadaria na área central de Brasília durou cerca de três horas. Começou às 11h30, quando um grupo entre os 2,5 mil pessoas ; segundo estimativa da PM ; decidiu interditar o Eixo Monumental no sentido Rodoferroviária. A partir daí, a Praça do Buriti e o canteiro central da via viraram praça de guerra. Quando a cavalaria partia para cima dos manifestantes, eles corriam para o outro lado.
A tropa de choque não economizou em bombas de efeito moral e golpes de cassetete. Principalmente quando outro grupo de manifestantes começou a marchar em direção à Rodoviária do Plano Piloto. Acuados, a maioria de estudantes, eles decidiram retornar à Praça do Buriti e fechar a avenida em frente ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). Esse foi o momento mais violento.
[SAIBAMAIS]Ação truculenta
Mais uma vez, a cavalaria da PM entrou em ação e partiu para cima. Mesmo deitados, manifestantes passaram a ser golpeados por cassetetes. Um estudante foi pisoteado por cavalos. Outro rapaz, levado para o gramado, sofreu várias agressões. Os policiais usaram gás de pimenta para afastar os jornalistas que filmavam a ação. Motoristas que estavam parado no semáforo se desesperaram.
Entre os agredidos estava uma menina de 12 anos, moradora de Valparaíso (GO). Ela acompanhava a irmã no protesto e estava na calçada, em frente ao TJDFT quando acabou atingida nas pernas por cassetete. O clima continuou tenso por meia hora, enquanto manifestantes permaneciam no canteiro central do Eixo Monumental e a cavalaria fazia uma barreira para não fechararem novamente a pista.
Bope de prontidão
Segundo informações da PM, 400 policiais participam da ação. Parte do efetivo fez um cordão de isolamento em volta do Palácio do Buriti (sede oficial do governo). Soldados do Batalhão de Operações Especiais (Bope) também estavam posicionados no gramado central do Eixo Monumental, perto do Centro de Convenções Ulysses Guimarães.
Por volta das 13h30, os manifestantes decidiram se retirar da Praça do Buriti. Segundo a deputada distrital Érika Kokay (PT), que chegou ao local para intermediar as negociações entre o movimento e a polícia, três ônibus levariam os estudantes e militantes até a Rodoviária do Plano Piloto, onde fariam uma manifestação pacífica de distribuição de panfletos.
Palavra da PM
Para o chefe do Comando de Policiamento da PM, coronel Luiz Henrique Fonseca, não houve excesso de violência. "Os manifestantes quebraram o acordo e invadiram a pista, por isso houve o confronto", justifica. Segundo ele, foram usadas apenas armas não letais para controle da massa, já que era preciso desobstruir o trânsito.
Segundo o Corpo de Bombeiros, nenhum manifestante foi atendido com ferimentos. Os hospitais também não registraram nenhum atendimento de manifestantes ou policiais feridos. Até as 14h, duas faixas da via continuavam interditadas e o trânsito lento. O congestionamento, que começava no semáforo em frente ao Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), ultrapassava o Memorial JK.