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Núcleo Bandeirante completa 53 anos com alma de interior

postado em 19/12/2009 08:31 / atualizado em 19/10/2020 17:37

A árvore de Natal em uma das avenidas centrais já está pronta e fará parte do cenário da festa dos 53 anos         A árvore de Natal em uma das avenidas centrais já está pronta e fará parte do cenário da festa dos 53 anosOs traçados originais das ruas revelam o clima interiorano do lugar. Nas esquinas, senhores e senhoras trocam experiências e prosas num amigável ambiente de vivência. Lá, todos se conhecem e se protegem. O Núcleo Bandeirante ; cidade-mãe de Brasília, que conta com pouco mais de 42 mil moradores ; comemora hoje 53 anos de existência. Cinco décadas de muita história para contar. Dos moradores mais jovens aos mais antigos. A lembrança de tempos sem luz, água ou asfalto e quando tudo que se via no horizonte eram barracos irregulares em meio à terra vermelha toma lugar junto ao contagiante clima de interior da cidade.

Benedito Antunes da Rocha, 87 anos, lembra até hoje do dia em que chegou ao antigo vilarejo. ;Era 14 de maio de 1957 e isso aqui era cerrado puro. Tinha um ou dois barracos de tábua. O Plano Piloto se resumia a um brejo;, recorda. Mineiro de Paracatu, Benedito morava em Cristalina (GO) quando foi chamado para trabalhar na construção de Brasília. O operador de máquinas pesadas era um dos muitos pioneiros que chegaram com o mesmo objetivo: ganhar a vida. Todos se acomodaram nos berços da sonhada capital de Juscelino (1)Kubitschek: Núcleo Bandeirante e Candangolândia. Os espaços provisórios cedidos por fazendeiros foram povoados. Após a construção, entre lojas, pousadas, hotéis e áreas de invasões da cidade ; como o Morro do Urubu, o Morro do Querosene e as Vilas Esperança, Tenório, Iapi e Sarah Kubitschek ;, havia 12 mil habitantes.

Seu Bené tem memória afiada: Mas a Cidade Livre ia desaparecer. Aquela situação era provisória. E, quando estava prestes a sumir do mapa, moradores se uniram no Movimento Pró-Fixação e Urbanização, que envolveu até pedido oficial ao então presidente Jânio Quadros. O resultado foi satisfatório. Em dezembro de 1961, foi sancionada a lei que fixava a cidade e a rebatizava de Núcleo Bandeirante e que, três anos depoi,s passou a integrar a Região Administrativa de Brasília. Naquela época, Bené, como Benedito é conhecido na cidade, abandonou o barraco em que morava para viver no bairro mais antigo da cidade, a famosa Metropolitana, onde está até hoje. Foram 14 filhos ao longo dos anos e ;mais ou menos; a mesma quantidade de netos. Amélia Barbosa de Brito, 74, a esposa de seu Bené, perde as contas. ;Acho que são uns 13 ou 14. São tantos que nem me lembro mais;, diverte-se.

Quando pensa na família já criada, o casal de pioneiros agradece pela vida passada no Bandeirante. ;Hoje, isso aqui é uma cidade. Pode até ter seus problemas, mas eu não sairia por nada. Acho que foi um bom lugar para viver antes e continua sendo hoje;, afirma seu Bené. A dona de casa Adercina Marques da Silva, 78, concorda com ele. Em 1960, ela foi para a cidade acompanhar o marido, Valdivino Gomes da Silva, que chegara três anos antes para trabalhar como pioneiro.

 

Adercina deixou Araguari (MG) em 1960 e veio atrás do maridoDona Adercina saiu de Araguari, no interior de Minas Gerais, e conta que muitas vezes o companheiro, que já morreu, tentou convencê-la a voltar para a terra natal dos dois. ;Eu respondia: ;Pra quê? Sempre fui feliz no Bandeirante, muito mais do que lá. Tenho tudo que preciso e não tenho vontade de voltar;;, recorda. As mudanças daquele tempo ainda são visíveis para ela, que viu tantas famílias se acomodando na cidade. ;Quando eu cheguei, tinha muita gente vindo para cá. Eram pessoas com sonhos de uma vida melhor, sem os problemas antigos. Era um novo começo;.

