Cidades

Sistema adotado pela unidade privilegia o atendimento aos casos mais graves

Com isso, cerca de 10% dos que vão ao pronto socorro preferem ir embora a esperar pela consulta

Helena Mader
postado em 05/02/2010 09:34
As dores no corpo, principalmente nas pernas, são um transtorno para a pensionista Maria Alves Bezerra, 65 anos. Ela sofre com o problema há três anos e, para tentar amenizar o sofrimento, procurou a emergência do Hospital de Base. Depois de passar pela sala de classificação de risco, Maria foi informada de que seu caso não era grave e que a espera por uma consulta no pronto socorro poderia durar horas. Diante da recomendação para procurar um centro de saúde, ela abriu mão da consulta e voltou para casa.

Adalberto tenta, há um mês, ser atendido no centro de saúdeAssim como a pensionista, muitas pessoas que recorrem ao Hospital de Base começaram a desistir de esperar na emergência desde a criação do sistema de classificação de risco(1). Em média, são 50 desistências todos os dias, ou seja, cerca de 10% dos pacientes que procuram o pronto socorro da unidade preferem ir embora em vez de esperar pela consulta. ;Eles disseram que meu caso não é grave e que a prioridade é para quem corre risco de morrer. Mas, quando a gente procura o centro de saúde, é difícil conseguir marcar uma consulta;, reclama Maria Alves Bezerra, moradora do Guará.

O sistema de classificação de risco foi adotado no Hospital de Base há um mês. Nos 10 primeiros dias da medida, o número de pacientes que procuraram o hospital cresceu 23% em comparação ao mesmo período do ano passado. À medida que as pessoas perceberam que o atendimento aos casos sem gravidade pode demorar um longo tempo, as desistências começaram a crescer. Assim, a média de pacientes atendidos diariamente caiu de 600 para 512 no primeiro mês da nova medida. A tendência é que as pessoas passem a ir diretamente aos postos de saúde ou aos ambulatórios antes de tentar consultas na emergência dos hospitais.

Pela classificação de risco, os pacientes cuja situação é mais delicada têm prioridade. Os casos que recebem uma ficha vermelha são aqueles em que a pessoa corre risco de morte e o atendimento é imediato. Os pacientes classificados com a cor amarela também estão em estado grave, mas sem chance de morrer. Nesses casos, o atendimento demora, no máximo, 15 minutos. Os casos que recebem fichas verdes são os sem gravidade, ou seja, quando os pacientes podem esperar. Já os classificados como azuis são encaminhados a marcar consulta em postos de saúde. Caso queiram aguardar pelo atendimento, a espera pode ultrapassar seis horas, já que todos os pacientes graves vão passar na frente.

250 por dia
O diretor do Hospital de Base, Luiz Carlos Schimin, diz que o ideal é que a unidade atenda a, no máximo, 250 pacientes por dia, quase metade dos que hoje recorrerem à emergência. ;O objetivo da classificação de risco é dar prioridade aos pacientes mais graves. Nossa meta não era reduzir a quantidade de pacientes;, justifica Schimin.

A doméstica Jadna Cristina Alves Lopes, 29 anos, passou por essa situação. Ela levou o filho Cristian Vítor Alves Lopes, 7 anos, à emergência do Hospital de Base porque o menino sofre com dificuldade para respirar. ;Ele tem esse problema desde os dois anos. Mas, às vezes, o Cristian tem crises e o nariz dele sangra. Por isso, resolvemos procurar o pronto socorro;, justifica Jadna. Mas, na emergência, a família foi orientada a marcar uma consulta com um especialista no ambulatório da unidade ou de outro hospital da rede pública.

Os pacientes sem gravidade, cuja indicação é para consulta ambulatorial, estão sendo desestimulados a procurar a emergência do Hospital de Base porque a ideia do governo é centralizar apenas os casos mais graves na unidade. ;O que acontecia aqui era uma anomalia. Quase 30% dos pacientes vinham ao pronto socorro para pegar atestado médico, tirar pontos ou para trocar receita. Isto é um hospital de alta complexidade, precisamos redirecionar esse fluxo;, explica o diretor do hospital, Luiz Carlos Schimin.

1 - Fichas coloridas
Desde o início da classificação de risco, 2% dos pacientes atendidos na emergência receberam ficha vermelha e 26% foram classificados com a cor amarela. Os 72% restantes eram casos sem gravidade. Quase 70% dos pacientes que recorreram ao Pronto Socorro foram atendidos por médicos oftalmologistas, ortopedistas ou otorrinolaringologistas.

"O que acontecia aqui era uma anomalia. Quase 30% dos pacientes vinham ao pronto socorro para pegar atestado médico, tirar pontos ou para trocar receita"
Luiz Carlos Schimin diretor do Hospital de Base

Jadna levou o filho Cristian à emergência do Hospital de Base e foi orientada a marcar consulta ambulatorialO desafio de ser atendido no posto
A maioria dos pacientes orientados a procurar atendimento nos postos de saúde encontra muita dificuldade para marcar consultas. Essa é a principal justificativa das pessoas que vão à emergência do Hospital de Base, mesmo quando os casos têm menor gravidade. ;Eles vêm porque sabem que, mesmo esperando por horas a fio, serão atendidos no fim;, acredita o diretor do Hospital de Base, Luiz Carlos Schimin. ;Será preciso melhorar a atenção básica para que o fluxo seja redirecionado. Mas isso já está sendo feito pelo governo;, acrescenta Schimin.

O cozinheiro Adalberto Tavares da Câmara, 45 anos, tenta há um mês marcar uma consulta com um neurologista. Ele levou um choque elétrico muito forte, ficou com sequelas, mas teve muita dificuldade para conseguir atendimento. Adalberto procurou o pronto socorro do Hospital de Base, mas desistiu da consulta na emergência. ;Fiquei esperando das 7h às 20h e não consegui nada. Me mandaram procurar um posto de saúde;, conta.

No dia seguinte, o cozinheiro procurou o Centro de Saúde 2 de São Sebastião. Mais uma vez, não conseguiu nem ter acesso à agenda dos profissionais da rede. ;Eu passo o dia entre o hospital e o posto de saúde e ninguém me informa sobre quando vou conseguir marcar uma consulta. Não tenho dinheiro para pagar um médico particular;, lamenta Adalberto.

A partir de março, a Secretaria de Saúde vai contratar 860 médicos de 36 especialidades e, de acordo com o governo, a maioria desses profissionais vai reforçar o atendimento nos centros de saúde. Além disso, o GDF aposta na construção das unidades de pronto atendimento (UPAs) para melhorar a atenção básica. Até junho, pelo menos duas devem estar prontas, no Recanto das Emas e em São Sebastião. Há previsão de construção de seis unidades. Com isso, a promessa da Secretaria de Saúde é dar mais celeridade à marcação de consultas e ao atendimento nos centros de saúde. (HM)

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