Cidades

Custo de vida do brasiliense ficou 3,94% mais caro em 2009

Os aumentos nos contratos de locação de imóveis residenciais, no custo dos condomínios e nos serviços de empregados domésticos foram o que mais pesaram no bolso dos brasilienses

Mariana Flores
postado em 06/01/2010 08:29
Há menos de dois anos em Brasília, a dona de casa Lorena Mendes está assustada com o alto valor dos aluguéis: O custo de vida do brasiliense subiu 3,94% em 2009. Os gastos com moradia e serviços de casa foram os que mais pesaram no bolso dos chefes de família. Somente o aluguel residencial subiu 8,42% no ano passado, puxado pelo bom desempenho do mercado imobiliário na capital federal. Também ficou mais onerosa a mensalidade dos condomínios residenciais. Os valores estão 7,04% mais elevados que no início do ano passado. Para quem conta com os serviços de empregadas domésticas, os gastos mensais ficaram ainda maiores. As diaristas estão cobrando 21,61% mais do que em janeiro de 2008. As mensalistas, 13,58% mais. Somados, todos os gastos de habitação subiram 6,76% no ano. Mas não foram só eles. Das sete classes de despesas pesquisadas pela Fundação Getulio Vargas (FGV) para compor o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S)(1), seis tiveram reajustes médios ao longo do ano. Apenas os custos de educação, leitura e recreação estão mais baratos do que no início de 2009 ; redução de 0,56% no acumulado do ano.

A inflação brasiliense ficou acima do índice do ano anterior, de 6,66%, mas empatou com a média nacional registrada no ano passado, de 3,95%. Para 2010, a previsão é de que a taxa suba um pouco, mas fique em torno dos 4,5% esperados pelo mercado financeiro, na opinião do coordenador do IPC-S, André Braz. ;A expectativa é de aquecimento da economia em 2010, e, com isso, o nível de inflação deve ser um pouco mais alto;, prevê. Braz acrescenta ainda que em janeiro, a inflação deve ser puxada pelos reajustes nos preços das mensalidades escolares e pode ser que haja variações nos alimentos in natura, em função das oscilações climáticas tradicionais neste período.

Acima da inflação

O aluguel residencial foi o grande vilão da inflação em 2009, mas em Brasília os reajustes foram maiores. Um imóvel localizado no Distrito Federal que era alugado por R$ 1,5 mil, por exemplo, está custando ao inquilino atualmente, em torno de R$ 1.626 por mês. Na média das sete capitais pesquisadas pela FGV, o aumento foi de 6,86%. A renda elevada de Brasília faz com que os reajuste sejam maiores aqui. Os proprietários se sentem mais à vontade para elevar os valores. E, atualmente, há aumento excessivo de preço dos imóveis, o que acaba por impactar nos aluguéis. ;Isso é ruim porque a oferta do mercado imobiliário em curto prazo é inelástica, mas acredito que uma hora os preços vão parar de subir, não tem como continuar aumentando tanto;, analisa o economista Ricardo Coelho, coordenador do curso de economia da Universidade Católica de Brasília (UCB).

Os aumentos nos contratos de locação de imóveis residenciais, no custo dos condomínios e nos serviços de empregados domésticos foram o que mais pesaram no bolso dos brasiliensesOs preços na capital federal assustam a dona de casa Lorena Mendes, de 23 anos. Há menos de dois anos, ela mora com o marido e a filha em um apartamento de três quartos no Sudoeste. Pelo imóvel que tem menos de 100m;, o casal paga R$ 2,2 mil de aluguel e outros R$ 336 de condomínio. ;O preço é surreal, muito caro. Espero que não tenha aumento nos próximos meses. E pagamos isso tudo de condomínio para nada, o prédio tem apenas um parquinho para crianças;, reclama.

Também contribuíram para encarecer o custo de moradia os valores cobrados pelas domésticas. Os reajustes bem superiores à inflação se devem à renda elevada dos moradores do DF. A contratação de domésticas compromete, em média, 5,48% da renda. O percentual é quase o mesmo verificado no caso da gasolina (5,75%) ou com cursos formais, seja de ensino básico ou superior (6,59%). ;Como a renda dos patrões é elevada, puxada pelos salários dos servidores públicos, as empregadas aumentam os preços em patamares acima dos reajustes do salário mínimo;, explica Braz.


1 - Estudo
O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) é calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e mede a variação de preços em Brasília e em seis regiões metropolitanas. São pesquisados semanalmente os valores de 450 produtos e serviços, agrupados em sete classes de despesas. Os pesos atribuídos aos itens espelham as despesas das famílias com renda mensal de até 33 salários mínimos.

O número
21,61%
Percentual de reajuste aplicado ao valor dos serviços cobrados pelas diaristas na capital federal


Eu acho...

Os aumentos nos contratos de locação de imóveis residenciais, no custo dos condomínios e nos serviços de empregados domésticos foram o que mais pesaram no bolso dos brasilienses;Aluguel em Brasília é muito caro. Pago R$ 290 por uma casa de fundos no Gama e todo ano tem reajuste. Nos últimos dois anos, passou de R$ 240 para R$ 260 e, agora, R$ 290. E não tem negociação. A imobiliária só avisa que vai aumentar e pronto. Se aumentar este ano, vou ter que me mudar.;

Fabiana Helena da Silva,de 31 anos, desempregada, que utiliza a pensão dada pelo ex-marido para pagar o aluguel de uma casa de quatro cômodos em que mora com os dois filhos.


Cigarros somaram para elevar a taxa

Os custos de habitação não foram os únicos a alavancar a inflação na cidade. O grupo classificado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) como despesas diversas aumentou 5,70% ao longo de 2009, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S). A alta foi puxada principalmente por um aumento de 21,84% nos preços dos cigarros, em função da elevação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) no primeiro semestre de 2009. As peças de vestuário subiram 4,92% no ano. E os custos de saúde e cuidados pessoais, 4,40%. Somente os serviços médicos ficaram 5,44% mais caros. E os medicamentos, 6,69%, em média.

As despesas com transportes e itens de alimentação também subiram, mas abaixo da média da inflação do período, de 3,94%. Os reajustes foram de 3,58% e 2,91%, respectivamente. Os alimentos não tiveram grandes aumentos. Aliás, três dos principais itens da alimentação do brasiliense ficaram mais baratos. O preço da dupla arroz e feijão caiu 22,22% e as carnes bovinas fecharam o ano custando 5,60% menos. ;Tivemos safras regulares de arroz e feijão em 2009, o que fez com que não tivéssemos alta nos preços. E, no caso da carne, os preços diminuíram porque caiu a demanda do mercado internacional com a crise econômica;, explica o coordenador do IPC-S, André Braz.

Os custos de educação, leitura e recreação tiveram queda em 2009. A redução média foi de 0,56%. Mas ela não foi registrada no caso de educação, apenas no item recreação. Os cursos formais ; educação básica e superior ; aumentaram 4,26% em 2009. ;No início do ano passado, vivíamos um período de crise, e a primeira coisa que se faz nesses casos é cortar gastos supérfluos, então muita gente reduziu viagens. Agora, as pessoas estão mais confiantes, comprando mais pacotes turísticos, por exemplo, o que eleva preços;, explica Braz.

Os custos de maior peso na inflação geral que mais caíram no ano foram os de passagens aéreas (-26,91%), os cursos de ensino superior (-2,41%) e os de automóveis usados (-21,29%). Os carros ficaram mais baratos em função das facilidades para comprar veículos novos verificadas no ano passado com a redução do IPI. Os consumidores deram preferência aos novos, diminuindo a demanda por usados. (MF)

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