Cidades

Entulho toma conta do Polo da Moda do Guará

postado em 26/01/2010 10:45
Descaso. É essa a palavra que vem à mente de quem trabalha ou mora no Polo de Moda do Guará quando se fala do local. A comunidade está incomodada com o entulho que toma conta das ruas do loteamento, construído há mais de 10 anos para abrigar empresas especializadas na produção de roupas e calçados. É pau, pedra, brita, areia e restos de cimento em praticamente todas as ruas. Para piorar a situação, o mato está muito alto em canteiros e terrenos baldios, problema que implica diretamente a segurança de quem circula por ali. Após ouvir os moradores, o Correio procurou a Administração Regional da cidade, que prometeu trabalhar para sanar os problemas.

O lixo se amontoa pelas ruas da cidade, trazendo a reboque animais peçonhentos. A clientela se assustaNa Rua 9 do Polo de Moda, até a carcaça enferrujada e retorcida de uma Parati fabricada nos anos 80 repousa onde deveria existir uma calçada. ;Se você fosse um cliente, quisesse comprar alguma coisa, com certeza ficaria com receio deste lugar;, avalia Selma Araújo, 60 anos, dona de uma padaria no local. ;Eu investi aqui, como muitos, acreditando nas promessas de que seria um grande e próspero setor. Mas não é isso que vejo;, relata ela, que, no último período seco, foi picada por um escorpião. ;Eles vivem aparecendo por aqui. Não é difícil imaginar onde se escondem;, reclama, apontando para um monte de tijolos.

As dezenas de obras em andamento ajudam a explicar a quantidade de entulho. Idealizado para abrigar 460 empresas do ramo da moda(1), o setor acabou se diversificando. Hoje, são centenas de pequenos apartamentos e quitinetes, bares e lojas de todos os tipos. Confecções e fábricas de sapatos não chegam a 200. ;Tem muitas obras, mas isso não precisa significar que o lixo vá ficar aí para sempre. Águas Claras, por exemplo, tem muito mais obras e as ruas são limpas;, compara o operário Ermídio Gonçalves, 28 anos, que trabalha em uma confecção. ;Essa situação até desanima a gente de trabalhar aqui. Fora que fui assaltado no mês passado, já pela segunda vez;, completa ele.

Desrespeito
Há placas da administração nos terrenos públicos vazios proibindo o depósito de entulhos, mas isso não intimida quem não quer gastar mais jogando o lixo em local apropriado. Alguns montes de areia e brita estão na região há tanto tempo que já há árvores crescendo neles. A vegetação, aliás, é outro motivo para reclamações. ;O mato está tomando conta do Polo de Moda. E é isso todo ano. Eles vêm aqui e cortam depois de muita reclamação, mas depois esquecem;, conta o pedreiro Antônio Carlos Aguiar, 40 anos, que mora e trabalha no local. ;Eu já encontrei até cobra quando estava indo para o trabalho. E os assaltos são constantes. Isso é uma questão de segurança pública da comunidade;, avalia ele.

A Administração Regional do Guará promete esforços para resolver os problemas. Via assessoria de comunicação, o órgão informou que o Serviço de Limpeza Urbana (SLU) passa pelo local diariamente recolhendo lixo, mas que não trabalha com entulho. Por isso, a diretoria de obras da administração será acionada para fazer uma operação com máquinas no Polo de Moda. Quanto ao mato alto, a administração informa que a responsabilidade pela poda é da Novacap, mas que seria enviado um pedido de urgência para que a região fosse inserida logo no cronograma.

1 - Promessas distantes
Quando lançou o Polo de Moda, em 2000, o governo prometeu aos empresários um espaço onde eles pudessem se instalar e produzir com apoio e visibilidade. Dezenas de empresas se transferiram imediatamente para lá com a ajuda do programa de financiamento Pró-DF. Em 2003, porém, nem um terço do espaço havia sido ocupado e problemas de infraestrutura espantavam clientes. Hoje há asfalto e saneamento básico, mas a sensação de abandono ainda existe. Outra promessa era a de que o setor movimentaria R$ 35 milhões por mês, mas nem metade desse valor foi alcançado até hoje.

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