Naira Trindade
postado em 28/01/2010 08:19
O perfil de um suposto homem que pode ser o responsável pelo desaparecimentos (1) de dois dos seis jovens de Luziânia ; município goiano 66km de Brasília ; começa a ser traçado a partir de depoimentos de moradores que relatam ter visto os adolescentes pela última vez. Aproximadamente 35 anos, roupas simples ; camisa e calça jeans ;, altura mediana de 1,70m, pele morena-clara, e portando ferramentas de trabalho ; como enxada e martelo. Essa é a descrição feita por um empacotador de mercadorias de supermercado e um amigo de uma das vítimas. A Polícia Civil de Luziânia prefere se manter reservada sobre as linhas de investigação, mas não descarta nenhuma hipótese. O retrato falado que identificaria dois supostos suspeitos não será revelado a fim de não atrapalhar os trabalhos. Hoje, às 8h30, o funcionário do comércio prestará depoimento no Centro Integrado de Policiamento de Operações de Segurança (Ciops) da cidade goiana. O Correio divulgou com exclusividade o caso do misterioso sumiço de jovens em Luziânia no último dia 16 (leia Entenda o caso).O empacotador de 16 anos, que prefere não se identificar, lembra daquele 30 de dezembro, quando Diego Alves Rodrigues, 13, passou pela rua do supermercado, no Parque Estrela Dalva 4, por volta das 12h30, acompanhado de um homem que carregava a enxada. ;Eu achei estranho e pensei que Diego fosse trabalhar. Ele estava sério e calado. Não reparei muito no homem porque era época de festas de fim de ano e o supermercado estava lotado;, resumiu o adolescente. ;Só depois de uns dias soube do desaparecimento dele e percebi que essa informação era importante;, alertou o rapaz.
O estudante Diego Alves foi o primeiro a desaparecer. Ele saiu de casa, no Parque Estrela Dalva 4, para uma oficina de carros no mesmo bairro, acompanhado de duas pessoas. Ambos teriam chegado à oficina. Os dois acompanhantes retornaram para casa. Mas Diego, não. Até então, ele nunca havia dormido uma noite fora de sua residência, o que fez a família ficar desesperada e procurar a polícia imediatamente. Cartazes com a fotografia do garoto foram espalhados em paradas de ônibus, supermercados e na delegacia. Mas até hoje, quase um mês após o sumiço dele, não há notícias do paradeiro de Diego.
O segundo desaparecimento misterioso foi o de Paulo Victor Vieira de Azevedo Lima, 16, no último 4 de janeiro. Ajudante do tio em uma lanchonete, ele saíra por volta das 9h30 para pagar uma conta de energia elétrica na lotérica. O adolescente teria retornado minutos depois na companhia de um homem de aproximadamente 35 anos. Então, Paulo Victor teria devolvido o troco e a conta já paga ao patrão e avisado que iria ;logo ali;, mas retornaria em breve. Ocupado, o tio ; que não quer se identificar ; disse para ele não demorar, pois o movimento na lanchonete iria aumentar. O jovem concordou. Mais de uma hora depois, preocupado, o tio teria ligado para o sobrinho. ;Ele disse ao tio dele que estava chegando;, garante a mãe de Paulo Victor, Sônia Vieira Azevedo Lima, 45. O adolescente nunca mais foi visto e o celular dele foi desligado.
Na última segunda-feira, em meio ao calor das investigações em Luziânia, um adolescente de 15 anos viveu uma situação no mínimo curiosa no Parque Estrela Dalva 4. Por volta das 11h, o menino seguia pela rua de casa, quando um homem de cerca de 35 anos, que vestia camisa e calça jeans, aproximou-se para lhe oferecer R$ 30 para ajudá-lo a destelhar uma casa. O homem carregava um martelo nas mãos e as roupas pareciam sujas. O menino aceitou a proposta de serviço e o acompanhou. Pelo caminho, o jovem perguntou a distância do trabalho e o homem teria dito que seria após a BR-040, que corta parte da cidade. O menino, então, teria resolvido pegar a bicicleta. ;Eu caminhei até a minha casa e, quando olhei para trás, vi que o homem conversava com outras pessoas em um carro, tipo Santana, preto. Fiquei com medo e não saí mais de casa;, conta o adolescente.
