Cidades

Brunelli, onipresente em todas as CPIs, teve atuação pífia nas comissões

Distrital do PSC que participou da oração da propina integrou as três investigações da Câmara Legislativa desde 2007, mas ficou conhecido por ocupar cargos importantes nas comissões e faltar às reuniões

Ana Maria Campos
postado em 25/12/2009 09:12
O histórico da participação do deputado Júnior Brunelli (PSC) nas comissões parlamentares de inquérito (CPI) da Câmara Legislativa mostra que a fé no exercício da política não é a única característica marcante do distrital autor da oração da propina. Brunelli desenvolveu um pendor pela investigação. Acusado pelo ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa no inquérito do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de receber R$ 30 mil(1) mensais do governo, ele é um dos mentores e ocupou cargo de comando nas três CPIs criadas e instaladas pela Câmara nesta legislatura: a da Gautama, dos Cemitérios e a Digital. Também chegou a ser escolhido para integrar as apurações na área da saúde, que acabaram não ocorrendo.

Distrital do PSC que participou da oração da propina integrou as três investigações da Câmara Legislativa desde 2007, mas ficou conhecido por ocupar cargos importantes nas comissões e faltar às reuniõesApesar de figurar em todas as composições de CPI desde 2007, Brunelli praticamente não se envolveu no dia a dia das investigações. Era o vice-presidente da CPI dos Cemitérios, que apurou os preços praticados e o sucateamento dos serviços oferecidos no mercado da morte em Brasília, mas não participava das reuniões internas nem das inspeções dos distritais a cemitérios, funerárias e hospitais. Por causa de sua atuação distante, chegou a ser apelidado de integrante-fantasma da CPI. Manteve, no entanto, reuniões com donos de funerárias e representantes da empresa Campo da Esperança, concessionária dos serviços de manutenção dos cemitérios do Distrito Federal.

A performance de Brunelli também não se mostrou diferente na CPI da Gautama. Relator da investigação na Casa, o distrital faltou à maioria dos interrogatórios promovidos pela comissão na Câmara Legislativa e chegou ao fim das investigações sem pedir o indiciamento de nenhuma das pessoas envolvidas no suposto esquema de corrupção apontado pela Operação Navalha, da Polícia Federal, que identificou uma suposta quadrilha especializada em fraudar licitações de obras públicas. Na época, 46 pessoas foram presas por determinação da Justiça Federal, entre prefeitos, empresários, um ex-governador, um ex-deputado federal e o ex-deputado distrital Pedro Passos (PMDB), que acabou renunciando ao mandato para evitar o processo de cassação, mas não foi denunciado pelo Ministério Público Federal.

A CPI chegou a aprovar requerimento do deputado Cabo Patrício (PT) para convocação dos ex-governadores Maria de Lourdes Abadia (PSDB) e Joaquim Roriz (PSC). Mas houve um caso raro de desconvocação. Semanas depois de decidir que os dois ex-chefes do Executivo deveriam ser ouvidos, a CPI, com o voto do relator, resolveu aprovar um pedido de anulação da convocação. A comissão também aprovou a quebra de sigilo fiscal e bancário de vários envolvidos na Operação Navalha, mas os dados não foram incluídos no relatório de Brunelli porque o distrital explicou, na ocasião, que havia condições de analisar todas essas informações.

Recursos federais
Diante da postura afastada nas CPIs, o real interesse de Brunelli nas investigações sempre foi uma incógnita. Durante a CPI da Gautama, ele ameaçou convocar o então secretário de Obras, Márcio Machado, que apareceu em gravações da Operação Navalha mantendo conversas com Passos sobre a obra de construção da bacia do Rio Preto, realizada sob a gestão da Gautama. A empreiteira baiana consta da lista que Machado elaborou com nomes de empresas escolhidas para colaboração de campanha, mas o ex-secretário de Obras escapou da ameaça de Brunelli.

O gerente de Agronegócios do DF, Aguinaldo Lélis, que assinou o contrato com a Gautama, no governo anterior, quando a obra recebia recursos federais, também ficou fora do indiciamento. Uma auditoria do Ministério da Integração Nacional apontou falta de prestação de contas de parte do dinheiro repassado e responsabilizou Lélis. O atual secretário de Agricultura, Wilmar Luís da Silva, não chegou a ser convocado para depor, apesar de ter liberado pagamentos para a empreiteira.

Brunelli também é um dos idealizadores da CPI Digital, abafada com a articulação do ex-chefe da Casa Civil do DF José Geraldo Maciel, que teve uma conversa com Durval Barbosa gravada pela Polícia Federal. A comissão que poderia esquadrinhar os contratos de informática do GDF chegou a ser instalada, mas nunca se reuniu para tomar providências. A assessoria do distrital informou que ele não comentaria os fatos relacionados às CPIs que integrou.


1- Depoimento
Em depoimento prestado em 17 de setembro deste ano ao Núcleo de Combate às Organizações Criminosas (NCOC) do Ministério Público do DF, Durval Barbosa afirma que Júnior Brunelli (PSC) recebia mesada do governo desde 2002. A Operação Caixa de Pandora apontou indícios de que outros sete distritais também se beneficiavam de um suposto esquema de corrupção no GDF. São eles: Rogério Ulysses (PSB), Eurides Brito (PMDB), Roney Nêmer (PMDB), Benício Tavares (PMDB), Benedito Domingos (PP), Leonardo Prudente (DEM) e Aylton Gomes (PR).


QUEM É ELE

  • Nome
    Rubens César Brunelli Júnior

  • Naturalidade
    São Paulo (SP)

  • Idade
    39 anos

  • Profissão
    Advogado

  • Mandatos de distrital
    2 (2003-2006 e a atual legislatura)

  • Partido atual
    PSC (já esteve no DEM e no PP)

  • Atividades sindicais, representativas de classe e associativas
    Nenhuma

  • Leis aprovadas
    27


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