O sargento reformado da Polícia Militar do Distrito Federal João Gabriel de Vasconcelos, 51 anos, encontrado morto no sábado, será enterreado esta manhã, às 10h, na capela 6, no Cemitério Campo da Esperança (916 Sul). O velório teve início às 20h de ontem.
Ele foi vítima de uma emboscada planejada por um conhecido, segundo investigadores do caso. Um adolescente de 16 anos confessou ontem ter atirado no policial.Disse que agiu a mando de Charles Juvêncio da Silva, 20, que conheceu a vítima em julho do ano passado e, desde então, costumava frequentar a casa do policial. Charles e outro jovem, identificado apenas como Wagner, também acusado de participação no crime, continuavam foragidos até o fechamento desta edição. A polícia pediu a prisão temporária deles.
Em depoimento prestado na 19; Delegacia de Polícia, no P Norte, o adolescente contou detalhes do assassinato. Na última sexta-feira, por volta das 22h, Charles teria ligado para o sargento Vasconcelos de dentro de um ônibus e avisou que estava a caminho da casa dele, na QE 42 do Guará II, acompanhado de dois amigos. O PM topou buscar os três, a pé, na parada de ônibus. Quando voltaram à residência, ficaram assistindo filmes. Pouco depois, Douglas Peluzio Melgaço, 35, com quem Vasconcelos morava havia 11 anos, chegou, tomou um copo d;água e foi para a casa de uma irmã, na mesma rua, a pedido do sargento. ;Se eu tivesse ficado, com certeza também teria sido morto;, disse. Em menos de 30 minutos, Douglas voltou e encontrou tudo revirado.
Assim que ele deixou a casa, o trio usou uma camisa molhada com amônia e acetona para fazer o sargento desmaiar. Amarraram os braços dele para trás com uma corda e o amordaçaram com um pano. Em seguida, colocaram vários objetos de valor da casa, como televisão, notebook e aparelho de som, nos dois carros que estavam na garagem ; um Palio, de Douglas, e um Palio Weekend, de propriedade da vítima. O adolescente disse que levaram Vasconcelos porque perceberam que ele havia acordado. ;Mas, ao que tudo indica, tudo foi premeditado;, contrapôs o delegado plantonista da 19; DP Hailton Cunha, responsável pelo caso.
Do Guará, os dois carros seguiram pela BR-070. A primeira parada ocorreu às margens do Rio Descoberto, próximo à Ponte da Jiboia, no Núcleo Rural Boa Esperança, um local de difícil acesso. Vasconcelos, segundo a versão que o adolescente contou à polícia, foi obrigado a deitar-se no chão. Com os braços ainda amarrados para trás, levou um tiro à queima roupa no ouvido. Charles seria o dono do revólver calibre .38 usado no crime. Foi ele quem, segundo a polícia, mandou o adolescente atirar. Após o disparo, o corpo do sargento teria sido lançado de um penhasco de cerca de 5m de altura.
Na madrugada, os três acusados resolveram se desfazer dos dois carros roubados. Era manhã de sábado quando a polícia, avisada do sequestro por Douglas, encontrou o Palio Weekend da vítima carbonizado em uma estrada de terra às margens da DF-280, que liga o DF a Santo Antônio do Descoberto (GO), a 44km de Brasília. Mais tarde, acharam o outro carro com o interior queimado em uma rua da cidade. De acordo com a polícia, os três acusados de participar da morte do sargento moram no município goiano. O corpo foi descoberto perto das 10h por um morador da região.
Festa
Ainda no sábado, policiais militares souberam por denúncias anônimas que um adolescente estava se vangloriando pelas ruas de Santo Antônio do Descoberto por ter matado um sargento da PM. Depois de colher mais informações entre moradores, eles descobriram que uma festa seria realizada à noite para comemorar a morte de Vasconcelos. Na manhã de ontem, policiais militares do DF e de Goiás invadiram a casa onde ocorreu a comemoração, na Vila Maria Aparecida, e se depararam com os objetos roubados na casa da vítima.
Nove pessoas que dormiam no local ; incluindo uma mulher ; foram levadas para a 19; DP. Entre elas, o adolescente que confessou o crime e Diego Cajé da Costa, 20 anos, responsável por guardar os equipamentos. Este responderá por receptação. O adolescente, conhecido da polícia de Goiás, foi levado à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA). As outras sete pessoas acabaram liberadas. Charles, que tem passagem por porte ilegal de arma, e Wagner não estavam na casa no momento da abordagem. A polícia espera prendê-los a qualquer momento e indiciá-los por latrocínio (roubo com morte).
Para o delegado Cunha, o crime está desvendado. ;Charles se aproveitou da confiança do sargento e da convivência com ele para roubá-lo, mas a violência foi gratuita. Ele e os comparsas já tinham levado os objetos, os carros, não tinha motivo aparente para matá-lo;, comentou. O salário da vítima havia sido depositado há poucos dias. O trio, segundo a polícia, sabia disso. Vasconcelos era solteiro e não tinha filhos. Na Polícia Militar do DF , chegou a atuar no Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope).
A vítima
João Gabriel de Vasconcelos
; Tinha 51 anos e aposentou-se como sargento
; Era solteiro e não tinha filhos
; Esteve lotado no Batalhão
de Operações Policiais
Especiais (Bope)