Jornal Correio Braziliense

Cidades

STJ dá 10 dias para GDF enviar planilhas com gastos com empresas de informática

Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou uma investigação nos contratos de informática feitos pelo Governo do Distrito Federal desde 2007. A decisão foi tomada ontem pelo ministro Fernando Gonçalves, responsável pelo inquérito judicial que resultou na Operação Caixa de Pandora, realizada pela Polícia Federal há três semanas. O magistrado deu 10 dias para a Secretaria de Fazenda enviar as planilhas com os pagamentos e a relação de empresas com as quais o GDF mantém negócios. Além disso, o ministro pediu análises complementares da PF sobre o dinheiro encontrado durante as buscas e as apreensões, já que existem indícios de que notas marcadas pelos investigadores foram encontradas em um dos locais das buscas.

O ministro do STJ não decidiu sobre o pedido de quebra de sigilo bancário e fiscal feito pela PF e Ministério Público Federal, o que poderá ocorrer mesmo durante o recesso dos tribunais superiores do Poder Judiciário, que começa hoje. A assessoria do STJ não explicou os motivos pelos quais não houve a decisão. Fernando Gonçalves, porém, acatou outras medidas, como a análise dos contratos feitos pelo GDF com empresas de informática. Segundo o magistrado, além da relação dos repasses, a Secretaria de Fazenda deverá encaminhar à Polícia Federal as ordens bancárias, datas de pagamentos e as contas bancárias que receberam os recursos.

De acordo com Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais, várias empresas de informática participavam do suposto esquema de pagamento de propina para integrantes do governo e a deputados distritais. Em um depoimento dado por ele à Polícia Federal, em outubro passado, Durval citou as empresas Infoeducacional, Adler, Linknet e Vertax. Na investigação, o STJ quer saber se as declarações do ex-servidor conferem com os pagamentos feitos pela administração. Segundo o ministro Fernando Gonçalves, deverão ser analisadas as planilhas e os contratos feitos entre 2007 e 2009. Ontem, o governador José Roberto Arruda reafirmou que reduziu de R$ 500 milhões para R$ 170 milhões os gastos na área de informática durante a sua gestão.

Tinta invisível
No relatório entregue ao STJ na última quarta-feira, a Polícia Federal afirmou haver ;fortes indícios; de que o dinheiro marcado com tinta invisível, cuja maior parte seria de uma das empresas envolvidas, é o mesmo apreendido na casa de um dos envolvidos, durante a Operação Caixa de Pandora. O ministro do Superior Tribunal de Justiça determinou que a PF faça novas buscas para a comprovação definitiva entre quem pagou e quem recebeu os recursos. Fernando Gonçalves determinou ainda que a Divisão de Contra-Inteligência Policial (Dicint) da PF faça perícias complementares das cédulas com números de séries sequenciadas, localizadas em um mesmo local de busca. No dia da operação, os policiais apreenderam R$ 700 mil em espécie, US$ 33 mil e cinco mil euros em 29 locais.

Em seu despacho, Fernando Gonçalves indicou uma relação de pessoas a serem ouvidas pela PF, mas o STJ não divulgou os nomes. Além disso, o ministro manteve o inquérito parcialmente em sigilo, já que o relatório da Polícia Federal e o resultado das novas diligências continuam em segredo de justiça. ;Como se trata de diligência meramente complementar, buscando corroborar as assertivas a respeito e já constantes dos autos do inquérito, nada impede o seu deferimento, mantendo o segredo de justiça sobre as informações que destes atos resultarem, até deliberação judicial, prevalecendo quanto ao mais o princípio da publicidade da investigação;, disse o ministro, em seu despacho.

Na noite de quinta-feira, Fernando Gonçalves desmembrou o inquérito judicial, em atendimento do Ministério Público Federal. A subprocuradora da República, Raquel Ferreira Dodge, afirmou que havia a necessidade de entender as investigações em torno de um integrante do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Nem o MPF nem o ministro citaram quem seria o novo alvo das apurações.


PMs serão denunciados

Adriana Bernardes
Os militares que comandaram a ação contra manifestantes no último dia 9 vão ser denunciados por lesão corporal leve. O promotor Mauro Faria Lima, da 3; Promotoria de Justiça Militar do Ministério Público do Distrito Federal, entendeu que o coronel José Belisário de Andrade e Silva Filho e o tenente-coronel Luiz Henrique Fonseca Teixeira devem responder pelos excessos da tropa contra as pessoas que pediam o fim da corrupção no Distrito Federal.

