Cidades

Caixa de Pandora derrubou candidaturas consolidadas e cronômetro está zerado

postado em 24/01/2010 08:37
De dentro da Caixa de Pandora saíram revelações com força para devastar o cenário eleitoral até dois meses atrás praticamente definido em favor da reeleição de José Roberto Arruda (DEM). As denúncias de corrupção implodiram as pretensões do grupo governista para outubro e realçaram o potencial eleitoral de segmentos até então adormecidos na política candanga. A crise instalada na política local promete ecoar em todas as instâncias das eleições deste ano. Da escolha dos distritais aos deputados federais, passando pelo Senado até chegar ao GDF, todo o tabuleiro será influenciado pelas surpresas de Pandora. Dos 24 distritais, oito são investigados no Inquérito nº 650 do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que apura a suposta rede de pagamento de propinas de Executivo para a base aliada na Câmara Legislativa. Desses, dois não podem sequer concorrer porque perderam a legenda. Um grupo ainda mais extenso de 19 deputados que apoiam Arruda sabe que o desgaste de um governo enfraquecido pode prejudicá-los nas urnas e há pelo menos quatro nomes entre os não citados no escândalo com planos de concorrer a cargos federais. Com um estrago que transborda o número de titulares e atinge até dois suplentes, a expectativa é de renovação na Câmara Legislativa. Apesar da dança de cadeiras prevista, a crise envolvendo um terço dos integrantes da Câmara no DF deve facilitar o ingresso no Legislativo local. O escândalo de corrupção sem precedentes na história política do DF tende a aumentar o número de votos brancos e nulos nas eleições para o cargo em outubro, o que vai diminuir a quantidade de votos válidos e, por consequência, o quociente eleitoral (o mínimo necessário para eleger um distrital). Assim, é possível, ainda que numa expressão de protesto, que os deputados da próxima legislatura se elejam por um grupo menor de eleitores. Na esfera federal, a Câmara dos Deputados concentrará os esforços dos partidos em outubro. O grupo de esquerda, capitaneado pelo PT, sairá mais forte da crise - caso consiga se desviar dos escândalos até as eleições - e terá chances reais de fazer mais representantes no Congresso. A expectativa do partido é consolidar a aliança com o PDT, o PSB e eventualmente com o PMDB, coligação que criaria condições para eleger até cinco candidatos, situação inédita para a esquerda, que chegou a ter quatro representantes no passado, mas só conseguiu dois nomes nas eleições de 2006. E o que parece viável para a esquerda tornou-se um desafio ao grupo atingido pelas denúncias. Integrantes do DEM que, num passado recente, disputaram a preferência de Arruda e do partido para concorrer ao Senado agora não conseguem sequer prever uma boa performance na briga pela vaga de deputado federal. Assim, o vetor sobrecarregado com pelo menos seis nomes (leia no quadro) e que, antes da crise, apontava para o cargo majoritário no Congresso Nacional fará um recuo com destino à Câmara dos Deputados. O vice-governador Paulo Octávio (DEM), que mantinha como hipótese mais modesta de suas pretensões para o pleito deste ano a disputa ao Senado, não deverá se arriscar. Já descartou concorrer ao governo, mas, por enquanto, não admite ficar de fora da disputa eleitoral. Estuda as chances para se candidatar à Câmara. A maior incógnita O cargo mais concorrido no DF também é o que apresenta cenário mais improvável. Ao mesmo tempo em que os escândalos reforçam a participação do PT na corrida pelo Buriti, abrem espaço para balões de ensaio sobre as candidaturas de José Antônio Reguffe (PDT) e Rodrigo Rollemberg (PSB) e encorajam alas mais radicais da esquerda, como o PSTU; a crise pode ainda restringir as eleições a um duelo entre o PT e Joaquim Roriz (PSC). Mas há muita água para correr antes da confirmação desse quadro. Ainda é precipitado medir a força que o ex-governador terá e como poderá distribui-la aos aliados. O grupo de Roriz aguarda com desconfiança a poeira baixar para saber o nível de comprometimento e medir as avarias que as denúncias podem causar ao ex-governador nas urnas. Nos bastidores da política, há quem aposte que Roriz não sobreviverá politicamente até outubro. Como resultado dos últimos acontecimentos, o PT deu um passo para trás retomando o debate sobre quem será o candidato da legenda com mais chances em outubro (Agnelo Queiroz ou Geraldo Magela), situação que pode evoluir para uma briga interna. A projeção do PT em Brasília no próximo pleito pode encurtar, no entanto, o que seria um debate desgastante para a legenda. Convencido sobre o potencial do partido em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve dar ele próprio um veredicto sobre a escolha do candidato. Lula disse a lideranças do partido no DF que vai acompanhar