Juliana Boechat
postado em 17/12/2009 07:15
Todos os anos, Maria Eugênia Graziani Paes de Almeida, 86 anos, cria cartões de Natal para enviar a amigos e parentes que moram longe. Em Brasília há 10 meses, ela colhe flores e folhas no jardim da casa do filho, no Lago Norte, para decorar o papel-cartão com estilo próprio. Ano passado, enviou 100 votos natalinos por correspondência. Este ano, preparou 60 ; quem não deu retorno no ano passado do recebimento do cartão não receberá o agrado novamente. Criativa, Maria Eugênia orgulha-se em dizer que nunca repetiu um desenho ou colagem dos cartões ao longo de todos esses anos. ;Inventar estes cartões é uma verdadeira distração, uma higiene mental;, disse. Maria Eugênia é uma das poucas pessoas que ainda fazem questão de enviar e receber cartões. Com a praticidade da internet, as novas gerações deixaram de lado cartas e envelopes e adotaram os e-mails como forma de comunicação, seja durante ano ou em datas especiais. Ainda assim, o charme da escrita à mão, da escolha do tipo e da cor da caneta e os enfeites de Papai Noel e renas em alto-relevo ainda representam a preferência de pessoas de várias idades e estilos. Nas proximidades das festas de fim de ano, a demanda de cartas aumenta consideravelmente, segundo a assessoria de imprensa da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) ; que não soube, contudo, mensurar esse aumento.
No caso de Maria Eugênia, a produção dos cartões começa em outubro, quando ela sai em busca de flores e folhas para enfeitar o cartão. Mesmo quando encontra uma flor bonita em outra época do ano, não resiste e leva para casa, pensando nas lembrancinhas de Natal. Ela diz adorar receber o retorno dos votos natalinos, seja por correspondência ou por telefone. ;É muito gostoso mandar e receber. Gosto de manter a proximidade com amigos que moram longe. Amigos valem muito. Se não nos comunicarmos nunca, a amizade acaba;, resumiu Maria Eugênia, que tem contatos no Canadá, na Inglaterra e na França. ;Em São Paulo, tenho caixas e caixas de cartões que recebi com o tempo. Desde que cheguei a Brasília, já enchi uma também;.
Variedade
A secretária Sabrina Ferreira Felinto, 28, separa boa parte do tempo para se dedicar às correspondências. Mal começa o mês de novembro e ela vai à papelaria escolher os tipos de cartões para os colegas do trabalho, os amigos próximos e a família. Com o passar do tempo, ela aprendeu a fazer as compras com antecedência e em grande quantidade para pagar menos(1). Sabrina faz questão de escrever um recado único e bem elaborado para cada amigo. ;Para quem mora longe, tenho que escrever em inglês. Em outras situações, eu compro em branco para ter espaço e escrever mais. Não mando aquela mesma mensagem para todo mundo;, contou. Este ano, ela comprou quase 40 cartões.
Sabrina manda cartões de Natal há 15 anos. O importante, para ela, é registrar ideias e sentimentos bons no papel. ;Uma das coisas de que mais gosto é escrever;, disse. Este ano, ela levou todos os envelopes aos Correios no último dia 8. Quando atrasa o envio, os amigos reclamam. ;É a minha maneira de mandar presente e diferenciar o Natal das épocas comuns. Também aproveito para agradecer as coisas boas que as pessoas me fizeram ao longo do ano;, explicou. Sabrina quase não recebe resposta por correspondência. ;É um pouco frustrante. Mas as pessoas acham mais prático e barato mandar por e-mail. Eu tento, então, manter isso vivo. E sou até conhecida por isso.;
Para o funcionário público André Dutra, 24 anos, os cartões representam o abraço que ele não pode dar em algumas pessoas queridas. ;A carta expressa o sentimento de carinho para pessoas com quem você não convive;, disse. André aproveita cartões que ganha de brinde de empresas ou, devido à falta de tempo, compra nas agências dos Correios e envia em seguida. Este ano, ele escolheu os cartões de papelaria para enviar a uma amiga finlandesa, a outra alemã e também à namorada, que mora em Brasília. ;Investir em cartão custa tempo. Mas, com a escrita, fica mais pessoal. E aí, se torna mais especial;, avaliou. Raramente ele recebe as respostas via Correios. ;Hoje em dia, as pessoas preferem e-mail ou sites de relacionamento. E, por isso, a carta tem um sentimento ainda mais gostoso;, analisou.
Gerente de uma papelaria de luxo no Gilberto Salomão, Pâmela Cristina Matos de Souza, 26, conta que em época de Natal as compras de cartões duplica em relação ao resto do ano. ;Ainda é uma forma de aproximar as pessoas. Então, muitos compram os cartões para personalizar. A pessoa escolhe a cor, o desenho e o texto;, explicou. O público que compra na papelaria anexa os cartões aos presentes para entregar tudo junto no dia do Natal. Mas Pâmela revelou que as pessoas ainda mantêm a tradição de enviar o agrado por correspondência.
Preços variados
Os cartões com votos de Natal e ano-novo são dos mais variados. A frente da maioria é pintada com cores fortes e brilho. Alguns, mais modernos, oferecem trabalhos em alto-relevo com cola, papel e até mesmo madeira. Os preços também variam bastante. Desde os de R$ 10, em papelarias comuns, ou a R$ 60, em lojas personalizadas. Um site da internet oferece cartões por até R$ 98. A pessoa faz a compra online, recebe em casa e, então, envia ao amigo ou parente.
"Amigos valem muito. Se não nos comunicarmos nunca, a amizade acaba"
Maria Eugênia Graziani Paes de Almeida, autora dos cartões
Maria Eugênia Graziani Paes de Almeida, autora dos cartões