postado em 09/02/2010 08:45
Quem circula pela região central de Brasília e sente vontade de ir ao banheiro precisa ser estratégico. O mais comum é contar com a solidariedade de comerciantes dos arredores e recorrer às lojas e prédios, já que não existem banheiros públicos em funcionamento. Mas há quem desista de viver no improviso e passe a controlar a bexiga. Quiosqueira no Setor Comercial Sul, Antônia Duarte, 46 anos, afirma que só vai ao banheiro quando está em casa, já que não encontra outra opção. Isso significa que ela só usa o banheiro antes de 8h e depois de 18h. ;Sempre que alguém me pergunta por banheiro, digo para tentar as lanchonetes;, resigna-se. Diariamente, entre 80 e 100 mil pessoas circulam pela região.Motorista de uma empresa pública, Fernando Ferreira, 29 anos, enfrenta menos dificuldades. De tanto circular pelo Setor Comercial Sul, ele já fez amizade com a maioria dos lojistas e funcionários de prédios comerciais da área, o que lhe faculta acesso aos sanitários. Mas já precisou buscar soluções alternativas para saciar as vontades. ;Nessas horas, tem que descer correndo para a Rodoviária do Plano Piloto e usar o banheiro de lá, que é cheio e malcheiroso;, ensina. ;Ou comprar um lanche em algum lugar só para poder usar o toilette;, emenda a balconista Gildeci Ramos, 34 anos.
A rotina desses trabalhadores poderia ser diferente se um banheiro público instalado na Quadra 05 do Setor Comercial Sul estivesse funcionando. Mas ele está separado dos usuários por grades, corrente e cadeado. Por dentro, a pequena construção que abriga dois banheiros tem o piso descascado, as paredes sujas e encardidas, azulejos manchados, pichações e fiação aparente. Em um dos banheiros, dos quatro boxes, apenas um estava funcionando. O cheiro era desagradável.
Atualmente, a área funciona como banheiro e depósito exclusivo para funcionários da Novacap responsáveis pela manutenção de canteiros e jardins, e também para atender policiais e bombeiros em serviço na região central. Um policial que preferiu não se identificar afirmou que, como o governo não investe na estrutura, não é mais possível considerar essa obra um banheiro público. ;Se abríssemos o espaço para a comunidade, ficaria pior do que já está;, lamenta.
Portas fechadas
Banheiros fora de uso não são exclusividade da região central da cidade. A W3 Sul já chegou a ter sanitários nas laterais de todas as bancas de revista. Hoje, nenhum deles está aberto ao público. O chaveiro Manoel Alves da Silva, 50 anos, mantém uma loja na avenida há mais de 23 anos. Ele se lembra dos banheiros em uso e bem-cuidados pela Administração de Brasília. ;Funcionavam o dia inteiro, eram bonitos, era coisa de primeira;, relembra. Mas segundo o comerciante, há cerca de 15 anos as portas de todos eles foram fechadas, sem qualquer satisfação à comunidade.
Uma vendedora ambulante que preferiu não se identificar relata que a maioria desses banheiros se transformou em depósito de objetos pessoais e de trabalho de camelôs, lavadores de carros e profissionais autônomos. Mas alguns estão atulhados de lixo. ;Nós mesmos tiramos três caçambas de lixo para ocupar este lugar. Funciona na base do ;quem chegou, toma conta;;, afirma.
A Prefeitura do Setor Comercial Sul afirma que a Administração Regional de Brasília é a responsável pelo gerenciamento dos espaços. Questionada sobre os motivos para o fechamento dos banheiros e soluções para o impasse, a assessoria de imprensa da administração não se manifestou até o fechamento desta edição. A Secretaria do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (Seduma) afirmou que uma nova solução para os sanitários está prevista no projeto de revitalização da W3. Ainda não há, no entanto, prazo para o início das obras.
PROBLEMA PARA IDOSOS
O vice-presidente do Conselho Comunitário da Asa Sul, Artur Benevides, destaca que, de acordo com estudos da Sociedade Brasileira de Geriatria, cerca de 3% dos idosos do Distrito Federal sofreriam de incontinência urinária. ;Revitalizar os banheiros da W3 Sul não é embelezamento, é necessidade;, sustenta. Segundo ele, a comunidade entregou um ofício à Administração de Brasília, reivindicando a reforma. Até agora, não houve manifestação sobre o assunto.
Eu acho...
"Os banheiros da W3 Sul eram ótimos. Tinham zeladora, eram organizados e limpos. Mas isso tem mais de 15 anos. Agora, se dá vontade, seguro até chegar ao serviço."
Arnaldo Nogueira, 51 anos, militar reformado
Arnaldo Nogueira, 51 anos, militar reformado