Cidades

Moradores não abrem mão do clima de cidade pequena e reivindicam benfeitorias

Luiz Calcagno
postado em 08/01/2010 08:33
No início, eram barracos azuis. Mas o tempo foi passando e as construções de madeira padronizadas deram lugar a casas de alvenaria. O chão de terra virou asfalto. Cresceram os prédios de apenas dois andares e tudo mudou. Hoje, a comunidade da Vila Telebrasília, um dos lugares mais antigos do Plano Piloto, localizada no fim da L4 Sul, pode dizer que começa o 2010 de olho no futuro. O lugar tem cara de cidade do interior. Lá, quase todo mundo se conhece. Com mais de 8 mil habitantes, entretanto, o local já começa a perder essa característica. Moradores fizeram um balanço para o Correio do que já aconteceu e do que precisa mudar no novo ano.

Na história das conquistas, estão a urbanização da Praça da Resistência, em 2007, e a escrituração dos lotes, realizada em dezembro de 2008. No ano passado, o destaque foi a instalação de um posto da Polícia Militar, para melhorar a segurança. Os maiores pontos de encontro da cidade são a própria Praça da Resistência e o campo de futebol na Rua 10, bastante movimentado nos finis de semana. Mas os moradores ainda dependem muito da Asa Sul para necessidades básicas, como educação e saúde, já que o local não possui escola nem posto de saúde.

Neide Peixoto de Souza mora na vila há 28 anosA história da Vila Telebrasília é rica. A comerciante Neide Peixoto de Sousa, 53, moradora há 28 anos, gosta de olhar para trás e ver a luta da comunidade para não ser expulsa do lugar. Os louros da vitória foram as benfeitorias realizadas ano a ano. Ela se diz orgulhosa de ter participado de todas essas lutas e afirma que as melhorias compensam qualquer desvantagem. ;Hoje, o lugar não é mais o mesmo. Quando veio a urbanização, ficamos visados. Mais de mil famílias moram na Vila Telebrasília. Tenho o maior prazer de residir aqui;, relata.

Na casa da maior família da cidade, também fica a certeza de se ter escolhido o lugar certo para morar. O clã de Ozilda Alves Chiaca guarda quatro gerações de moradores da vila: os pais de Ozilda ; Otílio e Maria de Lourdes ;, os irmãos, os filhos deles e os netos. Entre primos, tios e sobrinhos, são cerca de 100 moradores com graus de parentesco, todos morando na vila. ;Viemos aos poucos. Primeiro veio meu pai. E ele foi trazendo os parentes. Tenho 32 anos. Moro aqui desde que nasci e daqui não pretendo sair. É um lugar bom;, disse Ozilda.

De olho no futuro, o funcionário do Procon Antônio Alberto dos Santos, 45, faz questão de lembrar que a cidade ainda tem muita luta pela frente. Segundo ele, em primeiro lugar, a Vila Telebrasília precisa de uma escola de ensino fundamental. As mais próximas ficam na L2 Sul, a uma distância de, em média, 3km. ;Também é preciso revitalizar a nossa quadra de esportes. A população necessita de mais linhas de ônibus para se deslocar das outras cidades para a vila. Muitos têm de pegar dois ônibus;, conta.

Luta interminável
O maior desafio da comunidade continua sendo a regularização dos lotes. Embora a escritura já esteja com os moradores, a retirada da certidão de habite-se leva tempo e depende de regularizações. As casas não têm projeto e as regras exigidas para as construções não levaram em conta o fato de algumas residências já terem mais de 20 anos. O documento com as exigências foi elaborado pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (Seduma). De acordo com a arquiteta e urbanista Ivelise Longhi, era fundamental que tivessem considerado a possibilidade de ocupação. ;É uma área completa. Tem previsão para escola, creche, igreja e comércio. Também está registrada em cartório e tem tamanho-limite;, disse.

A administradora de Brasília, Eliana Klermann, assume que a questão dos lotes sempre foi uma preocupação. Segundo ela, para resolver essa questão, a administração empreende um trabalho de diálogo com a comunidade. A administradora espera, com a estratégia, conhecer as prioridades dos moradores da vila. ;É uma comunidade que ganhou o direito de se implementar ali. Agora, precisa se regularizar. Isso significará maior qualidade de vida para todo o DF;, explicou.

Reivindicações
Por ordem de importância, os moradores querem conquistar neste ano:

# Escola de ensino fundamental
# Uma creche
# Revitalização da quadra de esportes
# Urbanização de novas praças
# Itinerário de ônibus mais completo

Cronologia
1956

# Data de nascimento da vila.
O local era, inicialmente acampamento de funcionários da construtora Camargo Correa. A vila ganhou o nome com o tempo. Um grande número de moradores trabalhava na Telebrasília.
1991
# Momento histórico na luta dos moradores pela permanência no local. Sai a Lei n; 161, que permite a fixação dos moradores na Vila Telebrasília. O então governador, Joaquim Roriz, tentou embargar a decisão, mas a Câmara Legislativa derrubou o veto.
1993
# Cerca de 400 famílias foram removidas da vila e levadas para a QN 1 do Riacho Fundo. Os moradores que permaneceram na cidade mobilizaram-se contra a transferência e realizaram protestos e ações na Justiça.
2006
# No ano da aprovação do primeiro projeto urbanístico, a região finalmente recebe saneamento básico e energia elétrica.
2007
# Ano da urbanização da Praça da Resistência. Cerca de R$ 3,6 milhões foram investidos
2008
# Em dezembro, o GDF concedeu as escrituras de todos os lotes da cidade. Teve início o prazo de cinco anos para a retirada do habite-se.
2009
# O GDF instala um posto policial na comunidade.
2010
# A população espera que a cidade ganhe uma escola de ensino fundamental e uma creche.

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