Motorista de uma empresa pública, Fernando Ferreira, 29 anos, enfrenta menos dificuldades. De tanto circular pelo Setor Comercial Sul, ele já fez amizade com a maioria dos lojistas e funcionários de prédios comerciais da área, o que lhe faculta acesso aos sanitários. Mas já precisou buscar soluções alternativas para saciar as vontades. ;Nessas horas, tem que descer correndo para a Rodoviária do Plano Piloto e usar o banheiro de lá, que é cheio e malcheiroso;, ensina. ;Ou comprar um lanche em algum lugar só para poder usar o toilette;, emenda a balconista Gildeci Ramos, 34 anos.
A rotina desses trabalhadores poderia ser diferente se um banheiro público instalado na Quadra 05 do Setor Comercial Sul estivesse funcionando. Mas ele está separado dos usuários por grades, corrente e cadeado. Por dentro, a pequena construção que abriga dois banheiros tem o piso descascado, as paredes sujas e encardidas, azulejos manchados, pichações e fiação aparente. Em um dos banheiros, dos quatro boxes, apenas um estava funcionando. O cheiro era desagradável.
Atualmente, a área funciona como banheiro e depósito exclusivo para funcionários da Novacap responsáveis pela manutenção de canteiros e jardins, e também para atender policiais e bombeiros em serviço na região central. Um policial que preferiu não se identificar afirmou que, como o governo não investe na estrutura, não é mais possível considerar essa obra um banheiro público. ;Se abríssemos o espaço para a comunidade, ficaria pior do que já está;, lamenta.
Portas fechadas
Banheiros fora de uso não são exclusividade da região central da cidade. A W3 Sul já chegou a ter sanitários nas laterais de todas as bancas de revista. Hoje, nenhum deles está aberto ao público. O chaveiro Manoel Alves da Silva, 50 anos, mantém uma loja na avenida há mais de 23 anos. Ele se lembra dos banheiros em uso e bem-cuidados pela Administração de Brasília. ;Funcionavam o dia inteiro, eram bonitos, era coisa de primeira;, relembra. Mas segundo o comerciante, há cerca de 15 anos as portas de todos eles foram fechadas, sem qualquer satisfação à comunidade.
Uma vendedora ambulante que preferiu não se identificar relata que a maioria desses banheiros se transformou em depósito de objetos pessoais e de trabalho de camelôs, lavadores de carros e profissionais autônomos. Mas alguns estão atulhados de lixo. ;Nós mesmos tiramos três caçambas de lixo para ocupar este lugar. Funciona na base do ;quem chegou, toma conta;;, afirma.
A Prefeitura do Setor Comercial Sul afirma que a Administração Regional de Brasília é a responsável pelo gerenciamento dos espaços. Questionada sobre os motivos para o fechamento dos banheiros e soluções para o impasse, a assessoria de imprensa da administração não se manifestou até o fechamento desta edição. A Secretaria do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (Seduma) afirmou que uma nova solução para os sanitários está prevista no projeto de revitalização da W3. Ainda não há, no entanto, prazo para o início das obras.
PROBLEMA PARA IDOSOS
O vice-presidente do Conselho Comunitário da Asa Sul, Artur Benevides, destaca que, de acordo com estudos da Sociedade Brasileira de Geriatria, cerca de 3% dos idosos do Distrito Federal sofreriam de incontinência urinária. ;Revitalizar os banheiros da W3 Sul não é embelezamento, é necessidade;, sustenta. Segundo ele, a comunidade entregou um ofício à Administração de Brasília, reivindicando a reforma. Até agora, não houve manifestação sobre o assunto.
Eu acho...
"Os banheiros da W3 Sul eram ótimos. Tinham zeladora, eram organizados e limpos. Mas isso tem mais de 15 anos. Agora, se dá vontade, seguro até chegar ao serviço."
Arnaldo Nogueira, 51 anos, militar reformado
Arnaldo Nogueira, 51 anos, militar reformado