Cidades

Dois distritais fora do jogo

Como reflexo da Operação Caixa de Pandora, Leonardo Prudente e Rogério Ulysses não disputarão a reeleição. Outros deputados terão dificuldades em conseguir novo mandato nas urnas no ano que vem

postado em 26/12/2009 08:23
Os estilhaços do escândalo que frustrou os planos de reeleição do governo de José Roberto Arruda (sem partido) e comprometeu a intenção dos distritais investigados no inquérito do Superior Tribunal de Justiça (STJ) para 2010 também atingem deputados da base governista que não estão diretamente envolvidos na crise. Escalados para evitar um processo de impeachment contra o governador e com a perspectiva de uma campanha sem o palanque do grupo que está no poder, esses políticos terão dificuldade de encorpar a candidatura sem o respaldo de Arruda. Por enquanto, a oposição, além dos distritais ligados ao ex-governador Joaquim Roriz (PSC), serão aparentemente beneficiados com a reviravolta no cenário político ocorrido a partir da Operação Caixa de Pandora. Nessa altura da crise política, é possível afirmar que dos 24 deputados distritais, dois estão eliminados do tabuleiro eleitoral em 2010: Leonardo Prudente e Rogério Ulysses. Acusados de integrar suposto esquema de corrupção denunciado pelo ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa ao Ministério Público e à Polícia Federal, os dois distritais ficaram sem legenda e, portanto, sem chances de concorrer no ano que vem. Leonardo, que escondeu dinheiro nas meias, saiu do DEM. E Rogério Ulysses foi expulso do PSB. Outros seis distritais - Eurides Brito (PMDB), Júnior Brunelli (PSC), Benício Tavares (PMDB), Rôney Nemer (PMDB), Benedito Domingos (PP) e Aylton Gomes (PMN) - também investigados pela Caixa de Pandora, enfrentarão obstáculos para atingir as metas de 2010. Os vídeos comprometedores contra pelo menos quatro dos oito citados no inquérito da PF tornarão as eventuais candidaturas dos supostos envolvidos um desafio à memória do eleitor. Os efeitos políticos da crise devem chegar até mesmo para os distritais da base governista que não foram citados diretamente no inquérito. Alírio Neto (PPS) é um exemplo. Até o início da Operação Caixa de Pandora, o distrital estava no comando de uma das áreas de maior potencial eleitoral do governo, a Secretaria de Justiça e Cidadania. Com o escândalo, o distrital retornou para a Câmara por orientação do partido. Apesar de o PPS estar oficialmente fora da base de apoio ao governo, Alírio é um dos deputados que voltaram para reforçar a defesa de Arruda no Legislativo. Assim como Alírio, Eliana Pedrosa deixou uma secretaria de projeção, a de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda, para retomar o mandato na Câmara e liderar a base de apoio a Arruda. Dr. Charles (PTB), Batista das Cooperativas (PRP), Raimundo Ribeiro (PSDB), Wilson Lima (PP) e Paulo Roriz (DEM) integram o movimento dos sem-palanque. Eles tiveram uma atuação bastante vinculada ao governo e vão enfrentar obstáculos numa campanha onde a principal referência até o final de novembro agora está fora do jogo. Busca e apreensão Em 27 de novembro, a Polícia Federal cumpriu os primeiros mandados de busca e apreensão relacionados à Operação Caixa de Pandora. A ação da PF foi realizada em escritórios e residências de integrantes do primeiro escalão do governo, além de deputados distritais. Oposição beneficiada As investigações do Ministério Público e da Polícia Federal sobre o suposto esquema de corrupção envolvendo integrantes do Executivo e da base governista na Câmara ainda estão em curso e, portanto, é impossível prever a dimensão da crise. Mas no cenário atual, a oposição seria o principal beneficiado politicamente com o escândalo que desmontou o grupo que está no poder. A perspectiva favorável para 2010 deve reforçar a intenção de Paulo Tadeu e de Érika Kokay de concorrerem a uma vaga de deputado federal. Chico Leite pode insistir em ser o candidato do PT ao Senado. Cabo Patrício deve tentar a reeleição na Câmara Legislativa. O momento também é visto pelo PDT como uma oportunidade. Antes do escândalo, o nome de Reguffe havia sido descartado para a candidatura ao governo. Depois da reviravolta, no entanto, o senador Cristovam Burque declarou que o PDT quer lançá-lo ao Buriti. Quem também pode sair ganhando nas eleições de 2010 são os distritais mais próximos a Joaquim Roriz, que espera ficar com o espólio da crise deflagrada com as denúncias de Durval Barbosa ao Ministério Público. A filha do ex-governador, Jaqueline Roriz (PMN), e o aliado Milton Barbosa (PSDB) têm palanque garantido numa eventual candidatura do ex-governador ao Buriti. Cenário atual