postado em 31/01/2010 08:18
Uma vaga de garagem em Brasília custa o preço de dois carros populares ou de duas casas em Águas Lindas, município do Entorno goiano. Para ser dono de 12 metros quadrados em estacionamentos subterrâneos, desembolsa-se até R$ 50 mil na região central da cidade, onde se concentram os prédios comerciais e os órgãos públicos, ou no Setor Hospitalar Sul. O metro quadrado dessas vagas mais caras vale R$ 4,1 mil - quase o dobro do que é cobrado em imóveis do segmento econômico e metade de preços praticados no Setor Noroeste, o futuro bairro ecológico da capital.
[SAIBAMAIS]A escassez de vagas públicas despertou o mercado para um negócio rentável. As construtoras não erguem mais prédios comerciais sem oferecer um número de vagas superior ao de unidades. A venda avulsa das áreas nos estacionamentos virou estratégia. Quando os empreendimentos são lançados, surgem compradores desinteressados nos imóveis, mas dispostos a arrematar 10 vagas de uma só vez.
Ter um lugar certo para parar o carro pode custar de R$ 120 a R$ 400 por mês, a depender da localização. Os proprietários das vagas usam panfletos e faixas para divulgar as ofertas. Em um prédio do Setor Comercial Sul onde o aluguel sai por R$ 280, foi preciso criar uma lista de espera. Todas as 550 vagas distribuídas em três andares de subsolo estão ocupadas.
Em Brasília, o comércio de vagas ainda é considerado novidade, pois começou há menos de cinco anos. Os preços, porém, superam os praticados em cidades que sofrem com a escassez de estacionamentos públicos há muito mais tempo. No Centro do Rio de Janeiro, por exemplo, um espaço para estacionar custa entre R$ 15 mil e R$ 20 mil. Na Zona Sul, área nobre, o valor sobe, mas não passa de R$ 40 mil, segundo dados do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci) daquela região. Em São Paulo, a situação é atípica. As informações são de que vagas chegam a custar R$ 150 mil em alguns pontos da cidade e o aluguel, R$ 600.
O preço das vagas não depende diretamente do valor do imóvel do prédio ao qual estão vinculadas. "Trata-se de um mercado como outro qualquer. Manda a lei da oferta e da procura. Onde o déficit de vagas é maior, os valores são mais altos", comenta o presidente da Associação deDirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi-DF), Adalberto Valadão.
A frota do DF ultrapassou 1,1 milhão de veículos, nas contas do Departamento de Trânsito (Detran). O déficit de vagas públicas chega a 45 mil, calcula a Secretaria de Transportes. "Não tem lugar para tanto carro. A venda e o aluguel de vagas são uma resposta do mercado a essa realidade", avalia Valadão.
Diretor comercial da Beiramar Imóveis, Pedro Fernandes diz que construtoras e imobiliárias do DF estão atentas a esse novo nicho. "Ninguém mais constrói o número mínimo de vagas. No Noroeste, os prédios terão pelo menos dois andares de garagem", exemplifica.
No caso dos prédios comerciais, estão sendo usadas duas estratégias diferentes. Uma: opta-se por vincular vagas às unidades e o restante é vendido de maneira avulsa. Outra: não são oferecidas vagas vinculadas e transforma-se toda a garagem em estacionamento rotativo, mas, em contrapartida, concede-se ao dono de cada unidade o direito ao uso de uma vaga.
Sem inadimplência
Fernandes, que também integra a diretoria do Creci do Distrito Federal, aponta o risco mínimo de inadimplência como uma das vantagens em investir no aluguel de vagas. Ele lembra que, caso o locatário não pague a mensalidade, o dono pode bloquear o acesso dele. Outro ponto positivo é que uma vaga dificilmente precisa de reparos, ao contrário de imóveis residenciais ou comerciais.
Para o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do DF (Sinduscon-DF), Elson Ribeiro e Póvoa, esse tipo de comércio não será capaz de amenizar o problema da falta de espaço para estacionar. "Não vai resolver. Até porque a prioridade precisa continuar sendo para quem tem unidades nos prédios. A saída é mesmo investir em transporte público", defende.
O governo do DF chegou a anunciar a construção de 20 mil vagas em garagens subterrâneas na área central, por meio de uma parceria público-privada (PPP). O projeto, orçado em R$ 600 milhões, está empacado. "A necessidade de mais vagas é notória, mas não acredito que essa ideia saia do papel neste governo", confessa o secretário de Transportes, Alberto Fraga.