postado em 05/02/2010 08:29
>> Luísa Medeiros>> Juliana Boechat
>> Leilane Menezes
Em 5 de fevereiro de 1955 o médico pediatra Ernesto Silva visitou o Planalto Central pela primeira vez.. Desde então, ele nunca mais esqueceu a cidade que ajudou a construir. O Pioneiro do Antes, como era chamado pelos amigos mais antigos, se dedicou à preservação da nova capital como poucos. Cuidar de Brasília não era mania, era amor. Cinquenta e cinco anos depois, Ernesto não está mais aqui para proteger a cidade. Hoje, o seu corpo será cremado em Valparaíso (GO). A família e os amigos ainda vão decidir onde serão colocadas as cinzas. A única certeza deles é a vontade de manter vivos os ideais e as obras do carioca de coração candango. A criação de um instituto em homenagem ao médico é uma ideia em discussão.
Durante todo o dia de ontem, o corpo do doutor Ernesto foi velado no salão principal do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal (IHGDF), na 703/903 Sul. O desconforto do dia mais quente do ano não impediu que os admiradores fossem se despedir do pioneiro. Vestido de terno azul e gravata com estampa floral, o coronel da reserva do Exército exibia semblante sereno depois de travar cinco meses de luta na Unidade deTerapia Intensiva (UTI) do Hospital Brasília. Ele morreu na quarta-feira última, às 13h15, em decorrência de disfunção múltipla de órgãos e sistemas.
A terceira mulher de Ernesto, Sônia Maria Souto Silva, passou o dia recebendo amigos e parentes dele. Ao todo, 553 pessoas assinaram o livro de registros. Ela brinca que um dos motivos de o casal ter ficado junto tanto tempo é a admiração dela pela capital. Cansada, Sônia não conseguiu segurar o choro ao falar do marido: ;Ele é uma pessoa insubstituível. Ele é Brasília. E eu vivo aqui. Por onde ando, vejo Ernesto;. O último momento de paz do casal foi há quase cinco meses ; ela conta exatos 164 dias. ;Estávamos jogando palavra-cruzada, pouco antes de dormir. Eu viciei ele no jogo, mas ele queria ser melhor do que eu;, riu, sem forças. Em seguida, Sônia acordou assustada com gemidos do marido. Ele reclamava de falta de ar e foi socorrido às pressas ao hospital.
[SAIBAMAIS]Carioca da gema
Carioca da gema, nascido em Vila Isabel, Ernesto era fanático pelo Fluminese. A bandeira do time de futebol não poderia faltar na barra do caixão. Outras bandeiras foram se amontoando ao longo do velório, como a do Brasil e a do Distrito Federal, mas a do time favorito recebia olhares daqueles que conheciam os hábitos do pioneiro. ;Ele era um carioca da gema e deve ter sofrido no último fim de semana;, disse um amigo lembrando a derrota do time. O bom-humor era a marca registrada dele. Mesmo no hospital, Ernesto não perdia tempo e cantarolava sambas para as enfermeiras.
Respeitado pelo trabalho e pela dedicação a Brasília, Ernesto recebeu homenagens de entidades de classes, empresas, amigos e do governo local e federal. Mais de 40 coroas de flores foram entregues no prédio do IHGDF, entre elas, uma em nome do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e da primeira-dama, Marisa Letícia. A arquiteta e urbanista Vera Ramos tentou explicar o motivo do reconhecimento: ;Ele sabia do salto qualitativo que Brasília significou para o modo de vida urbano e se indignava quando via que os políticos da cidade não tinham essa noção;. A arquiteta encabeça a ideia de criar o Instituto Ernesto Silva, um espaço que divulgaria as obras e os tesouros guardados no escritório dele. Além de ser um ambiente para debates e palestras sobre a preservação de Brasília.
A missa em homenagem a Ernesto Silva começou passados alguns minutos das 18h, depois que alguns amigos improvisaram discursos ao lado do caixão. Momentos, o coronel Affonso Heliodoro, amigo de Ernesto Silva durante 50 anos, não poupou palavras para descrever a personalidade do pioneiro. ;Ele amava Brasília antes dela ser construída. O Ernesto era uma voz permanente e perene na defesa do patrimônio histórico. Ele enfrentou vários governos que tentaram bulir no plano de Lucio Costa. Nem sempre saiu vitorioso, porque, afinal, o poder fala mais alto;, disse.