de perto a situação local e mandou um recado para Cristovam Buarque sobre o gosto que faz da aproximação entre o PDT e o PT local. Confira os cenários políticos para as disputas aos cargos eletivos no Distrito Federal: Deputado distrital A tendência é de renovação. De 24 distritais, oito estão no centro da crise de corrupção no DF. São eles: Leonardo Prudente (sem partido), Eurides Brito (PMDB), Júnior Brunelli (PSC), Rogério Ulysses (sem partido), Benício Tavares (PMDB), Rôney Nemer (PMDB), Aylton Gomes (PR), Benedito Domingos (PP). Além deles, estão implicados os suplentes Berinaldo Pontes (PP) e Pedro do Ovo (PRP). Junto, esse grupo recebeu 148.704 votos em 2006. Mas agora sangram com as denúncias. Em função dos escândalos, Prudente e Rogério Ulysses perderam a legenda e não podem sequer concorrer, 19 distritais da base de apoio ao governo experimentam o desgaste de um governo atingido por denúncias e, entre os não citados no caso de corrupção, há pelo menos cinco que não vão concorrer à reeleição. Devem se candidatar a deputado federal. A crise ainda tende a jogar para baixo o quociente eleitoral das próximas eleições na Câmara Legislativa, ou seja, o mínimo necessário para se eleger um distrital. A razão entre o número de votos válidos e a quantidade de vagas na Casa (24) deve ser menor em outubro próximo. Isso porque uma das consequências do escândalo de corrupção que atingiu os políticos de Brasília praticamente em ano eleitoral, de deputados a integrantes de governo, será o incentivo ao aumento do votos brancos e nulos, que não são levados em conta na distribuição das vagas de distrital. Deputado federal A crise derivada da Operação Caixa de Pandora provocou dois movimentos inversos na política local. De um lado, enfraqueceu governistas que sonhavam com a vaga ao Senado e, agora, consideram a eleição para a Câmara o paraíso. De outro, fortaleceu as esperanças de candidatos de oposição que sonhavam com a Câmara dos Deputados, mas sabiam do desafio de enfrentar a força (agora combalida) de um palanque governista. Por isso, o cargo reunirá as principais apostas dos partidos. A reviravolta no cenário político, portanto, faz o grupo de esquerda acreditar que poderá eleger quatro deputados federais - ou cinco, se conseguir fechar com o PMDB . Eis os nomes cotados: Paulo Tadeu (PT), José Antônio Reguffe (PDT), Érika Kokay (PT) e Rodrigo Rollemberg (PSB). Hoje há apenas dois representantes na Casa, Rodrigo e Geraldo Magella (PT). Entre os representantes do grupo governista que se salvaram até o momento, Eliana Pedrosa (DEM), Alberto Fraga (DEM), Osório Adriano (DEM) e até Paulo Octávio (DEM) - ele é citado no escândalo, mas tem sido blindado pelo partido - se dariam por satisfeitos com uma vaga de federal. Senador No auge do governo, a indicação para uma das duas vagas ao Senado que serão abertas em outubro chegou a ser motivo de crise interna no Democratas. O vice-governador Paulo Octávio, os deputados federais Alberto Fraga e Robson Rodovalho (até então filiado ao Democratas), os distritais Júnior Brunelli e Eliana Pedrosa, além do senador Adelmir Santana (DEM) se consideravam fortes o suficiente para a disputa majoritária. Além deles, outros nomes da base de apoio, como o de Tadeu Filippelli (PMDB), apimentavam a briga. Com o escândalo que levou ao chão o palanque governista, a eleição ao Senado tornou-se improvável para a maioria dos nomes acima. Quem ainda enxerga alguma chance é Rodovalho, que migrou para o PP antes do escândalo e eliminou da disputa Brunelli, com quem divide a base de evangélicos. Adelmir Santana, por sua vez, não foi citado nas denúncias, mas, como não passou no teste das urnas (ele chegou ao Senado como suplente de Paulo Octávio), é difícil prever como será seu desempenho em condições nada favoráveis para o partido pelo qual pode ser candidato. Mesmo antes da crise, uma vaga já era dada como certa para a reeleição de Cristovam Buarque (PDT). Governador do Distrito Federal Até 27 de novembro, data da Operação Caixa de Pandora, a vaga de governador do DF estava praticamente reservada à reeleição de Arruda - como apontavam as pesquisas. Agora, ela é a principal dúvida para outubro. A saída do páreo do grupo que está no poder (a dobradinha Arruda e Paulo Octávio) realçou a participação da esquerda nas eleições e até abriu margem para balão de ensaio de novas candidaturas, como as de José Antônio Reguffe (PDT) e de Rodrigo Rollemberg (PSB). A frente ligada a Roriz aguarda os novos capítulos do escândalo para se consolidar como o adversário principal no duelo provável contra o PT. Nos bastidores da política local, há quem aposte, no entanto, que Roriz não resistirá aos futuros desdobramentos da crise, sendo afastado da disputa, o que deixaria o cenário ainda mais embaralhado.

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