Helena Mader
postado em 10/12/2009 09:54
Depois da exoneração de Augusto Carvalho, o Distrito Federal já tem um novo secretário de Saúde. Quem assume o cargo é o nefrologista Joaquim Barros Neto, que estava à frente do Hospital Regional de Taguatinga (HRT) desde agosto. Servidor da rede pública há 20 anos, Joaquim não é filiado a nenhum partido e promete acabar com o que chama de ;ingerência política; na pasta. A nomeação deve ser publicada no Diário Oficial de hoje. O desafio do novo secretário será administrar uma rede com mais de 4 mil leitos hospitalares, que realiza quase 7 milhões de atendimentos todos os anos.Joaquim Barros Neto ganhou notoriedade há dois anos, quando comandou as estratégias do governo contra o surto de febre amarela na cidade. À época, ele era subsecretário de Vigilância à Saúde e atuou em parceria com o Ministério da Saúde para conter a disseminação do vírus na capital. Ele também ocupou outros cargos de gerência: foi chefe da unidade de nefrologia antes de ser nomeado diretor da regional de saúde de Taguatinga.
Depois das denúncias de cobrança de propina por dirigentes da pasta, a estratégia do governo foi escolher um secretário com perfil técnico e sem nenhuma filiação partidária. ;Não sou político, não sigo partidos, nem tenho o rabo preso com ninguém. Estou na rede há 20 anos, tenho experiência administrativa e conheço a realidade do nosso sistema de saúde.
O principal desafio será valorizar a saúde pública;, destacou o novo secretário.
Desafogar as emergências dos grandes hospitais é um dos principais desafios da nova gestão. Para isso, a estratégia é recuperar o programa Saúde da Família(1) e investir em postos e centros próximos às casas das pessoas. ;Os prontos-socorros hoje são uma chaga aberta porque mais de 85% das pessoas atendidas não deveriam estar ali. É preciso redirecionar esse fluxo para os postos e centros de saúde;, justifica Joaquim. ;Assim, idosos, pacientes hipertensos e diabéticos, por exemplo, poderão ter acompanhamento contínuo;, acrescentou.
Denúncias
O novo secretário de Saúde disse que vai procurar o Ministério Público do Distrito Federal para propor um trabalho conjunto. ;Quero que eles me apontem tudo o que estiver errado. Também vou submeter (os contratos) às equipes jurídicas;, afirmou Joaquim. Diálogos transcritos no inquérito do Superior Tribunal de Justiça dão indícios de supostas irregularidades em contratos da Secretaria de Saúde com a empresa Uni-Repro. Como mostrou o Correio em reportagem no último sábado, as despesas com a firma são 89% superiores aos praticados no mercado.
Depois das denúncias, Augusto Carvalho deixou a Secretaria de Saúde, assim como secretário-adjunto Fernando Antunes ; presidente regional do Partido Popular Socialista. Com o escândalo, o PPS também saiu da base aliada do GDF. Joaquim Barros Neto diz que, agora, a pasta ficará isenta de influências partidárias. ;A ingerência política e interferências externas desmotivam os servidores. Temos que fazer com que os médicos tenham orgulho de estar na rede pública de saúde;, explica Joaquim.
Augusto Carvalho ficou pouco mais de 15 meses no cargo. Com a exoneração, ele reassumiu seu mandado de deputado federal. Em nota divulgada na semana passada, Augusto disse que deixou o cargo por determinação do partido. ;O pedido de exoneração também decorre da convicção política de que as irregularidades supostamente praticadas por ocupantes de cargos públicos no Distrito Federal precisam ser minuciosamente apuradas;, afirmou o ex-secretário.
1- Atenção básica
Criado há 15 anos, o programa é uma das principais estratégias do governo federal para valorizar a atenção básica. A ideia do projeto é manter equipes de profissionais como médicos, enfermeiros e dentistas nas comunidades. O foco do Programa Saúde da Família é a prevenção de doenças e o apoio à recuperação de pacientes.
Quem é Joaquim Barros Neto
# 52 anos
# Médico nefrologista
# Servidor da rede pública do Distrito Federal há 20 anos
# Natural de Fortaleza
# Formado pela Universidade Federal do Ceará
# Já dirigiu o Hospital Regional de Taguatinga e também foi subsecretário de Vigilância à Saúde
Três perguntas para o novo secretário:
# Quais áreas serão prioridade durante a sua gestão?
A meta é valorizar a saúde pública para que a população tenha atendimento de qualidade e para que os médicos tenham orgulho de trabalhar na rede. A prioridade será a atenção básica. Os prontos-socorros hoje são uma chaga aberta porque mais de 85% das pessoas atendidas não deveriam estar ali. É preciso redirecionar esse fluxo para os postos e centros de saúde.
# O que pode ser feito para melhorar a atenção básica?
É preciso investir no Programa Saúde da Família, nos postos e centros de saúde. Assim, idosos, pacientes hipertensos e diabéticos, por exemplo, poderão ter acompanhamento contínuo. Vamos obedecer os preceitos do SUS (Sistema Único de Saúde).
# O que será feito com relação aos contratos que estão sob suspeita?
Vou procurar o Ministério Público e discutir a situação da saúde. Quero que eles me apontem tudo o que estiver errado. Também vou submeter (os contratos) à nossa equipe jurídica. Tenho perfil técnico, não tenho rabo preso com ninguém e não vou apoiar nenhum tipo de ilícito.