Ana Maria Campos
postado em 11/02/2010 08:00
Orbita ao redor do homem considerado a principal testemunha do inquérito contra o governador José Roberto Arruda, o jornalista Edson Sombra, uma rede de deputados, advogados e personalidades que transitam entre grupos políticos de diferentes correntes. Mentor da delação premiada do ex-secretário de Relações Institucionais do DF Durval Barbosa, Sombra é o cabeça das denúncias que culminaram na crise que abalou o Executivo e o Legislativo no Distrito Federal. Mas ele não age sozinho.
Num dos vídeos gravados pelo próprio jornalista durante suposta negociação com o consultor do Metrô-DF Antônio Bento, preso na semana passada pela Polícia Federal (PF) por suposta tentativa de suborno, o próprio Sombra cita quem são algumas das pessoas de sua relação. No momento em que Bento tratava de detalhes de um suposto acordo oferecido pelo governador José Roberto Arruda, Sombra recebia em sua casa a deputada distrital Eliana Pedrosa (DEM), o advogado Eri Varela e o delegado Mauro Cézar Lima, presidente do Sindicato dos Delegados da Polícia Civil do DF (Sindepo-DF) - casado com a promotora Maria Rosynete Lima, uma das autoras da ação civil pública que pediu o afastamento dos oito deputados distritais investigados na Operação Caixa de Pandora.
Sombra contou a várias pessoas que estava sendo assediado para ajudar a atenuar a crise do governo Arruda. Ele chegou a mostrar o bilhete com a letra de Arruda que recebeu do ex-deputado distrital Geraldo Naves (DEM) a autoridades que estiveram em sua casa, como o deputado distrital Alírio Neto (PPS), que deixou o governo no fim do ano passado após o início do escândalo. Sombra relatou o ocorrido em depoimento à PF depois do flagrante em que Bento foi preso num restaurante do Sudoeste.
Embora fosse considerado um aliado de Arruda, Alírio manteve a discrição sobre o bilhete que esquentou a crise no governo. Por causa da denúncia de suborno, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pediu nesta semana providência ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para o afastamento ou até mesmo a prisão preventiva do governador.
Impeachment
Eliana Pedrosa ocupava uma das principais áreas no governo, a Secretaria de Desenvolvimento Social. Depois do escândalo, afastou-se do Executivo e hoje é considerada uma pessoa próxima de Sombra. Embora seu nome seja contabilizado como integrante da base de sustentação do governo, a distrital não é do grupo de confiança de Arruda. Eliana chegou a cogitar entrar na disputa pela presidência da Câmara Legislativa. Nessa empreitada, ela tinha, inclusive, o apoio de Alírio. Mas foi derrotada pelos demais deputados fiéis ao governador. No GDF, havia uma avaliação de que Eliana facilitaria o andamento dos processos de impeachment contra Arruda.
No início da semana, Eliana Pedrosa denunciou em plenário que está sendo alvo de arapongagens e teria sido seguida por uma pessoa que conduzia carro com chapa fria. A distrital acha que a investida partiu de pessoas ligadas a Arruda, para intimidá-la. Eliana disse a algumas pessoas desconfiar que Francisco Monteiro, que durante um período exerceu cargo em seu gabinete, atuou como espião. Monteiro é investigado pela Polícia Civil como um dos responsáveis pelo suposto grampo ilegal na Câmara. De 22 de janeiro a 8 de fevereiro, ele esteve lotado na Secretaria de Relações Institucionais do GDF. Em seguida, foi nomeado no gabinete do deputado Benedito Domingos (PP), um dos investigados na Operação Caixa de Pandora.
Quem é quem
Eliana Pedrosa
Deputada distrital eleita pelo DEM, atuou como secretária de Desenvolvimento Social até o início da crise deflagrada pela Operação Caixa de Pandora. Eliana sempre
teve uma relação difícil com o governador José Roberto Arruda, apesar de ocupar cargo no Executivo. Ela nunca foi considerada uma aliada confiável de Arruda. Os dois tiveram atrito em pelo menos dois momentos: quando Eliana tentou ser presidente da Câmara em 2007 e quando pleiteou uma vaga no Tribunal
de Contas do DF.
Eri Varela
O advogado e conselheiro do ex-governador Joaquim Roriz sempre participou dos bastidores políticos no DF. Foi candidato pelo PMDB a uma vaga de deputado federal, mas não se elegeu. Antes disso, presidiu a Terracap - defendia licitação de terrenos públicos em condomínios. Foi pivô de uma crise na campanha de 2002, quando denunciou à Polícia e ao Ministério Público a suposta iniciativa do então candidato a deputado distrital Pedro Passos na constituição de um condomínio irregular entre as QIs 27 e 29, do Lago Sul.
Mauro Cézar Lima
Delegado da Polícia Civil do DF, Mauro Cézar é presidente do sindicato que representa a classe, o Sindepo. Filiado ao PTdoB, é um grande aliado do deputado federal Laerte Bessa (PSC) e do ex-governador Joaquim Roriz. Deverá disputar eleição para deputado distrital. É casado com a promotora de Justiça Maria Rosynete Lima, uma das autoras da ação civil pública que resultou no afastamento dos oito deputados distritais investigados na Operação Caixa
de Pandora.
Diálogo
Trechos de um dos vídeos gravados por Edson Sombra, no qual Antônio Bento detalha suposta proposta de acordo para favorecer Arruda. Na conversa, três autoridades são citadas:
Sombra - Como é que será feito isso? Ele manda você trazer o dinheiro?
Bento - Inaudível
Sombra - Essa carta não sai daqui, velho. Vai-te embora e diz pra ele - quem tá aqui: Eliana, Eri, Mauro Cézar e chegando gente lá na casa dele.
Bento - Então faz o seguinte: você me dá uma carta. Eu vou falar para ele: inaudível
Sombra - Não dou.
Bento - Você não confia em mim?
Sombra - Não dou. Eu sei o que esse cara tá armando. Não dou. Você é doido, rapaz? Tô te falando. Como é que você, que é um cara de confiança dele, ele não te entrega o que ele tem que entrengar