postado em 07/02/2010 07:59
O mercado imobiliário do Distrito Federal ultrapassou o do Rio de Janeiro e, em 2009, se consolidou como o segundo do país em faturamento e em número de unidades vendidas. Os lançamentos movimentaram R$ 11,7 milhões por dia, um total de R$ 4,3 bilhões no ano. Cerca de 14 mil unidades ganharam o mercado brasiliense. Os números foram divulgados pelo Conselho de Corretores de Imóveis do DF (Creci-DF), com base em levantamento feito entre 10 grandes empresas do setor.Na capital carioca, o faturamento das empresas com a venda de cerca de 13 mil unidades parou em R$ 3,9 bilhões, segundo estimativa da Ademi-RJ. São Paulo lidera o ranking, com uma previsão de 34 mil unidades comercializadas em 2009. O faturamento não foi divulgado, mas o volume do mercado na maior cidade brasileira tende a ser quatro vezes maior do que o do DF. Salvador e Belo Horizonte se revezam no quarto e quinto lugares.
Ao longo do ano passado, o novo cenário era esperado porque Brasília quase não sentiu os efeitos da crise econômica mundial. No Rio, o mercado recuou 20% no primeiro semestre de 2009, em relação ao mesmo período de 2008. Construtoras cancelaram projetos e voltaram atrás na decisão de comprar terrenos, o que afastou investidores. ;A crise obrigou as empresas a pisarem no freio e, com isso, acabamos vendendo menos;, explica o presidente do Creci-RJ, Casimiro Vale.
No DF, as empresas mais cautelosas chegaram a adiar lançamentos, mas não desistiram deles. ;Eu queria estar em Brasília, principalmente em momentos de crise, quando, mesmo assim, as pessoas não deixam de investir;, comenta Paulo Fabbriani, conselheiro da Ademi do Rio de Janeiro e vice-presidente da incorporadora Carvalho Hosken. Ele pondera que a comparação entre as duas cidades é possível apenas no caso de unidades novas. ;O mercado do Rio chega a ser 10 vezes maior se incluirmos o volume de vendas de imóveis usados;, diferencia.
Sem surpresas
Empresários do mercado do DF encaram o segundo lugar como se fosse o primeiro. São Paulo completou 456 anos no mês passado. Brasília faz 50 anos em abril. Os lançamentos em cidades como Samambaia, Gama e Ceilândia, além do fenômeno Noroeste (1), sustentou a expectativa de ultrapassar o Rio em 2009. ;De certa forma, não nos surpreende. O DF tem um mercado de muito volume e muita dinâmica;, diz Fernando Maia, diretor da Brookfield Incorporações no Centro-Oeste. Somente a empresa dele faturou R$ 498,3 milhões com vendas no DF.
Existem cerca de 100 construtoras imobiliárias em atuação na capital federal. Animados com a confirmação dos números de faturamento, os donos das empresas traçam metas agressivas para 2010 e reafirmam que apostar em imóveis continua sendo o melhor negócio da cidade. ;Não é que somos imunes a oscilações, mas passar o Rio de Janeiro em um ano de incertezas é sinal de que estamos blindados;, avalia o presidente da Ademi-DF, Adalberto Valadão, da Soltec Engenharia. Ele acredita que o DF deve se firmar no segundo lugar nos próximos anos.
O mercado de Brasília cresce, historicamente, a uma velocidade maior do que a dos demais centros urbanos. O salto varia entre 15% e 20% ao ano. ;Tomamos a decisão de entrar no mercado de Brasília porque acreditamos no potencial dele. Ver o avanço no volume de vendas é colher os frutos dessa decisão;, afirma Frederico Kessler, diretor da Rossi, empresa paulista que há dois anos se instalou no DF. Para 2010, a empresa prevê seis lançamentos, o dobro do ano passado.
A mudança no ranking deve atrair mais investidores, acreditam os empresários. Em 2009, a valorização dos imóveis no DF foi de 25%, em média. A estimativa é de que cerca de 40% das unidades lançadas foram vendidas para pessoas dispostas a investir. ;Esse segundo lugar mostra o vigor do mercado, o que é bom para as empresas e para os investidores;, comenta Dilton Junqueira, diretor da Brasal Incorporações, que faturou R$ 212 milhões em 2009, 138% a mais que em 2008. Este ano, a meta da empresa é lançar pelo menos quatro empreendimentos.
O Noroeste é um caso à parte. Em agosto do ano passado, a Brasal vendeu 95% das unidades do primeiro prédio lançado no futuro bairro ecológico em três dias. A servidora pública Conceição Azevedo, 59 anos, viu o folder do empreendimento, gostou e decidiu investir em um imóvel de três quartos, no sexto andar, de 127 metros quadrados e duas vagas na garagem. Ela pagou R$ 7,8 mil pelo metro quadrado, que hoje custa R$ 8,2 mil ; valorização de 5% em seis meses. ;Com imóvel, a pessoa nunca perde. O pior que pode acontecer é recuperar o que foi aplicado;, comenta Conceição, que comprou outros dois apartamentos em 2009 para investir.
[SAIBAMAIS]Com a certeza de que fez bom negócio, o servidor público Tiago Luiz Morais de Assis, 25 anos, conta que também apostou no mercado imobiliário. Comprou três apartamentos, mas não encarou o Noroeste, por ora. ;Está muito caro, acho que o retorno pode não ser o que estão esperando;, justifica. Depois de pesquisar preços, o jovem optou por um imóvel em Águas Claras, que deve alugar quando ficar pronto, e dois em Ceilândia. Esses, ele pretende passar adiante antes da entrega da chave e lucrar com a valorização. Em menos de um ano, os imóveis passaram a valer cerca R$ 40 mil a mais, cada um.
1 - Em 2009, foram aprovadas quase 100 projeções no bairro. As empresas lançaram 15 empreendimentos ; para este ano, a previsão é de pelo menos mais 25. O preço do metro quadrado está em R$ 8,2 mil. O tamanho das unidades varia de 90 a 200 metros quadrados. Cerca de 80% do que foi lançado já tem dono.
"Enquanto houver a valorização, o mercado se sustenta. Mas quando começar a pairar uma dúvida sobre isso, os investidores poderão perceber que não mais vale a pena"
Aquiles Rocha de Farias, professor do Ibmec em Brasília