Cidades

Sindicância vai apurar morte de doméstica

Caso da mulher que faleceu após passar mal e tomar dipirona - segundo sua cunhada, seguindo orientação dada por telefone - está sendo investigado para que se definam as reais responsabilidades

postado em 03/02/2010 08:33
Márcia das Chagas Gonçalves nem chegou a ser atendida pela ambulância, cujo envio ao local do pedido teria sido considerado A Secretaria de Saúde do Distrito Federal vai abrir sindicância para apurar as circunstâncias que levaram à morte da doméstica Márcia das Chagas Gonçalves, 30 anos. A mulher passou mal na manhã da última segunda-feira e, segundo a cunhada Mônica Moreira, 30 anos, ao ligar para o 192 do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), um médico teria dito que a ambulância não era necessária e, em seguida, teria prescrito o uso de 20 gotas de dipirona. Revoltada com a resposta, Mônica ligou para os Bombeiros, que chegaram em 15 minutos, mas não conseguiram salvar a vida da jovem, que tinha acabado de dar à luz Ana Clara, hoje com 12 dias de nascida.

Por telefone, Mônica relatou todos os sintomas da cunhada ao médico do Samu. ;Ela estava suando muito e reclamava de dores de cabeça, na nuca e no peito;, contou. Após passar a medicação, do outro lado da linha o médico teria orientado que Márcia fosse levada a um posto de saúde mais próximo, assim que melhorasse. Toda a conversa foi gravada e a Secretaria de Saúde irá questionar o médico sobre o motivo de não ter mandado uma ambulância para socorrer a vítima. Márcia morreu após várias paradas cardiorrespiratórias, mas a causa da morte só será conhecida após a divulgação do laudo do Instituto Médico Legal (IML), que deve ficar pronto em até 15 dias.

Segundo o coordenador da Diretoria de Assistência, Urgência e Emergência da Secretaria de Saúde, Ayrton Barroso, uma comissão irá investigar se houve erro no atendimento. Caso isso fique constatado, o médico sofrerá uma penalidade administrativa e pode ser afastado de suas funções. Ayrton, entretanto, preferiu não fazer pré-julgamento e considera prematuro culpar o atendimento prestado pelo Samu pela morte de Márcia. ;Ainda precisamos saber se o não envio de recurso colaborou para a morte da paciente;, ponderou. O resultado da apuração deve sair em 30 dias, mas a família da vítima também registrou ocorrência na 5; Delegacia de Polícia (Área Central).

Protocolo
Ayrton explica que todo atendimento é feito com base em um protocolo que deve ser seguido. Segundo ele, o médico que atendeu a cunhada da vítima é um profissional experiente e especializado em ginecologia e obstetrícia. De acordo com Ayrton, em quatro anos de funcionamento do Samu, esta é a primeira vez que ocorre um caso desta natureza. Em média, são 1,5 mil ligações e 500 socorros prestados diariamente. Do total de telefonemas, cerca de 30% são trotes. ;É preciso filtrar as ligações, mas não vejo isso como burocracia, mas qualidade no atendimento;, avaliou.

Ontem, o dia foi de tristeza na casa da família de Márcia. Moradora do Varjão, a doméstica deixa quatro filhos, sendo uma menina de 10 anos e outros de 6, 2 e a mais nova com apenas 12 dias. ;Ela era uma mulher muito saudável. Não acredito até agora no que aconteceu. Foi uma cena terrível que não sai da minha mente;, disse Mônica. O corpo de Márcia das Chagas deve ser liberado hoje pelo IML e a família pretende fazer o sepultamento em Planaltina de Goiás.

ESQUEMA DE ATENDIMENTO
O Samu/DF conta com cerca de 800 profissionais, entre médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e condutores de 22 ambulâncias, e um helicóptero. Ao ligar no 192, o atendimento inicial é feito por uma telefonista, que, após a identificação de uma emergência, transfere a ligação para um médico, que irá orientar o paciente e diagnosticar se há ou não necessidade do encaminhamento de uma ambulância.

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