postado em 06/02/2010 08:08
Aumenta a pressão de entidades nacionais e das mães dos desaparecidos de Luziânia ; município goiano distante 66km de Brasília ; sobre o governo de Goiás. Depois de obter apoio de integrantes da CPI das Crianças e dos Adolescentes Desaparecidos da Câmara dos Deputados para a entrada da Polícia Federal no caso, familiares das vítimas conseguiram a adesão do conselho federal e da seccional goiana da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Os presidentes nacional, Ophir Cavalcante, e estadual, Henrique Tibúrcio, têm uma audiência com o ministro da Justiça, Tarso Genro, ao meio-dia da próxima terça-feira para tratar do assunto.A solicitação da audiência foi feita por Tibúrcio, que assumiu a OAB-GO em dezembro de 2009. ;A Polícia Civil de Goiás pode até ter condições de resolver o caso, mas o aparato da Polícia Federal pode acelerar o processo e dar uma resposta à sociedade;, justificou. Após o encontro, Tibúrcio promete pressionar o governo estadual sobre a ajuda da PF.
Já os familiares das vítimas farão uma passeata pelo centro de Luziânia amanhã, a partir das 18h30. Eles caminharão dois quilômetros da sede da prefeitura até a Paróquia Nossa Senhora de Aparecida, no bairro do Fumal. Na segunda-feira, voltarão às ruas de Goiânia. A deputada distrital Érika Kokay (PT), vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa do DF, vai acompanhá-los e agendou encontro com o governador goiano, Alcides Rodrigues (PP).
As mães vão pedir para que Rodrigues aceite a participação da PF no caso. Ontem à noite, o governador afastou essa possibilidade, durante evento em Goiânia. ;Quanto mais barulho se faz, pior para a investigação. A Polícia Civil de Goiás é qualificada e já demonstrou isso em diversos casos;, ressaltou.
Sofrimento
A falta de respostas aumenta a angústia das famílias dos seis jovens desaparecidos. A dona de casa Sirlene Gomes, 42 anos, mãe de George Rabelo, 17, se diz esgotada fisicamente (leia depoimento ao lado) e ainda não sabe se terá condições psicológicas para ir a Goiânia. Já a servidora pública Sônia Vieira Azevedo Lima, 45 anos, mãe de Paulo Victor, 16, percorreu os 150 quilômetros que separam Luziânia de Formosa para distribuir cartazes e panfletos com imagens dos jovens.
Ela já fez o mesmo em comunidades rurais nas proximidades de Luziânia. Sônia planeja permanecer em Goiânia até que o governador aceite a ajuda da PF. ;Vou ficar lá no gabinete dele até que assine o pedido. Se não formos atendidas, faremos uma manifestação no meio da BR-040;, alertou.
Além de George e Paulo Victor, estão desaparecidos Diego Rodrigues, 13 anos; Divino Luiz Lopes da Silva, 16; Flávio Augusto dos Santos, 14; e Márcio Luiz Lopes, 19. Apesar de não correr em segredo de Justiça, a apuração não é revelada sequer para as famílias. A justificativa do delegado José Luiz Martins, que está à frente do caso, é que o detalhamento do caso pode atrapalhar as investigações.
Saiba mais
Subordinada ao Ministério da Justiça, a Polícia Federal está apta para atuar em três casos: crimes federais, como, por exemplo, tráfico internacional de drogas ou lavagem de dinheiro público; interestadual (quando as polícias de dois ou mais estados ficam impedidas de agir); e quando há uma requisição do governo estadual ao ministério. Qualquer ação da PF que não seja em uma dessas situações caracteriza-se como interferência federal na autonomia estadual. Por isso, o governo de Goiás está sendo pressionado pelas mães dos desaparecidos de Luziânia para aceitar o pedido feito pela CPI das Crianças e dos Adolescentes Desaparecidos da Câmara dos Deputados para que a Polícia Federal entre no caso. O requerimento foi aprovado no Congresso, na quinta-feira última, e encaminhado ao ministério no mesmo dia.