Após ouvir cinco vítimas, duas testemunhas e os dois militares, o promotor agora vai elaborar a denúncia que será entregue na segunda-feira. O crime pelo qual serão são acusados está previsto no Artigo 219 do Código Penal Militar, com pena de detenção de três meses a um ano. A punição pode ser revertida em acordo, só após a condenação. No caso de civis, o MP pode propor a suspensão do processo.

Vídeo e fotos
O promotor considerou desnecessário ouvir mais testemunhas das agressões. Disse que há farto material de vídeo e fotos, além das vítimas, que comprovariam os excessos da PM. ;Era uma manifestação pacífica. Por que avançar sobre as pessoas com os cavalos?;, indagou. Os militares negaram que tivessem perdido o controle da tropa ou usado força em excesso.

No dia do confronto, 2,5 mil pessoas se posicionaram em frente ao Palácio do Buriti. Sob o argumento de que os manifestantes descumpriram o acordo ao ocupar o Eixo Monumental impedindo o fluxo de veículos, os militares avançaram com a cavalaria, usaram gás de pimenta, bombas de efeito moral e balas de borracha para dispersar o grupo. A Polícia Militar informou que só vai comentar caso após o pronunciamento da Justiça.


Adin só em fevereiro

Ana Maria Campos
Ficou para fevereiro, depois do recesso dos tribunais superiores, o julgamento da ação direta de inconstitucionalidade (Adin) proposta pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, no Supremo Tribunal Federal (STF) em que se questiona a prerrogativa da Câmara Legislativa para autorizar a abertura de processo contra o governador do DF no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Gurgel contesta artigo da Lei Orgânica do DF que dá esse poder aos deputados distritais, o que considera ;um passaporte para impunidade;, já que a base de sustentação do Executivo na Casa jamais dará essa permissão. Pela Lei Orgânica, a ação penal contra o chefe do Executivo só pode ser aberta com autorização de 16 distritais, ou seja, dois terços do plenário.

Gurgel tomou essa iniciativa por recomendação da subprocuradora-geral da República Raquel Dodge, responsável pelo inquérito da Operação Caixa de Pandora. Ela deve ajuizar ação penal contra o governador José Roberto Arruda (sem partido) por suposto envolvimento em esquema de desvios de recursos no Executivo local, mas acredita que esse dispositivo previsto na Lei Orgânica do DF impedirá a tramitação do processo, principalmente porque oito dos 24 deputados estão citados na mesma investigação. A regra é prevista em todas as unidades da Federação, o que dificulta a tramitação de ações penais contra governadores no STJ.

Plenário
Toffoli decidiu não apreciar agora a liminar requerida por Gurgel. Por se tratar de assunto relevante e controverso, o caso será julgado com rapidez diretamente no plenário, com análise do mérito. O ministro pediu informações à Câmara Legislativa e encaminhou a petição inicial à Advocacia-Geral da União (AGU) e para a Procuradoria-Geral da República para parecer. Toffoli sustentou que a regra contestada por Gurgel está em ;vigor há mais de 16 anos;. Também acrescentou que há jurisprudência no STF favorável à constitucionalidade da regra. Gurgel admite que existem precedentes contrários à Adin, mas avalia que o Supremo deveria rever essa posição.

Caso julgue esse trecho da Lei Orgânica inconstitucional, o STF poderá provocar um efeito cascata, já que as constituições estaduais estabelecem a mesma regra em todo o país. Essa barreira impede a tramitação de ações penais contra governadores, já que estes geralmente têm maioria nas assembleias legislativas. Nas duas últimas administrações, o então governador Joaquim Roriz, hoje no PSC, foi alvo de várias ações penais que não caminharam porque a Câmara Legislativa nunca deu autorização. Na verdade, o assunto sequer foi tratado pelos distritais. Os pedidos de licença do STJ ficaram parados na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).




O tom de protesto marca a decoração natalina da 308 Sul. Um colorido Pinóquio Noel abraçado a uma caixa de panetone foi colocado em frente ao bloco C. Já o panetone se tornou um dos símbolos da Operação Caixa de Pandora. A ideia de misturar decoração de Natal e protesto partiu de 10 moradores do bloco C. A servidora pública federal Ana Maria Leão Bassales, 63 anos, está entre eles. ;É um protesto silencioso de pessoas formadoras de opinião com 60 anos ou mais que não vão a passeatas ou manifestações, mas estão fartas. Tudo tem que ter um limite;, comenta. O boneco de espuma e arame foi colocado no local por volta das 21h de quinta-feira. (AB)