Juliana Boechat
postado em 04/01/2010 07:50
Os dias ensolarados do fim de semana fizeram o brasiliense e os turistas saírem às ruas. Muita gente aproveitou a presença de amigos e parentes que vieram de longe para as festas de fim de ano e curtiu o céu azul com poucas nuvens fazendo um tour pelos principais pontos turísticos da capital federal. Pela primeira vez, alguns visitantes viram de perto os monumentos do arquiteto Oscar Niemeyer. E até mesmo moradores de cidades do DF se surpreenderam com a beleza de Brasília, com os detalhes que a televisão não mostra ou que a correria do dia a dia não permite aproveitar.Os turistas formaram fila para visitar lugares como o Congresso Nacional e subir no mirante da Torre de TV. O funcionário público de Palmas (TO) João Batista Facundes, 56 anos, conheceu ontem a cidade de que tanto ouviu falar. "Eu não tinha ideia que o Congresso ficasse dentro de uma parte rebaixada na Esplanada. E também vi de perto aquele prédio que cai água, o Palácio da Justiça. É bem diferente ao vivo, muito bonito", contou o tocantinense, acompanhado dos filhos, dos sobrinhos e do irmão, que mora em Brasília. Famílias como a de Facundes são os principais grupos de visitantes desta época do ano. O Correio conversou com alguns deles, como é possível ler mais abaixo.
Até quem vive no DF gostou do passeio cívico. "É bom para conhecer a cultura, os monumentos, e respirar um ar diferente. A capital do Brasil, além de ser o centro político, tem tudo para ser uma cidade turística", acredita a moradora do Recanto das Emas Kenia de Brito Alves, 34 anos, que, na manhã de ontem, apresentava a capital à irmã Fernanda, que vive em Itapaci (GO).
Queixa
Embora desperte a curiosidade dos visitantes e atraia pessoas de vários lugares, Brasília ainda não é considerada uma popular destinação. A principal queixa dos entrevistados é a falta de infraestrutura turística. Em pleno recesso de fim de ano - e a pouco mais de três meses das festas do cinquentenário da capital -, apenas um dos cinco Centros de Atendimento ao Turista (CAT) está aberto. E pontos turísticos como o Museu do Índio, a Catedral e o Palácio do Planalto (os dois últimos em obras) estão fechados para visitação. Os assessores da Brasiliatur, a agência de turismo da capital federal, não foram encontrados ontem à tarde, e o presidente, João Oliveira, está fora da cidade.
Ônibus
O turista que chega em Brasília e não tem parentes na cidade para levá-lo ao passeio turístico pode aproveitar o ônibus do City Tour. Ele fica todos os dias no estacionamento da Torre de TV à espera de visitantes. No total, existem três ônibus. Embaixo da torre, um quiosque é responsável pela venda das passagens e pelas informações sobre os monumentos. Com vista panorâmica, o carro passa pela Catedral, Praça dos Três Poderes, Ponte JK, Palácio da Alvorada e Memorial JK. Quem quiser pode descer nesses locais e esperar o próximo coletivo %u2014 que passa, em média, a cada 90 minutos. Se o passageiro não quiser descer, o passeio completo dura cerca de uma hora e 20 minutos. Preço: R$ 15 por pessoa.
; "Vale muito a pena"
A família do engenheiro Jair Garcia (segundo à esquerda na foto), 57 anos chegou cedo ontem à Praça dos Três Poderes para assistir à troca da bandeira nacional. Ele e a mulher, Patrícia, moram em Brasília há um ano e meio e, sempre que têm a oportunidade, levam amigos e parentes para conhecer a cidade. "Todo mundo tem o direito e o dever de conhecer Brasília. A troca da bandeira é emocionante e muita gente que mora aqui nunca viu", disse Patrícia. Dessa vez, os dois passeavam com os filhos e a nora, que vivem em São Paulo.
