Cidades

Moradores e comerciantes mostram os danos causados pela falta d'água que afetou o Guará

Transtorno começou na manhã de domingo e durou até a tarde dessa terça, embora a Caesb tenha afirmado que o problema com uma das válvulas da cidade havia sido solucionado na madrugada

postado em 30/12/2009 07:40
Durante 56 horas, entre as 8h do último domingo e as 16h de ontem, os moradores do Guará I e II ficaram sem água. O abastecimento foi retomado aos poucos, demorando mais em prédios e áreas mais altas. Ontem, após o meio-dia, o Correio apurou que ainda havia residências e estabelecimentos comerciais com torneiras secas em, pelo menos, 12 das 44 quadras da cidade. A Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) manteve equipes trabalhando o tempo todo no conserto de uma válvula e de um registro da adutora da cidade, que se romperam. A empresa garante ter resolvido o problema na madrugada de ontem e atribui eventuais atrasos no restabelecimento do sistema a bolsões de ar que teriam se formado nos canos de distribuição. A população e os comerciantes da região, por sua vez, reclamam dos prejuízos e da expectativa causada pelas falsas previsões que a Caesb passou pelo telefone de atendimento da estatal.

Na Feira do Guará, os comerciantes tiveram de comprar água de caminhões-pipa para garantir funcionamento de seus estabelecimentosO problema atingiu toda a região, onde residem 138 mil pessoas. Com as torneiras secas, os moradores da cidade ficaram sem muitas opções nos últimos três dias. A família do servidor aposentado Oséas de Oliveira, 69 anos, que vive na QI 17 do Guará II, por exemplo, buscou abrigo na casa de parentes em outras cidades. "Aqui não podemos comer, não dá para fazer comida, manter a casa limpa. A gente liga para a Caesb e eles fazem uma previsão furada, que não vira realidade e não sabemos o que fazer. Estamos sem água até agora", reclamou ele, às 10h de ontem.

Na mesma quadra, poucas casas à frente, a água já havia chegado na casa da cabeleireira Elizabete Maria Ferreira, 53 anos, que usa a parte da frente da residência como salão de beleza. "Voltou a água, mas está muito fraquinha na torneira. Quase não dá para fazer nada", avalia. "Não consegui tomar banho. E é pior para os negócios. Ontem (segunda-feira), não pude trabalhar. E logo nesta época movimentada", lamenta.

Demora
A água demorou mais a voltar em prédios que tiveram as caixas esvaziadas no período sem abastecimento. Na QI 5 do Guará I, o casal Júnior Castro, 29 anos, e Melinda Araújo, 33, se %u201Cmudou%u201D para a casa de amigos no Plano Piloto. "Não dá para ficar sem tomar banho, sem escovar os dentes", garante Júnior, que é eletricista. "Até agora (11h), não tem água. A minha mãe, que mora no nosso prédio, não quis sair de casa e está lá sofrendo com o banheiro imundo e a casa toda suja", conta Melinda. Ela trabalha em uma lanchonete, que não abriu nos dois últimos dias por causa da falta de água. "E o pior é que no 115 (atendimento ao consumidor da Caesb), quando atendem, dão uma previsão esfarrapada. Na maior parte do tempo, a linha dá ocupada ou não completa", acusa. A Caesb informou que as linhas ficaram congestionadas por causa do alto número de ligações.[SAIBAMAIS]

Em algumas casas, as famílias encontraram soluções alternativas para o problema. "Nossa sorte foi a chuva. Vou poder lavar a casa e tomar banho", comemorou a dona de casa Adélia de Mello, 41 anos, que colocou baldes e latas para aparar a água da chuva na QE 25 do Guará II.

; Prejuízo em toda parte

Para o comércio, a interrupção no fornecimento de água foi sinônimo de prejuízo. Na Feira do Guará, que reúne 526 comerciantes e recebe mais de 30 mil visitantes por semana, a água só voltou depois das 16h de ontem. Para garantir a abertura do espaço, a Associação dos Feirantes teve que comprar água em sete caminhões-pipa. Prejuízo: R$ 1.050. "Isso, para a associação. Os feirantes tiveram seus prejuízos individuais. Principalmente quem mexe com comida e bebida. Muitos fecharam as portas", conta o presidente da associação, Kléber Nunes. "Não dá para trabalhar em uma feira sem água. Isso tudo nos prejudicou muito. Estamos pensando em buscar uma indenização da Caesb, vamos ver o que podemos fazer", ressaltou.

A falta d;água também causou transtorno no açougue e sacolão Boi Dourado, na QE 15 do Guará II. Lá, o abastecimento só voltou ao normal na manhã de ontem. "Foi muito difícil trabalhar ontem (segunda). Não tínhamos água nem para lavar as mãos. Imagina como ficou o ambiente", conta o açougueiro Jonas Ferreira dos Santos. O estabelecimento também vende garrafões de 20 litros de água mineral. "Mas o estoque acabou ontem. Teve muita procura", completa a caixa Elizabete Araújo.

O lava a jato de Luiz Carlos Gonzaga, na QI 11 do Guará I, foi salvo por não usar água encanada no serviço. "Eu sempre compro caminhões-pipa para encher a caixa que tenho. Graças a Deus, pude trabalhar ontem (segunda) por causa disso", comemora ele. "Só perdi na lanchonete que temos aqui no terreno, pois não pude fazer sucos, vendar caldos de cana. Não tinha como lavar as coisas" admite. Teve sorte também quem pôde contar com caixas d;água grandes no comércio. Foi o caso da sorveteria Nosso Sabor, no Polo de Modas do Guará II. (RV)

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