Naira Trindade
postado em 24/01/2010 23:44
Mais um desaparecimento de jovem aumenta o pânico dos moradores de Luziânia ; município distante 66km de Brasília. A polícia registrou ontem que Márcio Luiz de Souza Lopes, 19 anos, não dá notícias à família desde a última sexta-feira, quando saiu de casa, no Parque Estrela Dalva 4, montado em sua bicicleta azul. O ajudante de serralheiro é o único maior de idade entre os seis jovens que desapareceram do bairro desde 30 de dezembro de 2009. Nenhum deles têm passagem pela polícia nem, de acordo com familiares, envolvimento com drogas. O sumiço misterioso dos rapazes ; até então quatro ; foi publicado com exclusividade pelo Correio em 16 de janeiro.Os familiares de Márcio Luiz não sabem mais onde procurar pelo filho. Há três dias, eles percorrem todos os bairros de Luziânia atrás de informações que levem ao paradeiro do garoto. Hospitais, delegacias e até o Instituto de Medicina Legal (IML) já foram verificados. Para superar a ausência de notícias do caçula, a mãe, Maria Lúcia Souza Lopes, 50 anos, está praticamente dopada ; toma 12 comprimidos por dia para controlar a hipertensão. O pai, José Luiz da Silva Lopes, 54, chora só de pensar no que pode ter acontecido com o filho: ;Ele é um moço bom, trabalhador;.
Na última sexta-feira, Márcio trabalhou durante o dia inteiro, na serralheria próxima à casa dele. No fim do expediente, por volta das 17h30, voltou para casa e pegou a bicicleta azul. Sem trocar a roupa do trabalho ; calça cinza, botas de couro e camisa vermelha ;, o jovem saiu. Não havia ninguém em casa para ele avisar onde iria. O vizinho José Neto da Silva o viu passando e até chegou a cumprimentá-lo. ;Ia perguntar onde ele ia, mas deixei para lá porque pensei que fosse namorar;, disse.
Márcio é o único filho que ainda mora com os pais. No total, são seis irmãos. Para dar privacidade ao jovem, José Luiz construiu um barraco de dois cômodos nos fundo da casa, onde há um quarto e uma cozinha mobiliados. O rapaz de 19 anos morava lá. ;É mais uma razão para ele não querer fugir de casa;, ressalta a mãe.
Sem grades
O sumiço dos seis garotos em horários parecidos, entre as 14h e as 18h, tem deixado pais do Parque Estrela Dalva mais tensos e cautelosos. A simplicidade das casas ; sem grades ou equipamentos de segurança ; demostra a tranquilidade e a vida pacata do lugar, cuja população é de baixa renda, mas não está entre as mais pobres do município goiano. Até um mês atrás, não havia muitos relatos de assaltos e outros crimes. As crianças tinham segurança para brincar livremente nas ruas, sem que um adulto tivesse de vigiá-las durante a diversão. O Parque Estrela Dalva é subdividido em minibairros: levam o mesmo nome, acrescidos dos números 1 a 8.
No entanto, desde 30 de dezembro, quando Diego Alves Rodrigues, 13 anos, desapareceu, o medo se espalhou no setor habitacional. Diego saiu de casa, no Parque Estrela Dalva 4, para ir a uma oficina de carros no mesmo bairro. Ele nunca mais foi visto. Depois dele, sumiram Paulo Victor Vieira de Azevedo Lima, 16 anos; George Rabelo dos Santos, 17; Flávio Augusto Fernandes dos Santos, 14; e Divino Luiz Lopes da Silva, 16. Nenhum deles se conhecia nem era considerado rebelde pelos familiares.
O delegado-chefe da 1; Delegacia Distrital de Polícia de Luziânia, Rosivaldo Linhares, responsável pelo caso não retornou às ligações. As linhas de investigação são sequestro para trabalho escravo e fuga. Os policiais seguem uma terceira hipótese, mas não a revelaram.
Alguns fogem de casa
Em meio à insegurança dos moradores de Luziânia (GO) devido aos seis desaparecimentos registrados na 1; Delegacia Distrital em menos de 30 dias, dois jovens saem de casa e passam a noite com parentes ou amigos sem avisar. Resultado: deixam os pais em desespero. Os responsáveis chegaram a procurar a polícia e a registrar ocorrência. Felizmente, ambos apareceram.
No último sábado, familiares de um garoto de 15 anos que mora do Parque Estrela Dalva 8 começaram as buscas após perceberem que o menino não retornara para casa depois do culto evangélico da Assembleia de Deus, que acontecera das 14h às 18h. A mãe e o padrasto dele foram a vários locais. Na manhã de ontem, com menos de 24 horas do desaparecimento, encaminharam-se à delegacia, onde registraram o sumiço. Cerca de três horas depois, o menino foi encontrado na chácara do padrinho. ;Eu queria morar com ele. Não gosto da cidade, gosto da fazenda;, justificou o garoto, que havia levado duas trouxas de roupa.
No fim da tarde de quinta-feira, por volta das 18h, Danilo Jahil Donizeth Silva, 22 anos, se dirigiu à casa da cunhada, onde pegaria um carrinho de bebê, no centro de Luziânia. No endereço, teria dito a ela que iria resolver um ;negócio; e que voltaria em seguida. Não retornou, e a família começou a procurá-lo. Na noite do último sábado, o jovem ; que é pai de um bebê de 11 meses ; apareceu. ;Eu estava na casa de um amigo, em Brasília. Briguei com a minha esposa e resolvi sair para espairecer a cabeça. Não sabia que estavam preocupados comigo;, contou ao Correio, por telefone.