postado em 11/12/2009 12:59
Há nove meses, médicos do Hospital Regional do Guará (HRGu) decidiram que era necessário internar um morador de rua com problemas de alcoolismo, que periodicamente era atendido no pronto-socorro da unidade. Ele estava desnutrido e apresentava sinais de desorientação. Dias mais tarde, já melhor, ele foi questionado por assistentes sociais do hospital sobre seu nome, sua idade e onde sua família poderia ser encontrada, já que não tinha documentos. O paciente oscilou entre chamar-se Francisco ou Manuel. Também ficou dúvida quanto à idade: 59 ou 65 anos? Finalmente, afirmou ser Francisco Ferreira de Andrade, 65 anos, nascido em Santa Luzia, na Paraíba.Com esses dados, a assistente social Paula Katiane da Silva Carreiro, responsável pelo caso, fez uma busca na rede de atendimento social do DF. Descobriu que uma pessoa com os mesmos dados havia passado por serviços como o Centro de Referência em Assistência Social (Cras), Centro de Referência Especializado em Assistência Social (Creas), Núcleo de População de Rua e pelo Núcleo de Atenção ao Usuário de Álcool de Drogas (Nouad). ;Mas ele só passou e deu às pessoas o mesmo nome e local de nascimento que deu para a gente. Não há registro ou número de documento, nada;, explica.
O hospital ainda tentou outras formas de identificar o paciente. Pediu à Polícia Civil que coletasse as digitais do idoso; encaminou a fotografia à Secretaria de Saúde para publicação na internet; e até entrou em contato com um vereador de Santa Luzia para que ele tentasse achar a família, conhecidos ou conseguisse mais informações. Tudo sem sucesso. Há três meses, ele teve alta. A falta de identificação tornou-se um fator adicional à dificuldade de procura por uma instituição para terceira idade que possa recebê-lo.
Francisco é um idoso dependente do álcool. Mais: precisa de ajuda para o banho, para comer e para trocar a fralda. Desenvolveu escaras, feridas causadas pelo atrito da pele contra o lençol, comuns em pacientes que estão há muito tempo de cama, cujo cuidado exige a troca de curativos e a mudança de posição a cada duas horas. ;É muito difícil um [SAIBAMAIS]asilo receber alguém nessas condições;, reconhece a assistente social. ;Um tempo atrás, uma casa de Sobradinho abriu uma vaga e ele ficou um final de semana lá. Mas as cuidadoras, que não eram enfermeiras, se assustaram com o estado das escaras, e o encaminharam de volta ao hospital. Agora, há a possibilidade de uma vaga no Núcleo Bandeirante que talvez se concretize nas próximas semanas;, diz Paula Carreiro.
Apesar de todas as dificuldades, a assistente social não desistiu de buscar um ambiente para Francisco que não seja insalubre como o de um hospital e com condições de ajudá-lo a se recuperar. ;É uma tarefa árdua;, acrescenta Paula Carneiro, que ingressou com um pedido de registro tardio por falta de documentação para o paciente na Central Judicial do Idoso.