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Tráfico mata mais na Estrutural

Em 2009, a 8ª DP registrou 36 homicídios na cidade onde houve uma chacina essa semana, contra 25, em 2008. Maioria é relacionada às drogas

postado em 10/02/2010 09:09
Policiais civis fizeram operação ontem, um dia após a chacina, para combater a ação de traficantes na Estrutural: jovens foram revistadosAs drogas estão matando cada vez mais na Estrutural. Dados da 8; Delegacia de Polícia (SIA), aos quais o Correio teve acesso, mostram que 70% dos 36 homicídios registrados na cidade, em 2009, tinham relação direta com entorpecentes. No ano anterior, 25 pessoas foram assassinadas na região, sendo que 60% dos casos tiveram as drogas como pano de fundo. Impedir a atuação de traficantes num dos lugares mais carentes do Distrito Federal não é uma tarefa fácil. Somente no ano passado, agentes da 8; DP, que é responsável pela área, desmontaram 17 pontos de venda de entorpecentes (veja quadro). Mesmo assim, ainda existem outros 30 em investigação.

O Correio acompanhou uma operação da Polícia Civil na tarde de ontem e constatou que não é preciso ir muito longe para encontrar bocas de fumo abertas em plena luz do dia. Alguns estabelecimentos funcionam apenas de fachada. É o que o ocorre na Quadra 17, onde uma mulher atende os usuários que a procuram num bar. Do outro lado da rua esburacada fica a Quadra 12, considerada a mais problemática, onde a Polícia Civil desarticulou cinco pontos de tráfico em 2009.

Entre as ruas estreitas da Quadra, muitos assassinatos foram vistos pelos moradores. ;Só nessa rua foram dois;, aponta um homem, que, apesar da afirmação, diz não querer conversar com a reportagem. A alguns metros dali, um crime bárbaro ocorreu na última segunda-feira. Quatro jovens foram assassinados em uma quitinete no Conjunto B da Quadra 4 e um outro na Quadra 6, que fica em frente. Segundo a delegada-chefe da 8; DP, Déborah Menezes, na quitinete, funcionava um grande ponto de comércio de crack (suproduto da cocaína) e maconha, que já estava na mira dos investigadores. ;Nós tínhamos uma investigação em curso de que ali funcionava um grande ponto de droga. Estávamos reunindo elementos para prender todos os envolvidos em flagrante. Dependemos muito da comunidade para acabar com esses pontos;, ressaltou Déborah.

Esquinas
Quem não quer ter a casa invadida pela polícia escolhe as esquinas para anunciar drogas de todos os tipos. A Rua Edir Macedo, localizada entre as Quadras 4 e 6, é uma das mais movimentadas da antiga invasão. Crianças brincando e ambulantes anunciando seus produtos em barracas improvisadas são cenas comuns no lugar. Porém, quem mora na comunidade procura não encarar as esquinas que dividem os conjuntos. É nelas que se concentram os grupos de traficantes, que chegam a ficar ali por até 15 horas esperando por viciados.

Eles se reúnem geralmente em grupos pequenos, de no máximo cinco pessoas. Toda a operação é feita de forma discreta, para não chamar a atenção da polícia. Mais afastados dos grupos, jovens atentos de bicicleta observam as entradas das ruas. A qualquer sinal de viatura, eles saem em disparada para dar a notícia ao bando, que logo se dispersa. Um agente da Seção de Investigação de Crimes Violentos (Sic-vio) da 8; DP revela que os traficantes chegaram a usar rádios para se comunicar com os olheiros há dois anos. ;Apreendemos cinco rádios numa operação. Agora acho que eles desistiram e estão usando a bicicleta. Quando você entra aqui e vê alguém pedalando muito rápido é porque vai avisar que estamos chegando;, contou o policial, que preferiu não se identificar.

Uma moradora destaca que a venda de drogas é do conhecimento de toda a cidade, mas que são poucos os que ousam a denunciar. ;Todo mundo sabe que aqui na (Quadra) 12 tem muita droga e muita gente morre por conta disso. Mas você acha que alguém vai ser besta de caguetar? É lógico que não. Ninguém quer morrer de graça. Eles não mexem com a gente e a gente finge que eles não existem;, relata a mulher, que diz saber de vários assassinatos ocorridos na Estrutural. ;Sei, mas a gente diz que não sabe;, completa.

Sob efeito de rohypnol
A Polícia Civil não tem mais dúvidas de que Bruno Viana Neris, 19 anos, matou os cinco jovens na madrugada da última segunda-feira sozinho. O crime ocorreu na Área Especial 4, Conjunto B da Cidade Estrutural. Em depoimento à polícia, ele contou que, antes de iniciar a chacina, ingeriu vários comprimidos de rohypnol, remédio antidepressivo usado como entorpecente.

Ontem, o pai do acusado foi à 8; Delegacia de Polícia, que investiga o caso. A intenção dele era conversar com os policiais para ajudá-los a localizar a arma que o filho utilizou para assassinar Alexandro Alves Moreira, 23 anos; Douglas Alves Moreira, 16; Josélia Miranda, 24; Patrícia Hellen Alves Bezerra, 17; e Thaís Cíntia Gomes Franco, 18. Alexandro foi morto na Quadra 6 e os outros quatro numa quitinete da quadra em frente. Bruno contou que pegou a arma emprestada de um amigo para cometer os assassinatos, mas se negou revelar a identidade dele.

Ficha suja
Segundo a polícia, todos os envolvidos na tragédia, tanto vítimas como o suposto autor, tinham antecedentes criminais. Bruno, por exemplo, tem em sua ficha dois assaltos, uma receptação e um homicídio. As vítimas, de acordo com a 8; DP, tinham envolvimento com tráfico e consumo de drogas. Bruno contou aos investigadores que matou os cinco porque queria vingar o assassinato de um amigo, de 16 anos. Todas as vítimas foram executadas a tiros. (SA)

Ação policial
Veja os locais onde bocas de fumo foram ;estouradas; pelos policiais em 2009 na Estrutural:
Quadra 12 - 5
Quadra 4 - 5
Quadra 17 - 3
Quadra 8 - 3
Quadra 15 - 1
Total - 17

Fonte: 8; Delegacia de Polícia (SIA)

Denuncie
Quem tiver alguma informação sobre pontos de vendas de drogas na Estrutural pode ligar para o telefone 197. Não é preciso se identificar.

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