Cidades

Gás de cozinha, o vilão de 2009

postado em 09/02/2010 08:58
Os preços das tarifas de bens e serviços públicos, como abastecimento de água, energia elétrica, telefonia, distribuição de gás e afins pesaram no bolso do brasiliense em 2009. É o que revela a pesquisa divulgada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a primeira do tipo realizada pela entidade. Os moradores do Distrito Federal, única unidade da Federação onde o estudo é aplicado por enquanto, pagaram, no ano passado, R$ 433,03 por uma cesta de serviços tomados em conta pelo Dieese, 3,88% a mais do que em 2008. O vilão da alta foi o gás de cozinha, que aumentou 19,33% entre dezembro de 2008 e igual mês de 2009. As tarifas do transporte permaneceram estáveis no período, e as de telefonia tiveram um aumento menor. Ambas seguraram a inflação dos bens e serviços públicos na capital federal.

Além do gás de cozinha, tiveram alta energia elétrica (6,61%); água e esgoto (6,27%); álcool combustível (4,81%); gasolina (2,65%); e telefonia fixa (0,97%). O custo de 57 passagens de ônibus, quantitativo utilizado pelo Dieese para medição na pesquisa, era R$ 114,02 em dezembro de 2008 e seguiu exatamente o mesmo em igual período do ano passado.

De acordo com Clóvis Scherer, supervisor do escritório do Dieese no Distrito Federal, o fato de o aumento ter atingido quase todos os itens pesquisados pode ser associado a uma tendência de alta em combustíveis e seus derivados. ;O mercado puxou para cima os combustíveis. A alta das tarifas só não foi maior devido à telefonia e ao transporte público. Esse último serviço depende do preço do combustível, mas ficou com os valores congelados por razões ligadas à política do governo local;, analisa Scherer.

Ele disse, no entanto, que, apesar de generalizada e acentuada para alguns bens e serviços, a alta ficou abaixo da inflação de 2009. ;A inflação do ano ficou em torno de 4% segundo a maioria dos índices;, ponderou.

Setor em alta
Para José Matias Pereira, professor de finanças públicas da Universidade de Brasília, o custo inflado dos bens e serviços do setor energético tem relação com um cenário de demanda em alta em nível internacional. ;O gás brasileiro passou por questões de compra no setor externo que impactaram na inflação. Se a demanda externa está forte e os preços crescem, o mercado interno e o consumidor comum são atingidos;, diz Pereira.

O especialista disse que, ainda que o Brasil esteja descobrindo jazidas de gás e petróleo e investindo em novas matrizes energéticas, essas são políticas que envolvem custos altos e têm retorno a médio ou a xlongo prazo. Portanto, não resultarão em preços mais baixos com a rapidez que os consumidores desejariam.

De acordo com o professor, o transporte público e a gasolina na bomba são exemplos de áreas sensíveis à pressão da popular. ;O governo responde com ações como a de redução da Cide (Contribuição de Intervenção sobre Domínio Econômico, incidente sobre combustíveis e derivados) para reduzir o impacto dos aumentos no bolso do consumidor. Mas isso contraria a tendência do setor, que está em alta;, completa.

Reclamações
A empresária Cláudia Marques Carneiro Fraga, 44 anos, comanda uma representação da Supergasbrás no Cruzeiro Novo. Ela conta que as reclamações dos clientes são constantes em relação ao preço do botijão de gás, que hoje custa R$ 44 na porta da revenda e R$ 45 para entrega.

;No início de 2008, saía a R$ 41, e conseguíamos dar um desconto de R$ 3,50 para quem viesse comprar aqui. Com a alta que recebemos da engarrafadora, tivemos que encolher o desconto para R$ 1 e com isso praticamente sumiram os clientes que vinham buscar o gás. Eles optam pela entrega, o que aumenta nossos custos com veículos e gasolina;, diz a empresária. Segundo ela, os franqueados não têm autonomia para fixar preços. ;Só fazemos os reajustes autorizados pela ANP (Agência Nacional de Petróleo). Então, se crescem nossos custos, se aumentam impostos, não podemos fazer nada;, queixa-se.

Cesta básica 3,49% menor
No primeiro mês de vigência do reajuste de 9,68% do salário mínimo, que subiu para R$ 510, sobrou mais dinheiros no bolso do trabalhador nessa faixa de renda. A pesquisa de custo da cesta básica divulgada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), relativa a janeiro, revelou que os 13 itens que compõem a cesta custaram o equivalente a 45,71% do novo valor do salário. Trata-se da menor oneração desde 1985, quando o Dieese começou a fazer a pesquisa. O Dieese atribui essa queda relativa ao reajuste acima da inflação concedido ao mínimo, que garantiu aumento real no poder de compra do trabalhador, e aos preços baixos dos alimentos da cesta. A média de preço dos itens pesquisados caiu 3,49% entre o mês passado e dezembro de 2009. O recuo foi puxado pela redução dos preços do tomate (-26,02%), banana (-7,43%), manteiga (-6,63%), leite (-4,52%) e farinha de trigo (-2,82%). O valor total da cesta diminuiu R$ 7,75 no período e ficou em R$ 214,47.Nos últimos 12 meses, o custo da cesta caiu 8,58%. Favoreceram esse recuo o feijão (-35,09%), o tomate (-34,53%), a farinha de trigo (-11,91%) e a carne (-10,82%).

No mês passado, Brasília ficou em segundo lugar dentre as capitais em que os preços mais caíram, atrás apenas de Belo Horizonte. Na capital mineira, a inflação da cesta básica diminuiu 3,87%. Ao todo, o Dieese realiza a pesquisa em 17 capitais. Em 10 delas, o custo da cesta aumentou. Goiânia (alta de 4,71%) e Salvador (1,43%) encabeçaram essa lista.

Para José Matias Pereira, professor de finanças públicas da Universidade de Brasília, o aumento do salário mínimo foi benéfico. Mas as políticas de controle da inflação, mais do que o novo mínimo, garantiram uma cesta barata em Brasília e em outras capitais onde os preços baixaram. ;O salário (mínimo] cresceu e isso foi importante, mas ainda não temos um aumento real substancial;, disse.

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