Veja como fica a correlação de forças na Câmara Legislativa depois dos escândalos de corrupção que comprometem o Executivo e o Legislativo no Distrito Federal Alírio Neto (PPS) Não está envolvido na crise, mas pode sofrer consequências políticas indiretas com o escândalo. Até o início da Operação Caixa de Pandora estava no comando de uma das principais pastas do governo com potencial eleitoral, a Secretaria de Justiça e Cidadania. Deixou o cargo por orientação do partido e reassumiu o mandato. Apesar de o PPS ter oficialmente deixado a base de apoio ao governo, Arruda conta com a atuação de Alírio na Câmara para evitar o impeachment, missão que pode desgastá-lo em 2010, quando pretende disputar a reeleição. Eliana Pedrosa (DEM) Também deixou uma secretaria de projeção eleitoral, a de Ação Social, para integrar o núcleo de defesa do governador na Câmara. Com a saída de Arruda do cenário eleitoral em 2010, a deputada está sem palanque eleitoral. Cristiano Araújo (PTB) O distrital não aparece no inquérito do STJ e, recentemente, foi absolvido num processo eleitoral que respondeu por abuso de poder econômico. As circunstâncias favoráveis, além dos milhares de funcionários das empresas de sua família devem garantir a reeleição sem dificuldades. Dr. Charles (PTB), Wilson Lima (PP), Bispo Renato (PR) e Batista das Cooperativas (PRP), Raimundo Ribeiro (PSDB) e Paulo Roriz (DEM) Estão entre os distritais da base de apoio a Arruda que não foram citados diretamente no inquérito do STJ, mas podem ter dificuldade em encorpar suas candidaturas à reeleição sem o respaldo do palanque governista. Benício Tavares (PMDB) É um dos distritais que emergiu da Caixa de Pandora. Ele é acusado por Durval Barbosa no inquérito do Superior Tribunal de Justiça de receber mesada do governo. A OAB-DF pediu a cassação do distrital. A proximidade com o escândalo tende a causar desgaste e pode comprometer os planos do distrital de disputar a reeleição pela quinta vez. Júnior Brunelli (PSC) Foi uma das revelações da Operação do MP e da Polícia Federal. Estrela dois vídeos gravados por Durval. Em um recebe dinheiro e no outro participa da oração da propina. Até a divulgação dos vídeos, Brunelli tentava viabilizar a candidatura para o Senado, usando como argumento político a base de fiéis da igreja evangélica. Eurides Brito (PMDB) A divulgação da filmagem na qual Eurides Brito recebe dinheiro de Durval tornaram remotas as chances de a distrital levar adiante seus planos de eleger-se para a Câmara em 2010. Atualmente, ela é suplente. Política que construiu a base eleitoral entre professores da rede pública, Eurides tem pouco tempo para recuperar a confiança do seu grupo de eleitores. Leonardo Prudente (sem partido) Não poderá se candidatar em 2010. Obrigado a se desfiliar do DEM em função da crise que o atingiu em cheio, o distrital está fora do jogo eleitoral do ano que vem. As imagens em que aparece escondendo dinheiro nos bolsos do paletó e nas meias lhe custaram a reeleição na Câmara, considerada provável até o início da crise, uma vez que Prudente ocupava a presidência da Casa, cargo de maior visibilidade na estrutura. Rogério Ulysses (sem partido) Está eliminado da disputa eleitoral: foi expulso do partido na semana passada. Vai tentar recorrer à direção nacional do partido, que dificilmente aceitará o desgaste de rever a decisão do diretório regional. Rogério está entre os distritais citados no inquérito do STJ. Ele é um dos investigados de receber dinheiro de Durval em troca de apoio político ao governo. Aylton Gomes (PMN), Rôney Nemer (PMDB), Benedito Domingos (PP) Estão entre os distritais citados em conversas gravadas durante a Operação Caixa de Pandora. Apesar de não aparecerem nas filmagens gravadas por Durval, os planos de disputar a reeleição no ano que vem vão depender da temperatura do processo por quebra de decoro parlamentar Jaqueline Roriz (PMN) e Milton Barbosa (PSDB) Ligados a Joaquim Roriz, não devem ter problema de palanque no ano que vem com a disposição anunciada de Roriz em concorrer ao Palácio do Buriti. Jaqueline deve sair para deputada federal e Milton concorrerá à reeleição na Câmara Legislativa. Chico Leite (PT), Cabo Patrício (PT), Érika Kokay (PT), Paulo Tadeu (PT) e José Antônio Reguffe (PDT) O escândalo que abateu o governo e sua base política na Câmara deve favorecer a oposição nas urnas no ano que vem. Pelo menos por hora, ficam fortalecidos os planos de Paulo Tadeu e Érika Kokay de se candidatarem a deputado federal. Chico Leite cogita o Senado e o nome de Reguffe para o governo voltou a ser ventilado pela direção do PDT.

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