Mariana Flores
postado em 15/01/2010 08:50
Ser boêmio no Distrito Federal está ficando cada vez mais caro. Em 2009, as bebidas e as programações noturnas subiram acima da inflação média da cidade. Um levantamento feito pelo Correio com base em dados do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S)(1), da Fundação Getulio Vargas (FGV), mostra que os preços dos vinhos ficaram 11,6% mais salgados no ano passado. O aumento médio das bebidas alcoólicas foi de 5,52%. Os cigarros tiveram reajuste de 21,84%. Os ingressos para shows musicais aumentaram 9,72%. E jantar em um restaurante está custando 6,25% mais. A inflação no período teve uma variação menor que estes custos, de 3,94%. Ainda assim, o movimento nas casas noturnas é intenso.Os brasilienses comprometem mais sua renda com saídas à noite do que os moradores de outros estados. Em Brasília, em média, 1,16% do orçamento doméstico é gasto com salas de espetáculos. Outros 0,53% com shows musicais, mais 1,47% com bares e lanchonetes, e outros 4,44% com restaurantes. Somando, 7,6% da renda familiar são para pagar as entradas em eventos e quitar as contas de saídas noturnas. É mais do que gastam com a compra de combustíveis ou com o ensino formal, por exemplo, que comprometem menos de 6% da renda das famílias, cada um, pelos dados da FGV. A média nacional de dispêndio com a balada é bem menor, de 4,27%, segundo a FGV. ;A explicação está na renda elevada de Brasília. Quanto maior a renda, maior a disposição para consumir lazer. E os aumentos acima da inflação foram generalizados no país no setor de serviços porque aumentou a demanda;, explica o coordenador do IPC-S, André Braz.
Em 2010, a tendência é que os preços continuem subindo, de acordo com ele. ;Se a economia crescer como se espera, mais empregos serão gerados e a renda das famílias vai crescer, com isso mais pessoas terão espaço para continuar consumindo lazer, o que abre espaço para as empresas cobrarem mais;, completa Braz. Os bares e restaurantes venderam 4% mais no ano passado e esperam uma alta ainda maior este ano. Segundo o vice-presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar), Nadim Haddad, o primeiro semestre de 2009 apresentou um resultado aquém do esperado. ;A demanda ficou retraída com a lei seca e a crise econômica. Esses aumentos ocorrem em função de repasse de custos, e não por aumento da demanda;, explica.
Adeptos do happy hour, os amigos Bruno de Oliveira, de 29 anos, e Rodrigo Menezes, de 30 anos, sentiram um aumento no preço da cerveja, principalmente da nacional, destacam. ;Até um ano atrás, eu pagava R$ 1,12 na latinha quando comprava no supermercado, agora já está custando R$ 1,27;, destaca Bruno, administrador de empresas. Mas o reajuste não afeta a disposição para saírem ou se juntarem para beber em casa, no mínimo, três vezes por semana, contam. ;Esse aumento não pesa tanto no bolso, porque gostamos muito, e gostamos de cerveja, mais precisamente;, conta o servidor Rodrigo.
Cerveja ficou em média, 3,55% mais cara. Subiu abaixo da média das outras bebidas. O vinho foi a que mais subiu. A bebida ficou, em média, 11,6% mais cara. O aumento se deu principalmente nas marcas nacionais, de acordo com o empresário Lindomar Graciano, diretor do Sindicato do Comércio Atacadista do Distrito Federal (Sindiatacadista). ;Os fabricantes nacionais precisavam recompor a margem de lucro e investir em tecnologia, porque eles melhoraram bastante a qualidade, mas estavam com margens apertadas;, afirma. Ele garante que os importados não sofreram reajuste de preços ao serem vendidos para os varejistas, em função da queda do dólar ; a moeda norte-americana desvalorizou 25% ao longo de 2009. ;As margens de lucro até 2008 estavam muito pequenas, então não baixamos preços. Mas também não aumentamos. Não sei por que a FGV captou esse reajuste e não sei dizer se os varejistas tiveram que elevar para os consumidores para cobrir seus gastos;, afirma.
Gorjetas
Na hora de sair à noite, é preciso estar atento aos seus direitos. O pagamento de 10% como gorjeta nunca é obrigatório, por exemplo. Outra prática comum que também é ilegal é a cobrança de uma consumação mínima, alerta o diretor do Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec), José Geraldo Tardin. ;A consumação mínima é venda casada, o que é ilegal. O consumidor deve denunciar ao Procon;, afirma. O couvert artístico, lembra, deve ter seu valor informado antes do consumidor sentar-se à mesa, e não apenas na hora da conta. E, no caso de perda do cartão de consumo, o cliente não é obrigado a pagar um valor mínimo estabelecido pela boate ou pelo bar. ;O fornecedor não pode repassar para o consumidor a responsabilidade de anotar os gastos. A empresa deve vincular o cartão ao RG ou vender fichas individuais para evitar esse problema. Se você perde a comanda de um self-service, por exemplo, não tem que pagar o equivalente a um quilo, poucas pessoas comem um quilo de comida;, ensina o especialista em direito do consumidor.
1 - Custo de vida
O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) é calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e mede a variação de preços em Brasília e em seis regiões metropolitanas. São pesquisados semanalmente os valores de 450 produtos e serviços, agrupados em sete classes de despesas. Os pesos atribuídos aos itens espelham as despesas das famílias com renda mensal de até 33 salários mínimos, ou seja, R$ 15,3 mil.
Eu acho...
;Não concordo que os preços dos vinhos tenham subido tanto assim. Hoje, em função da concorrência entre as lojas de Brasília e da queda do dólar, é cada vez mais fácil achar bons vinhos por preços acessíveis. Gosto muito, bebo diariamente, sozinho, com amigos ou até mesmo quando vou a pescarias.;
Valtuir José Ferreira, 52 anos,
empresário, consome, em média, 30 garrafas de vinho ou champanhe por mês