Cidades

Crise política tira Arruda de cena e embaralha jogo eleitoral

A extensão dos danos políticos provocados pela Operação Caixa de Pandora dará o tom do quadro para o próximo ano. Com a impossibilidade do governador concorrer ao Buriti em 2010, oposição acredita no fortalecimento de novas candidaturas

Ana Maria Campos
postado em 11/12/2009 07:01
A crise que tirou o governador José Roberto Arruda da cena eleitoral embaralha totalmente as disputas de 2010 para a sucessão no Palácio do Buriti. A extensão dos danos políticos provocados pela Operação Caixa de Pandora dará o tom do quadro para o próximo ano. Muita gente ainda espera a conclusão das investigações para avaliar se o vice-governador Paulo Octávio (DEM) e o ex-governador Joaquim Roriz (PSC), direta ou indiretamente citados nas denúncias feitas pelo ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa, conseguirão herdar o espólio eleitoral de Arruda. A expectativa da oposição é de que os dois perderão muito a longo prazo o que, por consequência, fortalecerá as candidaturas de políticos adversários ao atual governo. Em tese, Roriz e Paulo Octávio seriam beneficiados com a derrocada do governador, que agora perde a possibilidade de concorrer à reeleição. Paulo Octávio ganha a chance de se candidatar ao Executivo, pondo em prática um desejo antigo, registrado num acordo com Arruda em 2006 e desfeito oficialmente poucos dias antes da ação policial de busca e apreensão em vários endereços de governistas e até na Residência Oficial de Águas Claras, ocorrida há duas semanas. Mas também se prejudicou com a citação de seu nome em conversas gravadas e com a imagem do principal executivo de suas empresas, Marcelo Carvalho, recebendo dinheiro de Durval. Num dos vídeos, o policial aposentado Marcelo Toledo, filiado ao PPS, cobra de Durval suposta propina para o vice. Roriz, que vinha polarizando a disputa com Arruda, terá de volta na sua porta antigos companheiros que o abandonaram nos últimos três anos. O terreno também fica menos tortuoso sem precisar concorrer com um candidato à reeleição. Mas o ex-governador também sofreu abalos com a visibilidade de Durval, que se transformou num operador financeiro em sua passagem pela presidência da Codeplan, durante o governo de Roriz. Por causa dessa participação, Durval é alvo de 37 ações judiciais que envolvem supostos desvios de recursos. Os dois supostos herdeiros do eleitorado de Arruda, no entanto, preferiram não comemorar ontem. Paulo Octávio disse ao Correio que o momento é de "trabalhar por Brasília" e garantiu que não tomou nenhuma decisão sobre seu futuro eleitoral. "Não estou pensando em candidatura e não é o momento para isso", disse Paulo Octávio. "O grande compromisso que nós temos é de fazer um bom governo, superar essa fase e dar esclarecimentos sobre tudo", acrescentou. Roriz não quis comentar o anúncio de que Arruda deixou o DEM e não concorrerá nas próximas eleições a nenhum cargo eletivo. Também cotado como candidato ao governo, o senador Gim Argello (PTB-DF) não quis comentar nada. Petistas Na oposição, aumentou a expectativa de crescimento das candidaturas que até agora não decolavam pela polarização entre Arruda e Roriz. No PT, havia um acordo para que o ex-ministro do Esporte Agnelo Queiroz seja o nome no páreo pelo governo e o deputado federal Geraldo Magela concorra ao Senado. Mas já há um movimento para repensar esse cenário entre petistas. Não se descarta a realização de prévias para a escolha do candidato ao Executivo, situação que já estava definida. De acordo com um importante integrante do PT, esse é "o cenário que o partido sempre sonhou". Ou seja, um cabo de guerra entre Arruda e Roriz. O governador do DF responsabiliza Roriz pela delação de Durval Barbosa e consequente crise em sua gestão. Em entrevista ao Correio, Arruda declarou que Roriz queria "ganhar (a eleição) no tapetão". Por isso, a expectativa entre petistas é de que Arruda não vai concorrer a um novo mandato, mas trabalhará para influenciar na próxima eleição e tentar fazer um sucessor ou, no mínimo, atrapalhar os adversários. No PDT, começa a crescer um movimento para transformar o senador Cristovam Buarque em candidato a governador. Ele sempre relutou a entrar novamente numa campanha para o Executivo desde que perdeu a reeleição para Joaquim Roriz em 1998. A meta de Cristovam é disputar um novo mandato de senador na chapa encabeçada por Agnelo Queiroz, mas ele tem sido incentivado a mudar os planos pelo perfil ético. "Quem não for míope terá condições de fazer história neste momento. Brasília vai pedir ao Cristovam e ele vai topar", acredita o presidente regional do PDT, Ezequiel Nascimento. Outro nome lembrado para entrar na disputa ao GDF é o do deputado distrital José Antônio Reguffe (PDT). Numa chapa encabeçada por Cristovam, ele também pode ser o vice. Por causa da crise e da mobilização da população pelo impeachment de Arruda, os candidatos de oposição dura, como Antônio Carlos de Andrade, o Toninho do PSol, ganham espaço como alternativa, embora seu partido tenha pouca estrutura para viabilizar uma eleição ao governo. Ninguém descarta, no entanto, a possibilidade de surgir um nome sem passado político, como novidade na campanha de 2010. Representaria o voto de protesto. Em todas essas composições, o PMDB, maior partido do país, será cortejado. Uma possibilidade remota também vira concreta: a legenda lançar nome próprio ao GDF.

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