O presidente licenciado da Câmara Legislativa, Leonardo Prudente (DEM), está encurralado. Desde a Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, desencadeada no último dia 27, e dos consequentes flagrantes de políticos locais com suposto dinheiro de propina, seu cargo na Casa foi colocado a prêmio. Pressionado para renunciar, preferiu pedir afastamento por 60 dias para sair do foco. Não adiantou.
Após o governador José Roberto Arruda anunciar a desfiliação do partido, o Democratas virou sua artilharia para Prudente. O diretório regional da legenda no DF decidiu ontem abrir processo administrativo contra o distrital. E, na avaliação de correligionários e deputados ouvidos pelo Correio, a situação do parlamentar é ;insustentável;.
A saída de Prudente do Democratas é dada como certa por vários motivos. Primeiro porque, por coerência, o diretório regional deverá seguir os mesmos passos adotados pela executiva nacional durante o processo aberto contra o governador José Roberto Arruda. Portanto, deverá pressioná-lo pela desfiliação, ou, caso contrário, o expulsará.
Caso saia do DEM, a permanência de Prudente à frente da Câmara Legislativa será ainda mais desconfortável. E, às vésperas de ano eleitoral, não faltam candidatos para ocupar a vaga. Eliana Pedrosa (DEM) e Raimundo Ribeiro (PSDB) são um dos eventuais postulantes ao cargo.
Oração
Na avaliação de caciques do DEM, a situação de Prudente é grave porque, além de ter sido filmado recebendo dinheiro das mãos de Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais do GDF e delator do suposto esquema de corrupção, o distrital foi flagrado em uma oração desconcertante. Ao lado de um colega de plenário, o deputado Júnior Brunelli (PSC), ele pedia a Deus por Durval, a quem chamaram de ;um instrumento de bênção para as nossas vidas e para essa cidade;.
Para muitos distritais, esse vídeo produziu efeitos mais estarrecedores do que a imagem dele enfiando dois pacotes de dinheiro nas meias, depois de ter enchido os bolsos do paletó e da calça com outros seis maços. Prudente terá oito dias para apresentar defesa à legenda, assim que for notificado. O deputado está de licença médica até terça-feira. Deverá voltar ao trabalho no dia 16. Disse a interlocutores que estará no DF já na segunda-feira para receber a notificação. É que, depois que as denúncias vieram à tona, Prudente saiu de Brasília. Refugiou-se em uma fazenda em Goiás, na tentativa de minimizar a pressão.
Vice pensou em se afastar
O vice-governador Paulo Octávio chegou a ventilar na manhã de ontem que pediria afastamento da presidência do diretório regional do Democratas, mas percebeu que não estava sendo cobrado a fazer isso. Pelo contrário. ;Isso não foi cobrado dele. Se decidir pelo afastamento, será uma opção pessoal;, chancelou o presidente do DEM, deputado federal Rodrigo Maia (RJ). A legenda não cogita sequer abrir processo contra ele ; que é citado no inquérito como beneficiário do suposto esquema de distribuição de propina.
O Democratas se esforça para abafar o incêndio que tomou conta da legenda, mas há quem não esteja tão disposto a colaborar com isso. Depois de semanas de silêncio, o senador Adelmir Santana subiu à tribuna para cobrar da sigla uma definição sobre a permanência de membros no DEM na estrutura do governo do DF. ;O vice não governa. Eles não queriam a saída de Arruda? Então. Manter quadros no GDF soa como se estivéssemos compactuando com tudo o que aconteceu;, avaliou.
A provocação de Adelmir repercutiu mal entre a cúpula do partido. ;Se ele pensa assim, por que nunca colocou isso nas reuniões da Executiva? Sempre ficou tão caladinho, e agora vem com essa?;, respondeu o líder do partido na Câmara, Ronaldo Caiado. (DL)
Distritais notificados
Samanta Sallum
Três distritais foram ontem notificados pelo corregedor substituto da Câmara Legislativa, deputado Raimundo Ribeiro (PSDB), de que devem apresentar a defesa no prazo de 10 dias úteis. Rôney Nemer (PSDB), Eurides Brito (PMDB) e Rogério Ulisses (PSB) assinaram ontem o recebimento da comunicação oficial de que são alvo de processo por quebra de decoro parlamentar. Ribeiro passou o dia ontem em seu gabinete, telefonando para os nove deputados que terão de responder ao processo. Não localizou alguns, mas agendou a notificação do distrital Benício Tavares (PMDB) para segunda-feira às 14h, e de Aylton Gomes (PR) para as 11h.
As assessorias de Leonardo Prudente (DEM) e Júnior Brunelli (PSC) informaram a Ribeiro que os deputados estão viajando. As notificações precisam ser recebidas pessoalmente pelos distritais processados. O deputado Cabo Patrício (PT), atual presidente da Câmara, também será alvo de apuração por quebra de decoro parlamentar devido à suspeita de ter favorecido interesses empresariais da família de Leonardo Prudente em aprovação de projeto.
Raimundo Ribeiro, que foi eleito anteontem para conduzir especialmente esses processos (já que o atual corregedor Júnior Brunelli está impedido por ser um dos envolvidos e está de licença médica), garante resistir à pressão corporativista da Casa. ;Não estou preocupado com pressão alguma. Tenho uma conduta, uma história que não combina com isso;, afirmou. Rôney Nemer se adiantou e, minutos depois de Ribeiro ter sido eleito, entregou declarações de patrimônio e documentos bancários ao corregedor. ;Sou o mais interessado que essa apuração ocorra, para mostrar minha defesa e provar que não estou envolvido;, disse. Nemer é citado por terceiros numa das conversas que estão transcritas no inquérito do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que deflagrou a Operação Caixa de Pandora. A investigação apura o recebimento de propina por parte dos distritais e integrantes do GDF. A OAB vai pedir a cassação de mandato dos deputados envolvidos no caso.
"Não estou preocupado com pressão alguma. Tenho uma conduta, uma história que não combina com isso"
Raimundo Ribeiro, corregedor substituto da Câmara Legislativa