postado em 10/02/2010 08:38
>>Samanta Sallum>>Luísa Medeiros
>>Adriana Bernardes
Os três envolvidos na denúncia de arapongagem na Câmara Legislativa afirmam, em depoimento, que o serviço de bisbilhotagem política deveria atender o governador José Roberto Arruda. Os dois policiais goianos presos na semana passada revelaram que o contratante direto ; que seria Francisco do Nascimento Monteiro ; se apresentava como assessor de Arruda. Ele teria a missão de arregimentar espiões e peritos que pudessem atestar que os vídeos incriminando o governador e a base aliada teriam sido montados ou fraudados. As imagens foram gravadas por Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais do GDF, e detonaram a crise na política local.
O Correio apurou que, segundo o depoimento, o trio havia sido contratado para vários serviços de ;inteligência;. O valor combinado no primeiro momento foi de R$ 40 mil. Desses, R$ 15 mil pagos em espécie e R$ 20 mil com um cheque sem fundo. A bolada total poderia chegar a R$ 300 mil.
Por também terem conhecimento em perícia, foi encomendada à dupla a avaliação das imagens, que deveriam ser atestadas como falsas ou verdadeiras, o que não fica claro no depoimento. As declarações sugerem a produção de laudos adulterados. Os arapongas receberam em pendrive todos os vídeos que fazem parte da Operação Caixa de Pandora.
Um quarto personagem apareceu na história. O presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Goiás, Silveira Alves de Moura, apontado como intermediário na contratação dos arapongas. Ele prestou depoimento ontem à Polícia Civil do DF. Surpreendemente, o irmão de Silveira, Luis Franklin de Moura, trabalha no gabinete do deputado Paulo Tadeu (PT). Moura disse ao Correio que não tem ;relação política alguma com o irmão;. Paulo Tadeu saiu em defesa de seu funcionário: ;Meu assessor não pode ser responsabilizado por qualquer ato do irmão dele. Todos os envolvidos devem ser punidos;.
A teia que envolve Francisco Monteiro se estende a diversos políticos, passando por Benedito Domingos e Eliana Pedrosa. Ele trabalhou como segurança no gabinete da distrital até 22 de janeiro. O comportamento suspeito de Monteiro motivou sua saída. ;Ele ligava para os assessores querendo saber onde estavam;, disse Eliana. A última passagem de Monteiro pela Casa foi no gabinete de Benedito Domingos, onde também seria segurança. A nomeação saiu na última quarta-feira, dia em que os policiais goianos foram detidos pela tentativa do suposto grampo na Câmara.
Em depoimento, os agentes falaram que agiam a mando de Francisco Nascimento Monteiro. Segundo a versão apresentada ontem por Benedito Domingos, Francisco teria contratado por R$ 40 mil os serviços da empresa de segurança privada dos dois policias. A intenção: instalar câmeras numa creche de São Sebastião. O cheque teria sido recusado no banco e, por isso, os goianos foram à Câmara cobrar o dinheiro. Perguntado se a contratação de Monteiro tinha a ver com o governador, o distrital rebateu: ;O governador não manda no meu gabinete. Eu que indiquei ele;. Benedito Domingos afirmou que o segurança parlamentar já foi exonerado.
Perícia
Um laptop está sendo periciado e a polícia aguarda o laudo que pode trazer informações para elucidar que tipo de informação os policiais-arapongas estariam coletando. As polícias de Goiás do DF mantêm como confidencial o conteúdo dos depoimentos. Mas consta que os dois agentes civis disseram que Francisco contava com detalhes o que Arruda precisava para amenizar a crise no GDF.
Os depoimentos são avaliados com suspeição, já que são policiais têm experiência em contrainformação. Foram apreendidos com eles microcâmeras e transmissores de áudio para linha telefônica. A assessoria de imprensa do GDF negou qualquer envolvimento com a suposta espionagem.
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) também investiga o suposto grampo ilegal na Câmara Legislativa. Segundo o procurador-geral de Justiça, Leonardo Bandarra, o procedimento foi aberto no dia em que dois policiais de Goiás foram detidos. ;Vamos agir com o rigor que tem pautado a atuação do MP;, resumiu. A garantia de que o MP já apura as denúncias de grampo ilegal foi dada em reunião na tarde de ontem a uma comissão de cinco deputados distritais da oposição.
[SAIBAMAIS]O grupo de parlamentares entregou um ofício no qual relata as denúncias de escuta clandestina e pede ao MP que apure o caso para evitar o que classificaram de ;operação abafa; da polícia. ;Desde quinta-feira tentamos obter informações com a Polícia Civil e eles passaram a maior parte do tempo negando tudo;, destacou o líder do PT na Câmara, Paulo Tadeu.