Cidades

Setor de vestuário prevê ganho de R$ 500 milhões

Embora ocupe espaço bem mais modesto do que as concorrentes de outros estados, a indústria de confecções brasiliense conquista consumidores fora do DF e registra faturamento crescente a cada ano

postado em 27/01/2010 08:34
Em um galpão de 200 metros quadrados no Polo de Modas do Guará (1), costureiras se revezam o dia inteiro em 14 máquinas de costura. O trabalho é frenético no espaço onde ocorrem a modelagem, o corte e a confecção de camisetas e camisas polo masculinas. Por mês, saem prontas dali cerca de 6 mil peças com a marca brasiliense Upper. Vinte representantes comerciais fazem as roupas chegarem a todos os cantos do país, com exceção do Rio de Janeiro, de São Paulo e, estranhamente, de Brasília. ;As pessoas não valorizam o que é daqui;, comenta a dona da empresa de confecção, Lucy Moura. Enquanto isso, além de fazer a Upper ser conhecida Brasil afora, a empresária produz para outras cinco marcas famosas instaladas na capital federal.

Lucy Moura exporta para outros estados e lamenta que o brasiliense não valorize a produção domésticaAssim, sem muito alarde, os negócios de Lucy e o mercado de confecção do Distrito Federal se mostram a cada ano mais promissores. Existem cerca de 800 empresas do ramo, concentradas principalmente no Plano Piloto, no Guará, em Taguatinga, Ceilândia e Samambaia. O número de estabelecimentos formais não varia muito desde 2000, de acordo com o Sindicato das Indústrias do Vestuário do DF (Sindiveste-DF). A demanda e o faturamento do setor, no entanto, não param de crescer.

Mesmo com galpões até três vezes menores em comparação aos de Goiás, Minas Gerais e São Paulo, estados referências em confecção, as empresas do DF não ficam atrás em volume de produção. Em 2008, o setor movimentou R$ 480 milhões, R$ 10 milhões a mais do que em 2007. Os números de 2009 ainda não terminaram de ser contabilizados pelo sindicato, mas o presidente, Márcio Franca, estima que houve um crescimento médio de 9%. ;Alguns lucraram até 30% mais;, diz.

Este ano, a expectativa é de que o faturamento chegue a R$ 500 milhões. O cronograma anima os empresários. Em abril, haverá a festa dos 50 anos de Brasília. Em julho, Copa do Mundo. Em outubro, eleições. As reuniões com pré-candidatos, inclusive, começaram para definir como serão as camisetas da campanha. Os donos de confecções querem fechar negócio o quanto antes porque temem que empresários de outros lugares desembarquem no DF para se aproveitar da alta demanda esperada. Além das grandes festas, é cada vez maior o número de reuniões nacionais em Brasília. E todo e qualquer evento exige camisetas.

1 - Amadurecimento
O Polo de Modas fica no Guará II e reúne pelo menos 200 empresas de confecção, que empregam mais de 1 mil pessoas e injetam cerca de R$ 10 milhões na economia do DF. As obras do projeto elaborado pelo GDF começaram em 2004, mas o lugar só se concretizou dois anos depois.

Movimento
800 - Total de empresas de confecção no DF
R$ 480 milhões - Faturamento do setor em 2008
10 mil - Número de empregos diretos garantidos pelas empresas de confecção

Empresas mais enxutas
O mercado de confecção do DF acompanha uma tendência nacional de terceirização dos serviços. A mudança de estratégia dos empresários locais começou há seis anos. Na medida em que se livram de algumas etapas da produção, eles logo enxugam o quadro de funcionários. Hoje, o setor emprega cerca de 10 mil pessoas diretamente, de acordo com o sindicato. Esse contingente chegou a ser o dobro no início da década. Com menos empregados e uma estrutura menor, as empresas passam a cuidar mais do processo de criação das peças. O novo enfoque abriu espaço para o investimento em mão de obra especializada. A maioria dos empresários contratou designers, de quem cobram cores e traços ousados.

Márcio Franca, presidente do Sindiveste-DF, avalia que o setor amadureceu nos últimos anos. Ele conta que, para ganhar força, donos de confecções do mesmo segmento resolveram se unir. Não são raras as vezes em que concorrentes viram parceiros na hora de atender a uma grande demanda. ;Hoje, não importa mais quem vai produzir. O que se quer é fechar negócio e entregar o pedido;, diz. ;Antes, nas viagens ao exterior, cada um fazia suas visitas às escondidas. Agora, eles olham juntos a mesma vitrine;, completa.

Há três principais grupos de confecção no DF: o da linha fitness, o da moda masculina e feminina em geral e o dos uniformes profissionais. Esse último tem se destacado pelo universo de clientes. Só as escolas públicas do DF provocam uma demanda de pelo menos 550 mil camisetas anualmente. Mas há outros órgãos de governo, clínicas e hospitais, empresas da construção civil e de serviços gerais que encomendam com frequência roupas personalizadas. ;A gente tem percebido que em Brasília, mais que em outras cidades, existe um apego ao visual. As empresas dão muito valor à aparência e, por isso, investem tanto nos uniformes;, comenta Franca.

As fardas usadas por policiais militares e bombeiros do DF são confeccionadas no Polo de Modas do Guará, na empresa de Antônio Soares Filho, que acumula 22 anos de experiência no ramo. Com o tempo, ele se especializou em uniformes na área de segurança. Produz para o governo local e outras dezenas de empresas particulares. São 10 mil peças por mês, em média. ;Apesar de sermos uma indústria nova, não deixamos nada a desejar em relação ao que é feito em outros estados;, diz Soares, que garante 30 empregos diretos e 60 indiretos.

O que é produzido em Brasília segue para todo o Brasil e até para o exterior. No DF, ainda não existe indústria têxtil. As fábricas de tecido mais próximas estão em Anápolis e em Goiânia. No vizinho Goiás, são cerca de 6,2 mil empresas de confecção ; 5,4 mil apenas na região metropolitana da capital. Os insumos usados na produção do DF ; botões, zíperes, entretelas, linhas, agulhas, etc. ; geralmente são importados de São Paulo. O grande polo de confecções do país ainda está instalado em Americana, no interior paulista.

Empolgação
O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) estuda tornar os uniformes item obrigatório de Equipamento de Proteção Individual (EPI). A decisão, que movimentaria ainda mais o mercado de confecções, deve ser tomada nas próximas semanas. Uma nota técnica sobre o assunto está pronta desde outubro do ano passado. A sugestão é incluir um item relativo a uniformes na Norma Regulamentadora n; 24, que trata de condições sanitárias e de conforto nos locais de trabalho.

Se houver a mudança, as roupas personalizadas serão obrigatórias para quem trabalha, por exemplo, em pedreiras, marmorarias e frigoríficos. As empresas que não cumprirem a regra estariam sujeitas à punição. Os detalhes ainda serão definidos. ;Ainda que não sejam caracterizadas como EPI, as vestimentas de trabalho também propiciam conforto aos trabalhadores. É o caso de capuzes, chapéus e bonés, que reduzem o desconforto dos olhos e da cabeça em atividades realizadas a céu aberto;, argumenta trecho na nota técnica elaborada pela Secretaria de Inspeção do Trabalho do MTE.

O presidente do Sindiveste-DF, Márcio Franca, se empolga com a possibilidade de o ministério aprovar a obrigatoriedade dos uniformes. ;Seria ótimo para nós. Claro que potencializaria a demanda e daria ainda mais força ao mercado;, avalia. Ele defende que ;as vestimentas adequadas representam mais saúde, higiene, bem-estar e segurança aos empregados;.

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