Cidades

Esquema desbaratado pelo PF na Caixa de Pandora vinha desde a gestão Roriz

De acordo com investigadores da PF, Pedro Passos teria enviado carta a Arruda, na qual relata o recebimento de propina na época do governo anterior. Autor do texto pede nova mesada e sugere até a quantia que gostaria de ganhar

postado em 25/01/2010 07:50
Uma carta apreendida pela Polícia Federal na casa do ex-chefe de gabinete do governador José Roberto Arruda (sem partido) e conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Distrito Federal, Domingos Lamoglia, levanta suspeitas de que o pagamento de propina era uma prática comum desde o governo de Joaquim Roriz. A correspondência é atribuída ao ex-deputado distrital Pedro Passos, como revelou reportagem da revista Época. Em duas laudas, Passos dá notícias sobre sua situação financeira, descreve o esquema que mantinha durante a gestão de Roriz e pede mesada ao governador Arruda.

A carta é datilografada e estava assinada com as iniciais P.P., que, segundo os investigadores da Caixa de Pandora, identificam Pedro Passos. Em 2007, ele renunciou ao mandato na Câmara Legislativa para evitar o processo de quebra de decoro parlamentar por ser acusado de atuar num esquema de pagamento de propina investigado na Operação Navalha da Polícia Federal. Caso seja comprovada a veracidade da autoria no curso das apurações, não será a primeira vez que o ex-distrital usa do expediente da correspondência para cobrar apoio financeiro de aliados políticos no poder.

Durante a administração Roriz, Passos teria escrito um desabafo de 10 páginas exigindo mais consideração do ex-governador. Na ocasião, o ex-distrital, segundo uma fonte que teve acesso à carta, teria reclamado porque estaria sendo atrapalhado em seus negócios nos condomínios. Passos chegou, de acordo com o relato de seu interlocutor, a dizer que o trânsito que tinha no governo de oposição de Cristovam Buarque era mais fácil que o espaço na administração do aliado Roriz.

Dívidas


Na carta apreendida pela PF durante a Operação Caixa de Pandora, P.P. faz menção à administração de Roriz ao sugerir para Arruda que reprise sua situação anterior, enumerada em cinco itens: Detran (; ou ; 150 mês;), Valério (;50 mês;), Estrutura da CLDF, maior espaço no GDF e diversos outros negócios recorrentes de outros mandatos. Em seguida, o ex-distrital teria anunciado que ;as cinco situações anteriores já não existem mais; para então desfiar percalços financeiros por que passaria: ;Reduzi drasticamente despesas e me adaptei ao momento atual. Mesmo assim, remanescem dívidas, criadas na expectativa de que a situação anterior fosse mantida;.

Por meio da correspondência, Passos supostamente pede a Arruda uma ajuda financeira para evitar que tenha de vender seus bens de família. Quer R$ 1.500 agora e R$ 100 por mês, valores que, de acordo com a reportagem da Época são na verdade cifras milionárias: R$ 1,5 milhão e R$ 100 mil mensais. P.P. diz que seu destinatário não se arrependerá da ajuda e que conta com ;boa vontade, compreensão, generosidade e desprendimento; de Arruda. O ex-distrital se despede com a promessa de se tornar eternamente grato ao governador Arruda.

O Correio tentou fazer contato com o ex-distrital Pedro Passos e com o ex-chefe de gabinete de Arruda, Domingos Lamoglia, mas, até o fechamento da edição impressa, não conseguiu localizá-los.

Garantia de apoio

Deflagrada em 27 de novembro, a Operação Caixa de Pandora investiga um suposto esquema de corrupção envolvendo integrantes do governo, distritais e empresas contratadas pelo GDF. Segundo as investigações conduzidas pelo Ministério Público e Polícia Federal, deputados da base de apoio ao governador José Roberto Arruda recebiam mesada paga com dinheiro extorquido de empresários para votarem de acordo com os interesses do Executivo.

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