Hoje o velório no IHGDF será das 8h às 12h. Em seguida, o corpo será levado para o crematório de Valparaíso. Ainda não há local definitivo para depositar as cinzas. O Catetinho e a Ala dos Pioneiros, no cemitério Campo da Esperança, são algumas das alternativas.
"Ele foi um homem que teve o poder nas mãos, mas não tinha segundas intenções. Ajudou na criação e na defesa de Brasília de maneira ímpar. Vai deixar muitas saudades."
José Ornellas de Souza Filho, ex-governador do DF
"Ernesto era um testemunho vivo da saga que foi a construção da capital. Simpático, cordial, ele era uma figura histórica de Brasília. Deixou o exemplo de comprometimento e disposição com o sonho da capital."
Sepúlveda Pertence, ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF)
"Brasília perdeu o pioneiro e o herói. Ele largou tudo, deixou o Rio de Janeiro de lado, para viver na capital antes da existência dela. Defendia a cidade com garra, enfrentando tudo e todos. Sem medo dos poderes."
Ronaldo Costa Couto, Historiador e conselheiro do Tribunal de Contas do DF
"Desde antes do começo da capital, ele estava sempre presente. Era o pioneiro do antes. E sempre viveu intensamente essa cidade. Lutou pela preservação como poucos. Depois da morte dele, me sinto muito mais responsável em fazer o mesmo."
Anna Christina Kubitschek, neta de Juscelino Kubitschek e presidente do Memorial JK
"Ernesto foi muito importante depois do tombamento de Brasília. Toda vez que ele abria a boca as pessoas se assustavam. Ele brigava pela preservação da cidade com unhas e dentes."
Carlos Magalhães, arquiteto e representante de Oscar Niemeyer em Brasília
"Ele era meu mestre. Seguia os passos dele com orgulho porque tínhamos algo em comum: o amor por Brasília. Ernesto não se calava diante das aberrações que fizeram ou tentavam fazer com a cidade. Estamos órfãos."
Vera Ramos, Arquiteta, urbanista e acadêmica do Instituto Histórico e Geográfico do DF
José Ornellas de Souza Filho, ex-governador do DF
"Ernesto era um testemunho vivo da saga que foi a construção da capital. Simpático, cordial, ele era uma figura histórica de Brasília. Deixou o exemplo de comprometimento e disposição com o sonho da capital."
Sepúlveda Pertence, ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF)
"Brasília perdeu o pioneiro e o herói. Ele largou tudo, deixou o Rio de Janeiro de lado, para viver na capital antes da existência dela. Defendia a cidade com garra, enfrentando tudo e todos. Sem medo dos poderes."
Ronaldo Costa Couto, Historiador e conselheiro do Tribunal de Contas do DF
"Desde antes do começo da capital, ele estava sempre presente. Era o pioneiro do antes. E sempre viveu intensamente essa cidade. Lutou pela preservação como poucos. Depois da morte dele, me sinto muito mais responsável em fazer o mesmo."
Anna Christina Kubitschek, neta de Juscelino Kubitschek e presidente do Memorial JK
"Ernesto foi muito importante depois do tombamento de Brasília. Toda vez que ele abria a boca as pessoas se assustavam. Ele brigava pela preservação da cidade com unhas e dentes."
Carlos Magalhães, arquiteto e representante de Oscar Niemeyer em Brasília
"Ele era meu mestre. Seguia os passos dele com orgulho porque tínhamos algo em comum: o amor por Brasília. Ernesto não se calava diante das aberrações que fizeram ou tentavam fazer com a cidade. Estamos órfãos."
Vera Ramos, Arquiteta, urbanista e acadêmica do Instituto Histórico e Geográfico do DF
Irmã sente saudades
Ernesto Silva era o mais velho de oito irmãos. A caçula Diva Silva, 80 anos, mora no Rio de Janeiro (RJ) e não pôde comparecer ontem ao velório do carioca candango. A única irmã viva do pioneiro disse ao Correio que está ;extremamente triste com a partida dele;. Esclareceu que a distância e pequenos problemas de saúde dificultaram a convivência dos dois. Há tempos, eles não se viam. ;Ele me telefonou quando fiz uma cirurgia e perguntou detalhes. Nós éramos muito amigos. Vai deixar muitas saudades;, disse a irmã.