A caçula Guadalupe, 27 anos, conhecia Brasília. "Os monumentos atraem os turistas. São bonitos e bem maiores do que imaginamos. Mas confesso que se minha mãe não morasse aqui, eu não teria vindo tão cedo", afirmou. O irmão Pablo, 29 anos, e a noiva dele, Erika Bocaletto, 29, estavam encantados com o primeiro contato. Ela comprou uma miniatura do Supremo Tribunal Federal (STF) e Pablo não parava de tirar fotos. "Vale muito a pena vir para Brasília. Adorei. Mas falta apoio ao turista, além de bancos nos pontos turísticos", disse Erika.
Sob a sombra do coqueiro
Depois de percorrer toda a Esplanada dos Ministérios, a família de Maria Rita Costa Ramalho, 47 anos, aproveitou os coqueiros imperiais do Congresso Nacional para sombra e um breve descanso. Eles aproveitaram a vinda de Najara Ramalho dos Santos, 21 anos, do marido e do bebê - todos de São Domingos do Maranhão - para rever a cidade. "Viemos visitar a família. Os monumentos são maravilhosos, parece que tem algo invisível segurando cada um. Eles são enormes", analisou a jovem.
É tanto lugar para visitar que um dia só é pouco tempo. A família ainda pretendia visitar a Ponte JK, o Pontão do Lago Sul e, se possível, o Catetinho. Eles só ficaram decepcionados por não entrarem na Catedral, fechada para reforma. Maria Rita admite que faz esse tipo de passeio pela cidade apenas quando recebe parentes de outros estados. "No dia a dia, é tanta correria que deixamos de conhecer vários lugares da nossa capital", lamentou a anfitriã Maria Rita.
Sem beijo em Lula
Exibindo uma caneca do presidente Lula comprada na Feira da Torre, a professora de Ituiutaba (MG) Maria José Garcia Bisinotto, 61 anos, foi até o Palácio da Alvorada com o intuito de encontrar o petista. "Queria pegar na mão dele, dar um beijo nele. Mas o portão do palácio foi o mais perto que cheguei", contou, decepcionada. Hospedada na casa do irmão, Carlos Aparecido Alves, 62 anos, Maria (quarta à esquerda na foto) veio a Brasília pela primeira vez. "Vou voltar aqui com certeza. É tudo o que eu imaginava e um pouco mais." Enquanto tirava fotos na frente da residência oficial do presidente, o grupo de irmãos e amigos presenciou a troca da guarda presidencial.
Outro professor mineiro que fazia parte do grupo, Simeão Rosa, 47 anos, destacou as qualidades de Brasília. Ele estava curioso para sentir o clima e presenciar o relevo da capital federal. "A natureza aqui é impressionante, mas o que mais chama a atenção é a mistura constante da grandiosidade dos monumentos de concreto com o cerrado."
No centro do poder
A dona de casa e moradora de Samambaia Raimunda Ferreira Oliveira (em destaque na foto), 46 anos, escolheu a vista privilegiada do alto da Torre de TV para começar o passeio turístico com a irmã e o sobrinho, vindos do Piauí. Ela estava ansiosa para conhecer a Ponte JK, no Lago Sul, que só havia visto pela televisão. "Eu fiz esse passeio turístico há 24 anos. Hoje, vendo tudo de novo, é outra cidade. Trouxe ainda meus parentes para eles voltarem para o Piauí e contarem que viram tudo de Brasília bem de perto", disse.
O piauiense Raul Valterlles de Sousa Costa, 20 anos, acha interessante conhecer a Esplanada dos Ministérios e estar próximo ao centro do poder e das decisões do país. Mas, para ele, falta opção para o turista. "O governo poderia investir no Lago Paranoá, por exemplo", sugeriu. A mãe dele, Valdenícia Maria de Sousa, 38 anos, lembrou dos últimos acontecimentos políticos. "Apesar dos pesares, a cidade é muito bonita e vale a pena. Vou voltar, com certeza".