Cidades

Conheça João Alves, a enciclopédia de 103 anos

Com 14 filhos, 12 bisnetos e três tataranetos, ele já viveu em dois séculos diferentes e renova o conhecimento ouvindo notícias no rádio

postado em 17/01/2010 08:16
Durante 103 anos, completados na sexta-feira última, João Alves viu o mundo mudar várias vezes. Ele lembra de quando viu o primeiro dinheiro em papel do Brasil com a mesma facilidade com que fala a respeito das notícias atuais. Tanta experiência e lucidez fazem com que ele seja considerado uma enciclopédia viva pelos amigos e familiares. Ontem, os parentes se reuniram para comemorar a longevidade de seu João, em um almoço na casa onde ele mora há mais de 40 anos, na QNC 15, em Taguatinga Norte. Ele recebeu abraços carinhosos, contou histórias e se lembrou com saudades da cidade onde nasceu, Uruçuí, no Piauí, e dos amigos da infância. "Não existia televisão nem gasolina. A gente fazia poesia para a lua quando queria se divertir." Jõao Alves tem 14 fihos, 38 netos, 12 bisnetos e três tataranetos. Ele veio para Brasília há 45 anos com a primeira esposa em busca de estudo para as crianças. No ano seguinte à chegada, a mulher morreu. João se viu sozinho para cuidar de 12 filhos. Mandou uma carta a uma sobrinha no Maranhão dizendo que precisava se casar. Ela encontrou a pretendente ideal: Domingas Bsatista, hoje com 67 anos. "Casamos por procuração. Nunca a tinha visto nem ela me visto. Ainda mandei um retrato para ela não se enganar", lembrou João, aos risos. "Hoje ninguém faz isso. Ela foi muito corajosa e é a minha vida", declarou-se. É Domingas, mãe de dois filhos de João, quem cuida mais de perto do marido. Os filhos também ajudam. "Já fui pai e hoje sou filho. Graças a Deus. Ganhei riqueza depois de velho. Riqueza não é dinheiro, é conforto. Cada um dos meus meninos me ajuda em algo." João trabalhou muito para sustentar a família. Já foi mascate, catador de castanha, borracheiro, tropeiro, marinheiro, comerciante, fazendeiro, ajudou a erguer o Palácio do Buriti e o da Justiça e por fim construiu casas. "Enquanto a minha visão funcionou, até 10 anos atrás, eu trabalhei", orgulha-se. Entre as lembrança, seu João confessou um sonho: conhecer o arquiteto Oscar Niemeyer, 102 anos. "Queria encontrar alguém da minha idade e com o juízo em dia e pensamento organizado. Para a gente conversar sobre as coisas do nosso tempo, as mudanças de lá para cá. Eu vivi em vários mundos e falta com quem compartilhar."Quando João fala, todos se calam para ouvir a voz da sabedoria de quem viveu mais de um século. A receita para chegar tão longe ? Ele diz: "Não sei como viver muito. Ninguém sabe. Mas nunca bebi nem fumei, como minha mãe aconselhou. Meu pai era assim e eu quis ser como ele", ensina.

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