Filha de Carlos Silva, irmão falecido de Ernesto, Maria Fátima Silva, 45 anos, foi ontem ao velório do tio, mas preferiu manter a discrição. Boa parte do tempo ficou fora do saguão principal, conversando com amigos antigos de Ernesto. Ela mora em Brasília e também não tinha contato com o pioneiro há alguns anos. ;Desde que casou com a terceira esposa não convivíamos mais juntos;, afirmou. O único filho do pioneiro, Luiz Ernesto Crall Silva, 54 anos, não foi à cerimônia. Segundo Maria Fátima, está com a mulher doente no Rio de Janeiro. Ele tem duas filhas.
Opinião do internauta
Leitores do Correio lamentam a morte do médico Ernesto Silva, ocorrida, às 13h15 de quarta-feira
# Marley Garcia
;É uma pena. Que Deus o tenha em lugar melhor do que Brasilia. Pedir pra Deus levar só os maus políticos e médicos, vamos ficar com pouquíssimos atendimentos, mas quem sabe melhor?;
# Luiz Carlos Silva
;Nem pra irmão ele arrumava indicação. Meu pai dizia: ;Morreu porque estava na hora e vai encontrar a paz que aqui não teve;. Ele foi um exemplo para a humanidade.;
# Artur Benevides
;Doutor Ernesto, pelo menos Deus lhe poupou de testemunhar que sua amada cidade é hoje um palco de desmoralização, formado por políticos inescrupulosos nos poderes constituídos.;
# Maria Eymard
;Doutor Ernesto, deixar o legado que o senhor deixou é só para quem pode e merece. Quantas coisas boas temos para lembrar do senhor. Que o nosso Pai criador o receba na sua volta ao lar. Que sua familia seja também confortada por Deus.;
# Heliete Bastos
;Feliz daquele que privou de sua amizade, de seus ensinamentos, de seu caráter e de sua sabedoria. Que Deus o receba em paz. Seu lema era: ;Não esmorecer, para não desmerecer;. Consola-nos o fato de saber que partiu sem ter conhecimento de toda a bandalheira que enlameia a cidade que fez também nascer.;
# Vasco Vasconcelos
;Foi com profunda tristeza que tomei conhecimento do passamento do épico, homérico renomado médico e intrépido pioneiro doutor Ernesto Silva, o primeiro presidente da Novacap, educador e um dos maiores defensores da preservação da nossa querida capital da República. Brasília está de luto. Descanse em paz, doutor.;
# Victor Ribeiro
;Trabalhei durante oito anos com o doutor Ernesto Silva. Foi um dos maiores exemplos de boa conduta e integridade que eu já tive na vida. Brasília, e todos nós, na verdade, perdemos um grande líder, uma ótima pessoa. Doutor Ernesto vai fazer muita falta.;
# Vera Dias
;Nasci em Brasília, em 1960. Sou, com muito orgulho, uma candanga pioneira. Com pesar recebi a notícia da morte do doutor Ernesto Silva. Talvez tenha morrido de desgosto por ver sua Brasília tão enlameada, com políticos tão sujos. Mais um motivo de tristeza quando completamos 50 anos.;
# Murilo Júnior
;Que o Gadru o receba no Oriente Supremo!”
# Augustus Nazareno
;Brasília perdeu um defensor! Infelizmente, doutor Ernesto parte no ponto mais baixo da história de Brasília.;
# Fernando Britto
;Tal qual Santos Dumont, que preferiu a morte a ver sua criação sendo usada para fins malévolos, o doutor Ernesto Silva preferiu a morte a ver sua querida cidade transformada nesta grande bandalheira.;
# Salomão Feitosa
;O pesar é para todos os pioneiros que conheceram o notável médico. Vai-se um pouco da história de Brasília.;
# Andreza Santos
;Brasília está em luto. Perdemos uma pessoa muito especial que contribuiu bastante para a nossa história.;