A Polícia Civil deflagrou entre a noite desta quinta-feira (14/01) e madrugada de hoje a Operação Abstinência. O foco da repressão ao uso e tráfico de drogas foi a comercial da entrequadra 203/204 Norte. Seis traficantes e um homem foragido da Justiça de Goiás foram presos.
Em meio a dezenas de pessoas revistadas - segundo a polícia, a grande maioria usuária de drogas - apenas quatro foram detidas: dois adultos e dois menores, entre eles uma adolescente de 15 anos. Com os traficantes, a polícia apreendeu uma pequena quantidade de cocaína, crack e maconha, distribuída em "trouxinhas".
Dos seis presos, apenas Wilcilaine Moreira Rosário não tinha histórico criminal. Maurício Macêdo Nery e Arlos de Freitas Garcia estavam em liberdade provisória após passagem pela polícia por porte de armas e roubo, respectivamente. Ivan Lima Soares cumpria prisão domiciliar por roubo, e Tiago de Oliveira Santos era foragido por tráfico de drogas. A polícia ainda não informou os antecedentes criminais de Carlos Alberto da Silva dos Santos França, nem a idade dos criminosos.
Ao revistar José Pereira do Rosário Neto, que não foi preso em flagrante por tráfico, os agentes o detiveram ao descobrir que a Justiça de Goiás já havia expedido contra ele mandado de prisão por furto. Os traficantes foram encaminhados à Divisão de Repressão ao Crime Organizado do Departamento de Atividades Especiais (Depate - DPE) e podem ser condenados a até 15 anos de prisão pela venda dos entorpecentes, além de responderem por associação para o tráfico, que prevê pena de até 5 anos.
Sob investigação
A comercial da Asa Norte vinha sendo monitorada 24 horas por dia há duas semanas. A investigação, que envolveu mais de cem policiais infiltrados, surgiu das constantes reclamações de moradores assustados com a venda e uso de droga na região. Segundo a Direção Geral da Polícia Civil do Distrito Federal, apesar da certeza de que a maioria das inúmeras pessoas revistadas no local sejam usuários, não há nada a fazer caso não se encontre droga.
Para Geraldo Luis Nugoli Costa, diretor do Departamento de Atividades Especiais da Polícia Civil do DF (Depate/DF), "a legislação dificulta" a punição dos usuários. "Sou de uma época em que a sociedade rechaçava o uso de drogas. Para uma família abastada isso pode até ser tolerável, mas famílias que não tem condições são destruídas", afirma. Segundo o diretor, as pessoas abordadas pela operação eram de classe média, que paravam "seus carros importados" em busca dos entorpecentes.
O point
Um bar de sinuca da entrequadra, o Área 51, é tido como ponto de referência para o tráfico. Em volta do estabelecimento noturno o movimento criminoso se alastrava tranquilamente. Nas muitas imagens feitas pela polícia, há cenas que mostram jovens cheirando pó no chão e corrimão da comercial e outras "cheiradas" em grupo promovidas por adolescentes com copos de cerveja na mão.
O diretor geral adjunto da Polícia Civil, João Monteiro Neto, disse que a Operação Abstinência não tem data para acabar. "A operação se iniciou ontem e nós não temos um prazo para encerrá-la. A nossa idéia é que nos próximos dias possamos efetuar mais prisões e obtermos resultados expressivos."No entanto, ele frisa que a ação desta madrugada é um bom começo: "Os resultados parciais mostraram-se bastante positivos, principalmente em função da prisão de traficantes. Nossa intenção é levar para a comunidade uma sensação de mais tranquilidade na área central de Brasília, e também Taguatinga, Ceilândia, Samambaia, enfim, os locais onde os traficantes têm atuado com mais constância". No Plano Piloto, as investigações estão focadas na zona central, próxima à Rodoviária, e em quadras já marcadas pelo comércio de drogas.
O crack
Geraldo destaca que é preciso estar atento ao crack, pois a pedra "está batendo às portas do DF". Para o diretor, a droga "é fato gerador de crime" e pode ser a maior responsável pelo já sensível aumento no número de homicídios em relação ao ano passado. Ele informa que até dia 12, quarenta assassinatos foram registrados no Distrito Federal. Para manter o vício fulminante, os usuários acabam apelando ao crime e são levados a uma condição de "miserabilidade", aponta.