postado em 05/02/2010 08:42
Alarmes, cercas elétricas e câmeras de monitoramento. Nada disso é capaz de intimidar criminosos que atuam na Quadra Central de Sobradinho I. Os comerciantes são as principais vítimas. No Bloco 13, onde a concentração de estabelecimentos é maior, quase todos os empresários têm uma história de furto ou roubo para contar. O caso mais recente ocorreu na madrugada de ontem, na loja de artigos gerais Magazine da Economia. Os ladrões arrombaram a janela, entraram no depósito e levaram cerca de R$ 3 mil em espécie. O alarme, instalado há poucos dias, chegou a disparar, mas os autores do delito fugiram antes da chegada da polícia.A gerente, Ângela Maria Dantas, 35 anos, lembra de outro episódio recente, em setembro do ano passado. Na ocasião, os criminosos ignoraram o fato de o lugar estar cheio de clientes e anunciaram um assalto em plena luz do dia. Não satisfeitos em roubarem todo o dinheiro do caixa, agrediram os funcionários com chutes e coronhadas. Por sorte, ninguém se feriu gravemente. ;Aqui virou terra sem lei. A polícia passa às vezes de dia e, mesmo assim, não inibe a marginalidade. À noite, você tem que ir para casa rezando para não entrarem na sua loja. Está ficando muito difícil trabalhar aqui;, reclama Ângela.
Na quadra, cada comerciante decidiu construir sua própria fortaleza. A segurança particular vai desde grandes correntes e cadeados a modernos e caros equipamentos de segurança eletrônica. Não por acaso, a cidade, hoje, é uma das que mais demanda instalações de câmeras e alarmes no comércio.(1)
Policiamento
Alguns comerciantes chegaram a adotar medidas extremas para minimizar as perdas. É o caso de Fábio Carneiro, 43 anos, dono de uma loja de equipamentos de informática. Depois de ter um prejuízo de R$ 7 mil, num arrombamento, ele decidiu não mais trabalhar com produtos de alto valor. ;Não vendo mais celular muito caro. Eles (bandidos) passam olhando o que tem na vitrine de dia e, à noite, voltam para roubar. E polícia que é bom, nada;, reclama.
Para piorar a situação e aumentar a sensação de insegurança, as câmeras instaladas pelo GDF na altura do Bloco 13 encontram-se desativadas. Ao Correio, o comandante do 13; Batalhão de Polícia Militar de Sobradinho (13; BPM), tenente-coronel Sérgio Luiz de Souza Cordeiro, disse que a aparelhagem será substituída por outra mais moderna. ;Eram equipamentos obsoletos que apresentavam muitos defeitos. Está prevista a implantação de um sistema mais avançado, semelhante ao que foi instalado no Itapoã;, informou.
O comandante também garantiu que o policiamento naquela região é reforçado. Segundo ele, dois PMs fazem ronda a pé durante o dia. Já o patrulhamento motorizado é composto por uma viatura com três militares, além de uma dupla de motociclistas. Porém, no período noturno, apenas um carro cuida da segurança. O oficial pediu aos comerciantes assaltados que não deixem de fazer o boletim de ocorrência. ;A polícia trabalha com estatísticas. Muita gente não registra ocorrência, mas a polícia precisa de um número para justificar o aumento de efetivo em determinadas regiões;, afirmou Cordeiro.
Alguns moradores da quadra reclamam, a propósito, da desvalorização dos imóveis e comércios por conta da crescente onda de violência. ;Aqui é considerado o metro mais caro de Sobradinho, mas, infelizmente, está ficando desvalorizado por conta da precária segurança pública. Aqui a política é inversa: à noite, quando os bandidos se preparam para atacar, a polícia some;, apontou Denisar Matos, 47 anos, dono da loja Central Colchões.
1 - Indústria do medo
No Distrito Federal, a procura por equipamentos de segurança cresceu 25% em 2009 em relação a 2008. Sobradinho acompanhou esse crescimento, segundo avaliação do Sindicato das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança (Siese). ;É uma cidade com um comércio forte e onde os pedidos por câmeras e principalmente alarmes têm aumentado;, confirmou o presidente do Siese, Augusto Von Sperling.
Aqui virou terra sem lei. A polícia passa às vezes de dia e, mesmo assim, não inibe a marginalidade;
Ângela Maria Dantas, gerente de loja
Eu acho...
"Eu acho que a criminalidade aumenta porque o Estado é muito tímido em suas ações. Não é de hoje que os assaltos ocorrem aqui, mas a polícia finge não ver. Vai chegar o dia em que os assaltantes não se limitarão a roubar, eles vão matar e aí eu quero ver se vai ficar tudo como está ou vão tomar alguma atitude mais eficaz."
Juscelino Saldanha de Oliveira, 42 anos, dono de uma banca de sucos e salgados
Juscelino Saldanha de Oliveira, 42 anos, dono de uma banca de sucos e salgados
"A segurança pública em Sobradinho está péssima. Precisa melhorar muito para ficar razoável. A polícia deveria ser mais presente à noite, porque é quando os bandidos ficam à vontade para invadir nossas lojas. No meu estabelecimento, já chegaram até a defecar e urinar depois de levarem quase R$ 15 mil em produtos. Se não aumentar o número de policiais, infelizmente, terei que sair daqui."
Maria do Carmo Oliveira dos Santos, 30 anos, dona de um restaurante
Maria do Carmo Oliveira dos Santos, 30 anos, dona de um restaurante