Cidades

Assassinato de gerente de restaurante completa um ano

Guilherme Goulart
postado em 16/12/2009 08:23
Um dos crimes mais chocantes praticado no Plano Piloto no ano passado completou um ano ontem com a expectativa da marcação do julgamento para 2010. Em 15 de dezembro de 2008, o vigilante Marcelo Rodrigues Moreira, 33 anos, matou a facada a ex-mulher Ana Paula Mendes de Moura, também 33, em um movimentado restaurante da 404 Norte. O assassinato ocorreu no local de trabalho da vítima e durante o horário de almoço. Dezenas de pessoas testemunharam o ataque de Marcelo, que acabou detido pelos próprios funcionários do lugar.

Um ano depois, o acusado responderá a processo por homicídio duplamente qualificado (motivo fútil e impossibilidade de defesa da vítima). Também será julgado pela Lei Maria da Penha(1). A decisão ocorreu em 10 de novembro, quando se encaminhou o caso para o Tribunal do Júri de Brasília. ;A defesa dele tentou alegar insanidade mental, mas não conseguiu. Será submetido a um júri popular. Esperamos que ocorra no próximo ano;, afirmou o advogado João Paulo Pereira de Assis, assessor jurídico da Subsecretaria de Proteção às Vítimas da Violência (Pró-Vítima)(2) e assistente de acusação no caso.

O defensor de Marcelo, Alexandre Kennedy Sampaio, disse ao Correio que insistirá na questão da insanidade mental durante o julgamento. Segundo ele, não há como uma psicóloga do Instituto de Medicina Legal (IML) atestar distúrbios em uma entrevista de poucos minutos. ;Ele sofreu traumas na infância e um desgaste muito grande no relacionamento com a Ana Paula. Infelizmente, o IML não detectou a problemática dele. Mas acredito que meu cliente seja semi-imputável. Naquele instante do crime, ele não tinha intenção de matá-la;, argumentou o advogado.

O crime ocorreu às 13h15 no restaurante de cozinha nordestina Fulô do Sertão, na 404 Norte. Marcelo invadiu o local vestido com um paletó escuro, mostrou um facão e partiu em direção à ex-mulher. A vítima, gerente do estabelecimento, estava no caixa. Viu Marcelo e correu ao banheiro, mas encontrou a porta trancada. Marcelo a alcançou e a atingiu nas costas. Ele tentou fugir pela comercial, mas colegas de Ana Paula o perseguiram e tentaram convencê-lo a se entregar. O acusado reagiu. Três homens tiveram de segurá-lo até a chegada da polícia.

Prevenção inútil
Ana Paula e Marcelo viveram juntos por 8 anos. Tiveram três filhos. Antes de ser assassinada pelo ex-companheiro, a mulher tentou de tudo para mantê-lo afastado. Registrou as primeiras ocorrências contra o então marido em janeiro e julho de 2002. Denunciou-o à polícia por lesão corporal e perturbação da tranquilidade. Em 2007, outra reclamação, também por perturbação. Mais uma tentativa de se proteger ocorreu em novembro de 2008, quando o acusou de ameaça e ofensa. Conseguiu uma ordem judicial que o obrigava a ficar longe por pelo menos 200m.

Os familiares de Ana Paula acompanharam o drama dela. Em uma das idas à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), estava acompanhada da irmã Maria de Fátima Mendes de Moura, 47. Ficou com ela a guarda definitiva dos filhos da vítima, de 11, 15 e 17 anos. ;A Ana Paula era como uma filha para mim, por causa da nossa diferença de idade. Sentimos muita falta dela e vamos acompanhar esse julgamento até o fim. Esse caso não pode cair no esquecimento;, defendeu Maria de Fátima, que foi a todas as audiências realizada até o momento.

1 - Mais rigor
A Lei n; 11.340, de 7 de agosto de 2006, foi criada para coibir e prevenir a violência contra a mulher. Tornou mais rigorosa a punição dos acusados ao tipificar a violência doméstica e familiar como violação aos direitos humanos. Os casos são julgados em varas criminais.

2 - Assessoria
O programa da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania do DF existe desde março de 2009. Tem como finalidade dar visibilidade aos direitos dos cidadãos atingidos direta ou indiretamente por crimes violentos, assegurando atendimentos multidisciplinares nas áreas psicossocial e jurídica.

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