Comércio e lazer
Nas lembranças, a dona de casa Adercina Marques tem imagens nítidas do comércio do Bandeirante, que crescia a cada dia. ;A gente tinha padaria, farmácia, tudo bem em frente. Na verdade, hoje ainda é assim. O comércio é completo e temos tudo de que precisamos;, afirma. De acordo com o administrador da cidade, Geovane Ribeiro, o Núcleo Bandeirante concentrava as atividades de prestação de serviços e comércio do Distrito Federal em construção. Era na Cidade Livre que os operários se encontravam nas horas livres e nos fins de semana para gastar o dinheiro que recebiam pelo trabalho suado nos canteiros de obras. ;O Núcleo Bandeirante cresceu de um vilarejo e hoje o comércio é polo para cidades como Park Way, Candangolândia e Riacho Fundo.;

A igrejinha, construída em 1957, sofreu um incêndio há dois anos e foi reformada: a fé testemunha a históriaOs primeiros estabelecimentos comerciais do DF estavam ali. A primeira escola particular, o Instituto Batista, começou a funcionar em março de 1957. Em apenas um mês, a sala de aula da instituição de ensino já contava com 33 alunos. Os bancos pioneiros foram os da Lavoura e de Crédito Real, ambos com sede na então Cidade Livre. O primeiro bar, Maracangalha, nome que fazia referência à canção popular da época Eu vou pra Maracangalha era um dos espaços de diversão dos moradores. Lá, havia também o Hospital Juscelino Kubitschek de Oliveira (HJKO), inaugurado em 6 de julho de 1957, construído em madeira, assim como a Capela de Nossa Senhora Aparecida, também conhecida como Capela da Metropolitana ; referência ao bairro dos pioneiros. A igrejinha foi totalmente reformada, depois de um incêndio em novembro de 2007 que destruiu parte da edificação histórica. Os incêndios, inclusive, eram recorrentes por causa dos barracos de tábua.

Magnólia Valadares tinha apenas 6 meses quando chegou ao Núcleo Bandeirante, em 1956, com os pais e cinco dos sete irmãos. Ela recorda que os focos de fogo eram avisados por um caminhão que passava pelas ruas, assim como era anunciado o desaparecimento de crianças. ;Eu me lembro dos batizados coletivos que o próprio JK vinha assistir na Metropolitana. Era um tempo muito bom. A cidade até hoje mantém esse clima gostoso de interior. Aqui é um lugar de muita tradição, cheio de imigrantes nordestinos;, diz.

No visual urbanizado de hoje, as referências ao tempo da construção da nova capital subsistem em pequenos núcleos, onde ainda vivem alguns dos que acompanharam todas as etapas da transformação da Cidade LivreDa época em que os candangos iam todos os domingos à missa, pouco restou. O primeiro hospital brasiliense deu lugar ao Museu Vivo da Memória Candanga. A primeira escola pública da cidade, o Centro de Ensino da Metropolitana, e o clube recreativo da época, o Toy Clube de Brasília, ainda estão de pé, mas pouco lembram o que já foram. Em vez da terra vermelha, que com a água das chuvas virava um lamaçal, asfalto, meios-fios e calçadas cercam os prédios. A disposição das avenidas do Núcleo Bandeirante é uma das poucas características que permanece a mesma. Das cinco avenidas, apenas a quinta desapareceu. Os barracos de invasões de antigamente foram substituídos por casas dos mais diversos tamanhos e por prédios, tanto comerciais quanto residenciais. Como diria seu Bené, hoje o Bandeirante é mesmo uma cidade, com tudo de que ela precisa para ser chamada assim.

"Nascentes; de Brasília
Esses berços eram chamados de Cidade Livre, em referência à liberdade de encargos fiscais para os comerciantes se instalarem. A área havia sido cedida por fazendeiros goianos ao governo somente para fins comerciais. A ocupação dos candangos deveria ser provisória. Assim que a construção de Brasília terminasse, em 1960, os lotes deveriam ser devolvidos.

"O Núcleo Bandeirante cresceu de um vilarejo e hoje o comércio é polo para cidades como Park Way, Candangolândia e Riacho Fundo"
Geovane Ribeiro, administrador regional





Programação

HOJE
9h ; Início do 2; Campeonato Beneficente de Jiu-jítsu Infantil e do 1; Campeonato de Skate Beneficente, no Skate Park do Núcleo Bandeirante
12h ; Corte do bolo de 5,3m, em frente à Administração
20h ; Banda Chermine e Banda Lets Scape, no Colégio do Núcleo Bandeirante
22h ; Pedro Paulo e Matheus (sertanejo), no mesmo local
24h ; Batucada dos Raparigueiros, mesmo local


AMANHÃ
8h ; 51; Jogo dos Solteiros x Casados, no Campo da Metropolitana
20h ; Cálida Essência (pop rock), no Colégio
21h ; Luiz Paulo e Alexandre (sertanejos), mesmo local
23h ; Trem das Cores, mesmo local

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