Cidades

Mundial de 2014 já sacode economia brasiliense

Mariana Flores
postado em 24/01/2010 08:27
Quatro anos antes do início, a Copa do Mundo começa a movimentar a economia brasiliense. As possibilidades de negócios trazidas com os turistas estão levando empresários a formatar produtos e serviços que possam ser vendáveis em 2014. Até mesmo as Olimpíadas, que serão realizadas dois anos depois, enchem os olhos dos negociantes, já que Brasília sediará algumas partidas de futebol das Olimpíadas, que ocorrerão no Rio de Janeiro De cursos de inglês a fabricantes de móveis, as oportunidades são muitas. A estimativa é de que 55 segmentos produtivos sejam afetados em todo o país. Os profissionais também começam a se capacitar para adaptar o currículo às exigências que devem ser feitas no período. A movimentação no mercado de trabalho promete ser intensa, na avaliação de especialistas. Em todo o país, estimativas das instituições de pesquisa a pedido do Ministério do Esporte mostram que a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 devem levar a um giro superior a R$ 255 bilhões até 2027 na economia, quando o país ainda sentirá os efeitos positivos de abrigar os dois principais eventos esportivos internacionais. A oferta do governo federal de linhas especiais de crédito para reformas e ampliações no setor hoteleiro levou Rafael Bomtempo e seu pai, Roberto Bomtempo, a investirem mais de R$ 2 milhões na construção de uma segunda unidade de sua fábrica de móveis. Atualmente, a MB Ambientes tem uma unidade fabril em Taguatinga e duas lojas de venda para o varejo. Mas está em andamento uma segunda fábrica que será voltada exclusivamente para atender o setor hoteleiro e das licitações públicas. Dois hotéis fizeram encomendas para a modernização do mobiliário e atender bem os turistas que desembarcarão na cidade para assistir os jogos. "Pensamos nessa nova fábrica porque os hotéis brasilienses precisam adaptar seus apartamentos antigos. Vamos estar voltados exclusivamente para atendê-los", explica Rafael. Antevendo que surgirá a necessidade de uma segunda língua para os profissionais brasileiros, a Wizard, escola de idiomas com 1,2 mil unidades no Brasil e no mundo - sendo 36 no DF -, formatou um curso específico para para atender a Copa. A instituição criou o Wizard University, programa que terá quatro anos de graduação com opção de mais dois anos de complementação, assim como ocorre em um curso universitário. O período tradicional de formação é de 8 a 12 anos. Além do tempo, a forma de matrícula também será diferente. O aluno poderá pagar pelos quatro anos, assim como faz nas faculdades. O curso não será semestral, como em outros programas de línguas, mas anual. "A expectativa é de que somente o novo programa represente um incremento de alunos superior a 10% (hoje a instituição possui 500 mil alunos). Muita gente que no momento não tem necessidade de falar inglês deve passar a estudar, como taxistas, recepcionistas, garçons, vendedores, entre outros profissionais. As pessoas terão que falar pelo menos o inglês para não perderem oportunidades de negócios", afirma o diretor de Marketing da Wizard, Roberto Massinelli Junior. Expectativa agita o mercado Os currículos dos brasilienses começam a ser adaptados para agradar aos empregadores em 2014 e em 2016. A fluência em línguas deve ser a demanda mais abrangente, mas as possibilidades de especialização podem ser bem maiores. Em todo o Brasil, a expectativa é que o número de empregos criados tenha mais de sete dígitos. E os profissionais devem se preparar com antecedência para garantir um dinheiro extra. "As empresas já estão incluindo em seus planejamentos estratégicos objetivos ligados à Copa, entre os quais, buscar uma rede de recursos humanos que atenda. Por isso as pessoas já devem começar a se preparar", afirma a especialista em recrutamento de pessoal Carmen Cavalcanti, diretora da Rhaiz Soluções em RH. "A pessoa tem que ser especialista em gestão e em serviços, além de ser bilingue. O mercado de trabalho deve ter muita demanda na área de saúde desportiva, de segurança, de tecnologia da informação e de organização de eventos", completa. Há 30 anos na capital federal, a União Educacional de Brasília (Uneb) tentou se antecipar lançando dois cursos de especialização específicos para capacitar profissionais que queiram acrescentar ao currículo a palavra Copa do Mundo. A partir de fevereiro, vai oferecer as pós-graduações: Gestão estratégica do turismo e hospitalidade (Programa de executivos para as Olimpíadas e Copa do Mundo) e Jornalismo esportivo e negócios do esporte. Os preços são similares aos cobrados pela instituição em outras especializações: em torno de R$ 3,6 mil por 18 meses de aulas. "O mercado de trabalho sofre alterações com esses grandes eventos, assim como há necessidade de infraestrutura e logística, há também de mão de obra", avalia o diretor da Uneb, Pedro Ivo Hermida. A instituição já conta com mais de 50 inscritos. Uma das alunas matriculadas é a servidora Tereza do Nascimento, de 44 anos. Com previsão de se aposentar antes do início da Copa, sua meta é conseguir uma ocupação durante o evento. Em seu currículo, constam cursos na área de gestão em hotelaria. E vai ganhar a pós-graduação em gestão estratégica do turismo e hospitalidade. "Quero conseguir uma ocupação durante a Copa. E, se ela fosse este ano, o país teria poucos profissionais preparados, então acho que os que estão se capacitando vão sair na frente. Creio que teremos prioridade na hora da contratação", torce. COMO IDENTIFICAR OPORTUNIDADES Com a intenção de ajudar quem quer ganhar dinheiro com os campeonatos esportivos, o Sebrae montou uma comissão para ajudar micro e pequenos empresários a identificar oportunidades de negócios. Nas 12 cidades-sede da Copa, as unidades estaduais estarão capacitadas a orientar os negociantes. "Os efeitos são muito amplos, é preciso identificar a oportunidade e atuar de maneira acelerada. E os efeitos não devem ficar restritos ao período da Copa, é preciso que a inovação gere um legado de sustentabilidade do negócio", afirma o coordenador de Projetos de Turismo do Sebrae Nacional, Dival Schmidt Filho. Ele prevê que até mesmo empresas de tecnologia da informação devem ganhar dinheiro, destaca. "Uma empresa pode, por exemplo, desenvolver um software de tradução simultânea para ser instalado nos táxis das cidades-sede", exemplifica. Em Brasília, a expectativa é de que a realização da Copa movimente desde o setor rural, passando pelo artesanato, até o varejo, segundo a diretora do Sebrae DF, Maria Eulália Franco. "Todos os setores econômicos serão impactados. Eles estão preocupados. Percebemos isso, pelo aumento da demanda por informações", afirma. SAIBA MAIS Brasília é uma das 12 capitais que vão sediar jogos da Copa de 2014. A cidade ainda disputa com São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte a possibilidade de abrir o evento. Em 2016, a capital federal será um dos locais em que ocorrerão as partidas de futebol das Olimpíadas. Previsão de impacto na economia R$ 155,7 bilhões Estimativa de quanto a Copa do Mundo movimentará em investimentos públicos e privados em todo o país até 2014, segundo estudo da Fundação Getulio Vargas R$ 102,2 bilhões Volume estimado de investimentos impulsionados pelas Olimpíadas, de acordo com o estudo da Fundação Instituto de Administração (FIA) a pedido do Ministério do Esporte. 240 Número de países que estarão com com as atenções voltadas para o Brasil em 2014 500 mil Previsão do número de turistas que deverão desembarcar no país por causa da Copa do Mundo

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