Cidades

Carros antigos vão à pista e mostram força

postado em 21/12/2009 08:23
Quando dois Mavericks rasgaram a reta a quase 200 km/h, seguidos de perto por um Dodge e um Puma GTE, o público gritou enlouquecido. Era um dos grandes momentos da corrida de regularidade só para carros com mais de 30 anos realizada ontem no Autódromo Internacional Nelson Piquet. E o vencedor do desafio era apenas um detalhe para os apaixonados que foram ver raridades como DKVs e Mini Coopers abusando de seus bem cuidados motores no asfalto onde não há limite de velocidade. Foram 27 ;vovôs; que fizeram a alegria da plateia e, sobretudo, dos donos, que puderam pisar fundo em seus velhos aceleradores.

Impossível não se emocionar com a apreensão pré-prova de pilotos como Helena Anita Abrão, a única mulher na disputa. Vaidosa, ela não conta a idade e procura na bolsa ; companheira de cockpit ; um pente antes de posar para o fotógrafo. ;O meu Fusca tem 39 anos;, despista com um sorriso, logo após fazer a tomada de tempo. ;Eu comprei na época em que passei no vestibular da UnB. Precisava de um carro. E me apaixonei por ele; tanto que nunca mais larguei;, revela a corredora, que cursou direito, biblioteconomia e comunicação na Universidade de Brasília. ;Fiquei 10 anos lá, mas exerci mesmo o direito. Me aposentei no Supremo Tribunal Federal (STF);, informa, minutos antes de entrar na pista.

A prova foi de regularidade, ou seja, os pilotos precisavam escolher um tempo e tentar fazer as voltas sempre em cima dele. ;São três opções, dois minutos, dois e quinze segundos e dois e trinta segundos. Quem passar menos vezes acima ou abaixo, vence;, explica Márcio Cozzolino, um dos organizadores do evento e também piloto. ;Tenho um Puma 76(1). É o meu xodó;, confessa.

Os carros chegaram cedo ao autódromo, por volta das 9h, e ficaram se exibindo para o público ; reduzido por causa do calor e, principalmente, pela pouca divulgação. ;Não tivemos tempo. O patrocínio saiu há apenas 15 dias. Ficamos felizes por termos conseguido fazer o evento. E esperamos que seja um começo para que, ano que vem, possamos fazer um circuito de regularidade. Tenho certeza que os pilotos vão se animar;, aposta Cozzolino. As arquibancadas vazias, porém, fizeram pouca diferença para quem competiu. Era o grande momento do pilotos que, na saída dos boxes, aceleravam quando passavam pelas câmeras.

Sensação única
A alegria estava estampada no rosto de colecionadores como o empresário Gedeam Campelo, 27 anos, que não conseguia esconder o sorriso ao sair de seu Maverick GT v8 ano 1976 quando estacionou após a corrida. ;É uma sensação indescritível essa de correr no autódromo. Cheguei a 190 km/h passando aqui na frente da galera. Mas, no miolo, eu tinha que andar devagar, até a 40 km/h, para poder fazer o meu tempo certinho;, conta ele, que tem o carro há 10 anos. ;É o meu carro. Ando com ele direto. Vendi um carro novo que eu tinha para comprar e reformar o Maverick;, discursa.

A maioria das relíquias que passaram por ali, no entanto, eram mesmo carros ;de garagem;. Ao fim da corrida, todos saíram praticamente juntos para o deleite de quem passava pela rua aquela hora, por volta das 14h.

Cada piloto levou a própria equipe para ajudar nos boxes. A cada parada, os capôs eram abertos para ver se estava tudo em ordem ou fazer um ajuste de última hora. O analista Henrique Duarte, 29, tentou ajudar o pai, Anelito, 53, com os tempos. Grudado na grade da reta dos boxes, ele sinalizava com os dedos. ;Ele está passando um pouco acima. Eu tô tentando ajudar, mas ele não entende;, aponta ele enquanto vê o pai passar com os braços abertos, em sinal de dúvida, em seu Opala 77 pintado em amarelo brilhante.

E foi justamente um Opala, mas um 1978, pilotado por Alexandre Guimarães, que ganhou a disputa. O segundo lugar ficou com o DKV 1965 de Luciano Moretti, que deixou para trás o Dodge 1977 de Leonardo Linhares. ;Meu Dodge é minha paixão. E uma paixão de família que vem desde meu avô que era mecânico. Eu comprei ele marrom, mas decidi estilizar para ficar mais com a minha cara;, comenta ele, ao lado do brilhante carro verde claro.

1 - Puma GTE
A Puma foi uma montadora de carros brasileira, fundada na década de 60, que se especializou em modelos esportivos. Os mais conhecidos, além do GTE, são o GT e o GTB. Os carros, idealizados por Rino Malzoni, foram feitos para as pistas, mas acabaram ganhando as ruas desde os primeiros modelos, na década de 60, e hoje são itens de coleção.

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