postado em 20/01/2010 08:31
Os primeiros depoimentos formais de supostos envolvidos no esquema de corrupção desvendado pela Operação Caixa de Pandora nada acrescentaram às investigações da Polícia Federal. Um dos relatos marcados para ontem, o do ex-chefe de gabinete do governo do Distrito Federal Fábio Simão não ocorreu. E o policial aposentado Marcelo Toledo ficou calado, protegido por um habeas corpus conquistado na Justiça. Mas o silêncio de ontem foi pontual. Os dois citados no escândalo estão dispostos a falar. Mas antes querem preparar estratégia de defesa e acertar eventuais benefícios jurídicos que seus relatos possam render.Os advogados de Marcelo Toledo não descartaram que ele se valha do expediente da delação premiada (1) para contar o que sabe ao Ministério Público. O policial aposentado é citado por Durval Barbosa no inquérito 650 do Superior Tribunal de Justiça (STJ) como um dos operadores do governador José Roberto Arruda no suposto esquema de corrupção montado no GDF. Ele aparece em vídeo no qual o ex-secretário de Relações Institucionais distribui dinheiro de origem duvidosa.
Numa conversa informal com os dois promotores do Ministério Público do DF e Territórios (Sergio Bruno e Eduardo Gazzinelli) que estiveram na Superintendência da PF na manhã de ontem, Toledo afirmou que tem informações para revelar e argumentou que os depoimentos de Durval Barbosa não podem ser tomados como verdade antes de serem confrontados com outras versões. Formalmente, no entanto, o policial aposentado usou o direito de permanecer calado e de não responder às perguntas dos promotores.
Revelações
Fábio Simão também usou um preceito jurídico para adiar as revelações que pretende fazer sobre o caso. Ele não compareceu ao depoimento marcado para as 14h30 de ontem, alegando o direito de ter acesso aos autos do processo. ;Estou doidinho para falar. Não pensem que vou ficar calado, porque isso não ocorrerá. Mas antes tenho o direito de conhecer exatamente o que há contra mim no processo e é por isso que adiei o meu depoimento;, avisou Fábio Simão. Ele foi alvo de busca e apreensão da Polícia Federal em novembro e teve os sigilos bancário e fiscal quebrados durante as investigações.
Outros dois depoimentos estão marcados para a manhã de hoje na Superintendência da Polícia Federal.
1 - Recompensa
A delação premiada é um instrumento usado pela Justiça para obter a colaboração de pessoas processadas. Em troca de informações que ajudem a solucionar os casos em apuração, o acusado poderá ter uma redução da pena.
Quem é quem
Marcelo Toledo Watson
O policial civil aposentado é apontado nas investigações da Operação Caixa de Pandora como um dos operadores do suposto esquema de corrupção envolvendo a cúpula do GDF. Toledo foi gravado entregando um pacote de dinheiro ao ex-assessor de imprensa do governo, Omézio Pontes. Durante o encontro, ele disse ao ex-secretário de Relações Institucionais do governo, Durval Barbosa que o vice-governador Paulo Octávio (DEM) precisava de mais dinheiro para a campanha dos prefeitos. Toledo é sócio da empresa Voxtec Engenharia e Sistemas Ltda., que faz parte do consórcio que começou a executar, em janeiro de 2009, um contrato no valor de R$ 21 milhões com o Transporte Urbano do Distrito Federal (o DFTrans).
Fábio Simão
O ex-chefe de gabinete do governador José Roberto Arruda (sem partido) foi alvo de busca e apreensão no dia da Operação Caixa de Pandora, em 27 de novembro do ano passado. A Polícia Federal encontrou na sala de trabalho dele, no anexo da residência oficial do governador, em Águas Claras, cédulas de dinheiro da série A3569 ; cuja origem é investigada na operação. Na semana passada, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) autorizou o pedido do Ministério Público Federal (MPF) para a abertura dos sigilos bancário e fiscal de Simão e mais oito acusados de envolvimento no escândalo, inclusive Arruda.