1 - 80% solucionados
Dados da Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH) apontam que há pelo menos 1.247 crianças e adolescentes desaparecidos no país. Entre 10% e 15% dos casos permanecem sem solução por longo período e, às vezes, jamais são resolvidos. Parte desses números é relacionado a jovens que fugiram de casa. Segundo a SEDH, cerca de 80% dos casos de desaparecidos são solucionados.
Delegados reunidos
A presença de viaturas policiais nas ruas de Luziânia já traz sensação de segurança para alguns moradores. Ontem, a fim de traçar novas estratégias para as buscas dos seis desaparecidos, os chefes da 1; Delegacia Distrital de Luziânia, Rosivaldo Linhares, da 5; Delegacia Regional do Entorno, José Luiz Martins, e do Departamento de Polícia Judiciária da Polícia Civil de Goiás, Josuemar Vaz de Oliveira, reuniram-se a portas fechadas com o prefeito Célio Silveira (PSDB), o senador Marconi Perillo (PSDB-GO), o deputado federal João Campos (PSDB-GO), o estadual Cristóvão Tormin (PTB) e o comandante da Polícia Militar, Coronel Cândido. A intenção do encontro ; que durou pouco mais de uma hora, na delegacia regional ; era debater as novas linhas de investigações e apresentar respostas à comunidade.
Mais cedo, os familiares foram convidados a se encontrar com políticos de Goiás na Prefeitura e saíram satisfeitos da reunião. ;Eles disseram que vão nos ajudar no que precisarmos;, garantiu Sirlene Gomes, mãe de George Rabelo dos Santos, 17 anos, que desapareceu no último 10 de janeiro. O prefeito de Luziânia garantiu mais policiamento para a cidade. Indagado sobre as câmeras de segurança instaladas há mais de um ano em 26 pontos do município ; compradas com verba destinada pelo Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) ; e que nunca funcionaram, o prefeito Célio Silveira alegou que a responsabilidade de manter funcionários na central com as máquinas não é da prefeitura, e sim da Polícia Militar de Luziânia. O Ministério da Justiça investiu mais de R$ 700 mil no sistema de segurança. No entanto, segundo assessoria do MJ, a responsabilidade de instalar e manter o equipamento em funcionamento é do município.
Agentes das delegacias regionais do Entorno Sul fizeram visitas aos familiares e levantaram informações sobre as datas dos desaparecimentos. ;Eles demoraram muito, mas vieram. Agora, acredito que vão conseguir nos dar respostas;, espera a dona de casa Aldenira Alves de Sousa, 51, mãe de Diego Alves. (NT)
[SAIBAMAIS]Entenda o caso
Mães desesperadas
Seis mães de Luziânia esperam desesperadamente por notícias de seus filhos. Seis jovens sumiram do Parque Estrela Dalva em plena luz do dia. O primeiro a desaparecer foi Diego Alves Rodrigues, 13 anos. Em 30 de dezembro último, ele saiu de casa para uma oficina de carros no mesmo bairro. O menino nunca havia dormido uma noite fora de casa. Cartazes com seu nome foram espalhados em paradas de ônibus, supermercados e na delegacia. Mas, até hoje, nada do paradeiro dele. Em 4 janeiro, outro jovem desapareceu do bairro. Dessa vez, era a família de Paulo Victor Vieira de Azevedo Lima, 16, que iniciava o calvário em busca do adolescente. Na sequência, George Rabelo dos Santos, 17; Divino Luiz Lopes da Silva, 16; Flávio Augusto Fernandes dos Santos, 14; e Márcio Luiz de Souza Lopes, 19, sumiram. Nenhum deles se conhecia e tampouco são considerados rebeldes pelos familiares. A 1; Delegacia Distrital de Polícia de Luziânia trabalha com as hipóteses de rapto para trabalho escravo, fuga dos próprios jovens por rebeldia e uma terceira linha que não pode ser anunciada para não atrapalhar as investigações policiais.
Ajude
Quem tiver informações sobre os desaparecimentos em Luziânia pode entrar em contato com o Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) pelo telefone 3620-2416. É possível também ligar para o SOS Criança (basta discar 100). A central funciona das 8h às 22h em qualquer localidade brasileira.