Cidades

Sem data para descontaminação do Ribeirão Engenho das Lajes

Representantes da construtora responsável pela obra de onde escorreu óleo não sabem quando acaba limpeza de ribeirão poluído por material tóxico

Luiz Calcagno
postado em 18/12/2009 07:51
Material usado no asfaltamento de viaduto da BR-060 poluiu manancial: 5 mil pessoas estão sem água potávelNão há previsão para o término da limpeza do Ribeirão Engenho das Lajes, contaminado por asfalto na última terça-feira (15/12). O produto tóxico escorreu da construção de um viaduto na BR-060. O fornecimento de água potável para 5 mil pessoas também continua comprometido e sem expectativa de normalização. Os moradores do núcleo rural às margens da estrada contam com caminhões-pipa para ter água de beber e para banhos.

Para os técnicos do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), o acidente era evitável. O analista de meio ambiente do órgão, Antônio Adriano Bandeira, afirmou que os profissionais da empresa se mostraram despreparados em lidar com a topografia e o clima da região.

Bandeira ressaltou ainda que a obra não prevê corretamente o escoamento da água da chuva. A consequência, segundo ele, é o assoreamento do solo, que pode levar a terra contaminada para o ribeirão em caso de novas chuvas. ;O Ibram e a Caesb vão se reunir amanhã (hoje), no canteiro de obras, para exigir um cronograma de trabalhos e monitorar as limpezas;, contou.

Caminhão-pipa
A população do Núcleo Rural Engenho das Lajes ficou sem água das 22h de terça-feira às 16h de quarta-feira. Nesse período, caminhões-pipa passaram a abastecer o reservatório da estação de tratamento local da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb). Na manhã de ontem, os moradores do núcleo rural ficaram novamente sem o fornecimento, que foi retomado à tarde.

Para abastecer o reservatório do núcleo rural, são necessários, em média, dois caminhões por hora. A supervisora da estação da Caesb, Noêmia Célia Milhomem, explicou que, com a carência, a população estoca o produto. Segundo ela, isso faz com que, nos momentos em que há abastecimento, o consumo seja maior, o que mantém baixo o nível da caixa d;água da Caesb. ;Não conseguimos regularizar o abastecimento com os caminhões. A população já veio reclamar e saber o que houve. Estamos orientando a todos a racionarem o uso da água;, comentou.

Milhomem acredita que a empreiteira responsável pela obra de escorreu o asfalto apresente hoje uma previsão do término da limpeza do ribeirão. A população está apreensiva. A comerciante Maria Senhora Santana, 63 anos, reclama por não saber quando o abastecimento de água voltará ao normal. Ela é dona de um restaurante e teme perder a clientela, caso o problema continue. ;Temos caixa d;água e estocamos também, mas não é seguro. Um restaurante não pode ficar sem água. Lá em casa, o problema é o mesmo. Me preocupo como comerciante e como moradora;, desabafou.

Professor de geografia do Centro de Ensino Fundamental Engenho das Lajes, que não mora na comunidade, Arquiariano Bits também reclamou. Ele disse que o colégio só não teve problemas porque está no período de provas de recuperação. ;Como estamos com poucos alunos, a caixa d;água do colégio deu conta do recado;, contou.

Obra embargada
O asfalto aplicado nas obras de um viaduto na BR-060 foi levado pela chuva na ultima terça-feira e poluiu as águas do ribeirão. O produto é o CM30, asfalto diluído de petróleo(1). A obra foi embargada e a construtora Premenge, multada em R$ 101.790. A empresa é responsável por descontaminar o manancial de água. Quinze homens iniciaram os trabalhos às 7h de ontem.

A empreiteira tem 10 dias para entrar com recurso contra as acusações de responsabilidade pelo desastre ambiental. O advogado da empresa, Leo Rocha Miranda, disse que os procedimentos estão de acordo com o que foi pedido pelos órgãos fiscalizadores. ;O acidente ocorreu por uma força maior, por causas naturais. Temos convicção da lisura do nosso trabalho;, afirmou.


Riscos para a saúde
O asfalto diluído de petróleo é tóxico e pode causar vários males à saúde. Além de cancerígena, a inalação pode provocar dor de cabeça e náuseas, a fumaça em contato com a pele pode desenvolver dermatite, e o contato direto com o produto pode causar queimaduras.

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