Cidades

Comunidade do Setor P Sul convive diariamente com uma poça d'água permanente

O nível chega a invadir as casas e estragar móveis quando a chuva é intensa. Preocupação maior dos moradores é com a possibilidade de contaminação por doenças

postado em 14/01/2010 08:19
Quatro famílias moradoras do conjunto Q da QNP 28 (Setor P Sul) estão sendo obrigadas a conviver com o mau cheiro da água que fica empoçada 24 horas por dia. Quando chove muito, o nível sobe e a água chega a invadir as áreas de serviço e estragar móveis. Mas nem mesmo no período de seca os moradores têm sossego. Em vez de evaporar, a poça permanece em um filete que se entende por 25 metros, à beira das calçadas. ;Para sair de casa e não molhar os pés com a água, a gente tem que dar um salto grande ou colocar uma tábua no portão;, contou a dona de casa Kenny Vanessa Campos Souza Costa, 24 anos. Segundo ela, o fato de muitos moradores lavarem seus carros na rua também favorece a formação de poças. ;A água toda escorre para cá. Se a gente empurra com o rodo, os vizinhos reclamam, porque ninguém quer ter água suja na porta de casa;, reclamou a jovem.

A família de Kenny Vanessa Costa enfrenta todos os dias o problema da água acumulada bem na frente de casa: crianças têm dor de cabeça com o mau cheiroKenny mora no local com o marido e dois filhos ; de 1 ano e de 4 ; e está grávida de três meses. Ela tem medo que as crianças contraiam alguma doença. A água acumulada trazida pela chuva e oriunda dos quintais de outras casas provavelmente é contaminada com fezes e urina de animais, além do odor característico ser um atrativo para moscas e baratas. ;Meu filho não brinca na rua por causa dessa sujeira. Ele tem sinusite e todos os dias sente dor de cabeça por causa desse mau cheiro;, disse a mãe.

O marido de Kenny, o agente patrimonial Ramatis Carias de Oliveira Costa, 26, diz ter feito inúmeras reclamações à Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb), sem resultado. ;Já vieram aqui, mas ninguém resolve nada nem explica nada para a gente. Como a água não tem para onde escorrer e o terreno é todo desnivelado, queríamos pelo menos que uma boca-de-lobo fosse instalada;, sugere, indignado. A competência, no entanto, não é da Caesb, mas da Companhia Urbanizadora de Brasília (Novacap).

Procurada pelo Correio, a assessoria de imprensa do órgão informou que hoje pela manhã técnicos irão ao local para analisar a situação e avaliar quais as alternativas viáveis para acabar com os transtornos. Obras de pavimentação para nivelar o solo e colocação de bueiros estão entre as medidas que poderiam ajudar. Os bueiros, no entanto, só podem ser instalados se houver rede de esgoto na área. Nesse caso, a previsão é de que os trabalhos sejam concluídos em uma semana.

Porém, enquanto nada é feito, alguns vizinhos apelam para a construção de calçadas mais altas. ;Cada um pensa em si. A água não entra na casa dele, mas em compensação a poça fica ainda maior na nossa;, comentou uma moradora que preferiu não se identificar. Não é de hoje que esse problema afeta a comunidade. O pastor Gilson Ramos dos Santos, 49, mora na casa ao lado de Kenny há quatro anos e diz que desde essa época a poça só tem aumentado. ;Os transtornos são muitos, mas são pequenos, se levarmos em conta a questão da saúde. Meu maior medo é com relação à dengue(1);, alertou.

1 - Foco de doenças
Transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti, a dengue é uma doença infecciosa que, se não for tratada a tempo, pode levar à morte. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que no mundo ocorram entre 50 e 100 milhões de casos, que resultam em 500 mil internações e 20 mil mortes todos os anos. No ano passado, no Distrito Federal, a Secretaria de Saúde registrou 1.678 casos suspeitos da doença. Desse total, 431 (25,7%) foram infecções confirmadas no DF. Para evitar a doença, é importante não deixar água parada acumular em pneus, latas ou vasos de plantas. É na água limpa e parada que o mosquito se desenvolve.

Sobra ali, falta aqui
Quatro quadras abaixo dali, os moradores QNP 24, também no Setor Psul, sofreram cerca de 30 horas com a falta d;água. Das 8h de terça-feira até as 14h de ontem, eles tiveram de improvisar para lavar louças e roupas e também para cozinhar. O comerciante Vicente Gomes de Sousa, 35 anos, precisou comprar um galão de 20 litros e um depósito para que os filhos não ficassem sem beber água. ;Aqui é a terra de Jesus, de dia falta água e de noite falta luz;, ironizou. A costureira Fátima Dionísia Andrade, 52, teve de pedir ajuda em uma escola entre a QNP 28 e a QNP 26. ;Eu caminhei com um balde em cada braço e outro na cabeça. Se não fosse assim, não teria feito almoço;, disse.

Outra que sofreu foi a dona de casa Graça Vasconcelos, 55. Ela teve de buscar baldes d;água em uma escola próxima para poder fazer o almoço. Na terça-feira, as sete pessoas de sua família não tomaram banho. ;A Caesb não avisou que ia faltar água; se tivesse avisado, eu teria enchido a caixa d;água antes;, reclamou. Mas o problema pegou até mesmo a Caesb de surpresa. Os técnicos só tomaram ciência da abrangência da situação com a reclamação dos moradores. Das 9h às 11h de ontem, eles estiveram no local e descobriram que um registro estava fechado parcialmente, o que impediu o abastecimento das casas. A operação foi normalizada por volta das 14h.

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