Cidades

Parentes dos cinco jovens desaparecidos em Luziânia pedem mais segurança em protesto

Ainda não há pistas dos garotos

postado em 23/01/2010 07:01
Momentos antes de sumir, Flávio Augusto Fernandes dos Santos, 14 anos, esteve numa oficina de bicicleta na Avenida Alfredo Nasser de Luziânia (GO), por volta das 10h de segunda-feira última. O momento do desaparecimento dele poderia ter sido registrado por uma das duas câmeras instaladas num poste de iluminação ; a 100 metros da oficina. Mas os equipamentos estão desligados há mais de um ano, quando a prefeitura recebeu a verba do governo federal para a compra do equipamento. A ligação das câmeras foi uma das reivindicações da passeata de ontem que reuniu 200 pessoas, entre elas familiares e amigos dos cinco adolescentes desaparecidos em menos de 20 dias na cidade goiana. Todos os casos ocorreram em um mesmo bairro: Parque Estrela Dalva, conforme divulgou o Correio com exclusividade no último dia 16.

O protesto nas ruas de Luziânia surtiu efeito. O secretário de Segurança Pública do Estado de Goiás, Ernesto Roller, determinou que o Serviço de Inteligência da Polícia Civil ajude nas investigações. O Gabinete de Gestão Integrada do Entorno ; composto por representantes das secretarias de Minas Gerais, Goiás e Brasília ; também se ofereceu para auxiliar as buscas aos cinco jovens desaparecidos. A Secretaria de Segurança do DF, inclusive, disponibilizou o banco de dados de inteligência para as autoridades goianas.

A passeata começou por volta das 9h40. Mesmo debaixo de um sol forte, parentes e amigos de Diego Alves Rodrigues, 13 anos, Paulo Victor Vieira de Azevedo Lima, 16, George Rabelo dos Santos, 17, Divino Luiz Lopes da Silva, 16, além de Flávio, não desanimaram em percorrer a pé os 5km que ligam o Hospital Regional de Luziânia e a prefeitura. Durante a manifestação, foi cobrada do governo goiano mais segurança pública. ;É preciso mais recursos (humano e material) para os Ciops do Entorno;, cobrou Sônia Vieira Azevedo Lima, 45, mãe de Paulo Victor, que sumiu no dia 4, do Parque Estrela Dalva 7.

Aos gritos de ;queremos segurança;, os manifestantes ganharam as ruas da cidade erguendo faixas e cartazes. Interditaram o trânsito no sentido ao centro, mas não houve congestionamento. Um carro de som cedido por um supermercado tentava sensibilizar o restante da população para aderir ao movimento com o aviso de que ;os adolescentes estão desaparecendo;.

Barrados

Eles chegaram uma hora depois na prefeitura, mas foram barrados na porta, porque o prefeito Célio Silveira está em férias. Depois de muita negociação, o presidente do Gabinete de Gestão Integrada do Município, Liosório Meireles, concordou em deixar entrar uma comissão composta parentes dos desaparecidos para falar com o vice-prefeito, Elizeu de Araújo Melo. ;O não funcionamento das 26 câmeras do circuito de tv (instaladas nas ruas) se deve ao fato de não haver profissionais especializados para trabalhar na central de monitoramento;, ressaltou ele.

Enquanto isso, uma equipe de investigadores do Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) estava em Brasília para checar o endereço de uma mulher que afirmou ter visto um dos adolescentes em Barreiras (BA) ; a 600km de Brasília. Segundo a informante, Paulo Victor trabalha para pagar uma dívida. Ela forneceu a placa de um carro onde viu a vítima a bordo. Os policiais conseguiram rastrear o telefone da informante e descobriram que ela reside no DF. A cidade não foi revelada.

A informação reforça a tese policial de trabalho escravo. Mas as outras linhas não estão afastadas, como, por exemplo, homicídio e até tráfico de órgãos ou pedofilia. ;Eles podem também ter brigado com a mãe e, por isso, fugido de casa. Tudo é admissível;, diz o delegado Rosivaldo Linhares. O policial afirmou que, na próxima semana, deve divulgar os retratos falados de dois suspeitos.


DENUNCIE

Quem tiver informação que possa ajudar a polícia de Luziânia pode entrar em contato com o Ciops pelo telefone 3620-2416. É possível ligar também para o S.O.S Criança. Basta discar o número 100.

; Para saber mais
Cadastro nacional


Procurar pessoas desaparecidas em todo o país pode se tornar mais fácil com a Lei n; 12.127/09, que entrou em vigor no dia 18 de dezembro último. Ela tem como objetivo principal criar um banco de dados com informações sobre crianças e adolescentes que são procurados pelos seus familiares. Os dados pessoais servem para integrar e facilitar o acesso às informações em todo o país e tornar mais ágil o trabalho policial de busca e localização. O cadastro terá informações sobre características físicas e dados de crianças e adolescentes sumidos que tenham sido registrados em órgão de segurança pública federal ou estadual. Os custos relativos ao desenvolvimento, à instalação e à manutenção da base de dados são arcados pelo Fundo Nacional de Segurança Pública.

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