Cidades

Desde 30 de dezembro, quatro adolescentes sumiram de um bairro carente de Luziânia

postado em 16/01/2010 08:26

A volta às aulas está ameaçada em um bairro pobre de Luziânia ; cidade 66 km distante de Brasília. Assustadas com o desaparecimento de quatro adolescentes, em menos de 15 dias, as famílias que moram no Parque Estrela D;Alva estão com medo de que seus filhos sejam vítimas do mesmo destino. Algumas mães chegam a dizer que, para proteger meninos e meninas, não os deixarão sair de casa, nem mesmo para ir à escola.

O primeiro a desaparecer foi Diego Alves Rodrigues, 13 anos. Em 30 de dezembro último, ele saiu de casa, no Parque Estrela Dalva 4, para uma oficina de carros no mesmo bairro, acompanhado de um amigo. Até então, ele nunca havia dormido uma noite fora de casa, o que fez a família ficar desesperada e procurar a polícia imediatamente. Cartazes com a fotografia do garoto foram espalhados em paradas de ônibus, supermercados e na delegacia. Mas, até hoje, não houve notícias do paradeiro de Diego. ;O guarda-roupas que ele me pediu chegou ontem (quarta-feira). Ainda não quis montar porque espero que meu filho volte para fazer isso;, diz a dona de casa Aldenira Alves de Sousa, 51 anos. A irmã do jovem, Gláucia, 24, sempre acompanha a mãe nas buscas: ;Fomos ao IML (Instituto de Medicina Legal), mas meu irmão não estava lá, graças a Deus. Estou preocupada com ele e também com a minha mãe;.

Em 4 janeiro, outro jovem desapareceu do bairro. Dessa vez, era a família de Paulo Victor Vieira de Azevedo Lima, 16, que iniciava o calvário em busca do adolescente. Naquela segunda-feira, o estudante do 5; ano do ensino fundamental saiu de casa, no Setor Fumal, por volta das 9h40, para pagar a conta de luz numa lotérica no Parque Estrela Dalva 7. Testemunhas contaram que o viram acompanhado de um homem de aproximadamente 30 anos, moreno e de altura mediana. Paulo Victor vestia bermuda e camiseta brancas e calçava chinelo.

Apelo à fé

Desesperada, a dona de casa Sônia Vieira Azevedo Lima, 45 anos, também afixou fotografias do filho em tudo quanto é de lugar. Além disso, percorreu hospitais e foi ao necrotério de Luziânia em busca de Paulo Victor. A procura deu em nada. Agora, Sônia se apega às orações. ;Não durmo nem me alimento direito desde o dia em que ele desapareceu, mas tenho fé de que vou encontrar meu filho vivo;, destaca. ;Não deixo meu filho sair de casa nem para ir à padaria. Possivelmente, ele não vai estudar, enquanto não for desvendado esse crime;, disse a vizinha, Luciana Peixoto da Silva, 31 anos, mãe de um garoto de 13 anos.

O pânico da população do Parque Estrela Dalva aumentou com o anúncio de mais um jovem desaparecido. Em 10 de janeiro, George Rabelo dos Santos, 17, saiu para visitar a namorada no Parque Estrela Dalva 4. Ele ficou pouco tempo com ela e caminhou até o centro da cidade com um amigo, garantindo que voltaria logo. A promessa, porém, não foi cumprida. ;Sempre quando ele ia dormir na casa da namorada, me avisava. Mas nesse dia achei estranho porque virou o dia e não tive nenhuma notícia dele;, lembra a mãe, a empregada doméstica Cirlene Gomes de Jesus, 42 anos, que mora no Parque 8.

Sem ligação

O último sumiço registrado pela polícia é de Divino Luiz Lopes da Silva, 16 anos. Ele foi visto pela última vez na quarta-feira desta semana, no Parque Estrela Dalva 5. Estava se divertindo com os amigos, que, depois, não souberam mais do rapaz. ;Disseram que tem um carro preto pegando os meninos e levando para matar em outro lugar. Nem quero pensar nisso;, assusta-se a mãe, a doméstica Mariza Pinto Lopes, 42 anos.

O desaparecimento dos quatro adolescentes desafia a polícia de Luziânia. Mesmo com o deficit de policiais, o delegado Rosivaldo Linhares designou oito agentes para se dedicar aos casos. Para ele, o fato de nenhuma das vítimas se conhecer só aumenta o mistério. ;Não há ligação direta entre os crimes. Portanto, nossa única linha de investigação é o desaparecimento porque não há corpos;, explicou. A falta de ligação também enfraquece uma suposta relação com tráfico de drogas ou briga de gangues. Nenhum dos adolescentes tem qualquer passagem pela polícia.

Perfis

Sônia é mãe de Paulo Victor, desaparecido há 12 dias: Divino Luiz Lopes da Silva 16 anos
Aluno do 6; ano do ensino fundamental.
Saiu de casa na última quarta-feira, por volta das 10h, para brincar com os amigos do Parque Estrela Dalva 5 e não voltou mais para casa.

George Rabelo dos Santos 17 anos
Aluno da 5; série do ensino fundamental.
Desapareceu no último dia 10, após sair de casa às 11h para encontrar a namorada no Parque Estrela Dalva 4.

Paulo Victor V. de Azevedo Lima 16 anos
Estudante do 5; ano do ensino fundamental.
Às 9h40 de 4 de janeiro, saiu para pagar uma conta de luz na loteria no Parque Estrela Dalva 7. Nunca mais foi visto.




Diego Alves Rodrigues 13 anos
Está no 9; ano do ensino fundamental.
Desapareceu em 30 de dezembro, por volta das 12h, no Parque Estrela Dalva 4. Ele havia saído para ir à oficina mecânica que fica no mesmo bairro.





Contato

Os dados mais recentes divulgados no site da Secretaria Especial dos Direitos Humanos indicam que, no país, há 1.247 crianças e adolescentes desaparecidos. Entre 10% e 15% dos casos permanecem sem solução por longo período e, às vezes, jamais são resolvidos. Quem tiver informações sobre os desaparecimentos de Luziânia pode entrar em contato com o Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops), pelo telefone 3620-2416. É possível também ligar para o S.O.S Criança (basta discar 100). A central funciona das 8h às 22h em qualquer localidade brasileira.

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